Mudanças impostas à força no Brasil
sempre resultaram em grandes desastres. O exemplo mais recente foi o
golpe civil-militar de 1964, que prendeu, exilou, perseguiu e torturou
brasileiros, sem amparo em regras legais. Ao contrário disso, o Brasil
avança quando maiorias são construídas nos marcos do Estado de Direito,
mediante diálogos e consensos progressivos, sem rasgar regras
constitucionais.
Rasgar princípios e regras, a pretexto
de uma luta política momentânea, abre as portas para jogar-nos novamente
no imprevisível. A pretendida solução de um impeachment sem base
constitucional não seria um ponto final, mas o marco zero de um longo
ciclo de vinganças, retaliações e violência política, que arrastaria a
economia para uma depressão ainda maior.
Seria um caso único no presidencialismo
no Planeta: um Chefe do Poder Executivo ser afastado sem ter
pessoalmente cometido qualquer crime no curso do mandato; e afastado sob
a liderança de políticos que, eles sim, respondem a processos
criminais. Nem Kafka, nem Marx, nem Hegel escreveriam um roteiro tão
“criativo”.
Chegamos na beira do precipício com uma
gravíssima crise política. Recentes ações atabalhoadas de alguns
promotores são sintomas institucionais de preocupante descontrole geral,
em que tudo pode acontecer. Não teremos um “vencedor” nesta guerra. É
preciso que todos os lados envolvidos sentem-se para dialogar tendo à
mesa o futuro do país.
Do lado da oposição, é preciso entender
que, por maior que seja a ânsia de retornar ao poder, o momento marcado
na Constituição para esse debate será outubro de 2018. Do lado do
governo, é preciso apresentar uma agenda clara de retomada do
crescimento econômico, que supere a crise que vivemos com conseqüências
alarmantes para o emprego e qualidade de vida de milhões de brasileiros.
Essas soluções não passam por um “ajuste fiscal” que consome metade dos
recursos da União com pagamento de juros. É preciso reduzir os juros e
retomar programas de crédito direcionado, como o “Minha Casa Minha
Vida”.
Fora do mundo político, é preciso que as
elites econômicas também assumam a responsabilidade sobre o clima de
beligerância criado. Atualmente, a crise só tem servido a bancos, que em
meio a uma queda de 3,8% do PIB viram seus lucros crescer 15% chegando à
somatória de quase R$ 50 bilhões em lucro – apenas considerando as três
maiores empresas privadas do setor. São os seus interesses de
manutenção dos juros altos que levam à crise recessiva. Com a recessão
instalada, os bancos defendem que é preciso aumentar juros para atender
ao “mercado”, mantendo o círculo vicioso. Ou seja, querem um Brasil em
que somente 1% da população ganha, passando por cima dos interesses e
direitos dos demais 99%.
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