Convidado
da CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas) de Uruguaiana, Mourão prometeu, a
uma plateia composta por empresários e representantes de associações e
sindicatos patronais, a realização de reformas tributária e trabalhista
em um eventual governo Bolsonaro. O capitão da reserva lidera as últimas
pesquisas de intenção de votos à Presidência.
Ao se
referir especificamente à reforma trabalhista pretendida, Mourão
classificou como "jabuticabas" direitos trabalhistas que acabam
onerando, segundo ele, os patrões, e elencou entre elas o 13º salario
--garantido pela CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas), em legislação
de 1943.
Temos
algumas jabuticabas que a gente sabe que é uma mochila nas costas de
todo empresário. Jabuticabas brasileiras: 13º salário. Se a gente
arrecada 12, como é que nós pagamos 13 [salários]?
Hamilton Mourão (PRTB), candidato a vice-presidente
"É
complicado, e é o único lugar em que a pessoa entra em férias e ganha
mais, é aqui no Brasil. São coisas nossas, a legislação que está aí, é
sempre aquela visão dita social, mas com o chapéu dos outros, não é com o
chapéu do governo", continuou.
No
Twitter, Bolsonaro se manifestou sobre a fala do vice. "O 13° salário do
trabalhador está previsto no art. 7° da Constituição em capítulo das
cláusulas pétreas (não passível de ser suprimido sequer por proposta de
emenda à Constituição). Criticá-lo, além de uma ofensa à quem trabalha
[sic], confessa desconhecer a Constituição", escreveu.
A
reportagem tentou entrar em contato com Mourão, mas ele não atendeu as
ligações. Adversários de campanha como Geraldo Alckmin (PSDB) e
Guilherme Boulos (PSOL) criticaram a declaração (leia abaixo).
Em seu
discurso, o vice de Bolsonaro defendeu a realização das duas reformas
como forma de "priorizar gastos" e citou o responsável pelo programa
econômico da campanha, Paulo Guedes.
"Ele
vem falando há oito meses no mercado... surgiu aquela história da CPMF.
Vamos lembrar que é um imposto que anda em cascata, ela vai tributando
em cascata. Agora, para que ocorra algum tipo de imposto dessa natureza,
os outros [impostos] têm que ser baixados. Temos hoje em torno de R$
192 bilhões de desonerações, ou seja, o pessoal que não paga imposto",
reclamou Mourão.
Na
avaliação do general, "teremos que paulatinamente ir organizando isso [o
fim da desoneração], não pode ser cortado da noite para o dia". Ele
mencionou fechamento de "25 mil indústrias" e tributaristas "como o
professor Marcos Cintra, gente que entende do assunto", que estão,
segundo ele, "trabalhando no assunto".
"A filosofia é uma só: temos que colocar todo mundo na base, todo mundo pagando, tem muita gente que não paga", disse.
Sobre a
reforma trabalhista, Mourão também fez questão de criticar o peso do
imposto sindical "em cima da atividade produtiva". "É o maior custo que
existe", classificou. A obrigatoriedade de recolhimento do imposto,
entretanto, foi derrubada pelo governo de Michel Temer (MDB) no final do
ano passado.
Declarações polêmicas do general
Bolsonaro
está fora das agendas de rua da campanha desde o ataque a faca sofrido
durante um ato eleitoral em Juiz de Fora (MG) no último dia 6.
Em
agosto, em seu primeiro evento público como candidato, Mourão declarara
que o "caldinho cultural" do Brasil inclui a "indolência" dos povos
indígenas e a "malandragem" dos negros africanos. A posição foi
expressada em evento na Câmara de Indústria e Comércio de Caxias do Sul
(RS).
Na
mesma ocasião, se referiu a famílias pobres "onde não há pai e avô, mas,
sim, mãe e avó", por exemplo, como "fábricas de desajustados" que
fornecem mão de obra ao narcotráfico.
Assim
como a posição a respeito de benefícios trabalhistas, ele também falara
sobre o assunto em palestra a empresários, ao traçar um paralelo entre
formação da família e ação de bandidos em áreas carentes.
Sobre
isso, explicou depois aos companheiros de campanha que a fala sobre mães
e avós se referia a uma situação em que um homem larga sua mulher e
filhos e a mulher acaba forçada a trabalhar mais horas longe de casa
para sustentar a família -- de modo que os filhos ficariam expostos a
más influências.
No
começo deste mês, após o ataque contra Bolsonaro em MG, o militar da
reserva voltou a ganhar notoriedade ao cogitar uma intervenção militar
em caso de "anarquia". Nesse contexto, defendeu uma nova Constituinte
sem participação popular feita por um "conselho de notáveis" e só
então submetida a plebiscito.