Ao longo da campanha, Luiz Inácio Lula da Silva evitou antecipar quais nomes pretende levar para compor o seu novo governo, mas revelou a intenção de aumentar em até 40% o número de ministérios. Serão ao menos mais nove pastas além das atuais 23.
O novo formato possibilitará ao petista acomodar aliados dos dez partidos da coligação e novas legendas que devem ser agregadas durante a formação do governo. Lula deu algumas dicas de quem poderá levar para sua equipe. Para comandar a economia, por exemplo, afirmou que pretende colocar um político com conhecimento técnico. Os nomes para ocupar os postos-chave da administração, porém, continuam em aberto.
Lula já indicou que recriará ministérios como os do Planejamento, Fazenda e Pequenas Empresas (fundidas pela Economia); Igualdade Racial, Direitos Humanos e Mulher (também unificados no governo Bolsonaro); Previdência Social, Segurança Pública e Povos Originários (área hoje subordinada à Justiça), além de Pesca (hoje anexada à Agricultura) e Cultura (que passou a integrar a estrutura do Turismo).
É consenso que o terceiro governo de Lula terá uma participação menor de representantes do PT em relação às gestões de 2003 e 2007, em virtude da formação de um leque mais amplo de alianças. Também haverá necessidade de abrir mais espaço para mulheres, apesar de o candidato ter evitado se comprometer com um governo paritário, e para negros.
Embora o presidente eleito não tenha anunciado nomes, as relações e tarefas delegadas por Lula ao longo do período eleitoral permitem que seja elaborada uma lista de cotados para formar o primeiro escalão do novo governo.
Nomes de confiança como Alexandre Padilha, Fernando Haddad, Wellington Dias, e Flavio Dino, além de aliados mais recentes, mas essenciais para a campanha, como Simone Tebet e Marina Silva, têm lugares praticamente assegurados no primeiro escalão.
O nome de Alexandre Padilha na Fazenda vem aparecendo mais recentemente porque o deputado tem sido presença constante em jantares e almoços com empresários e representantes do mercado financeiro para falar das propostas de Lula. Esse mesmo papel já foi feito algumas vezes por Wellington Dias.
De acordo com uma fonte, no entanto, Padilha seria mais cotado no momento para a Casa Civil.
Um dos nomes mais temidos pelo mercado financeiro, o coordenador do programa de governo de Lula, Aloizio Mercadante, deve estar no ministério, mas não na Fazenda, diz uma segunda fonte.
Para além da equipe econômica, alguns nomes são dados como certos, mas apenas um já foi citado pelo próprio Lula: Flávio Dino, ex-governador do Maranhão, senador eleito. Hoje um dos homens de confiança do petista, possivelmente será o ministro da Justiça.
Já a senadora Simone Tebet, mesmo sem ter sido nominada, é figura garantida no primeiro escalão. A emedebista entrou de cabeça na campanha do petista no segundo turno, conquistou espaço e o coração de Lula.
A aposta é que a senadora passe a ocupar o Ministério da Agricultura, já que vem de um Estado, o Mato Grosso do Sul, com fortes raízes no agronegócio. No entanto, ela mesma já deu a entender mais de uma vez de que gostaria de ocupar a Educação.
Também a deputada federal eleita Marina Silva (Rede) pode deixar a Câmara dos Deputados para assumir um cargo que deve ainda ser criado, o da Autoridade Nacional contra Mudanças Climáticas, que trabalharia em todas as áreas do governo para implementar as mudanças para economia verde que Lula quer encabeçar.
As fontes ouvidas pela Reuters concordam que Marina, ministra do Meio Ambiente nos primeiros cinco anos do governo Lula, não voltaria ao governo para o mesmo cargo, mas admitem que possivelmente aceitaria ocupar a posição que ela mesma defende que exista –em entrevista, ela deixou essa porta aberta.
Outro que não recusaria uma eventual convocatória de Lula para voltar ao governo é o ex-chanceler Celso Amorim, que ocupou o Itamaraty durante dois primeiros mandatos de Lula e segue sendo seu principal conselheiro de relações internacionais.
Outros nomes que, de acordo com as fontes, podem compor o novo governo são o do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), um dos nomes-chave nas articulações que compuseram a larga rede de apoios de Lula e o senador Jaques Wagner.
Cotados para o novo governo
Flávio Dino (PSB)
Senador eleito pelo Maranhão, é ex-juiz federal e foi o único nome sinalizado por Lula publicamente para assumir uma função em seu governo. Poderá ocupar o Ministério da Justiça ou uma pasta técnica, como Cidades ou Integração Nacional, se esses ministérios forem recriados.
Jaques Wagner (PT)
Amigo de Lula há 40 anos, senador conta já ter dito a ele que gostaria de ser uma espécie de secretário pessoal do presidente com status de ministro. Tem bom trânsito para atuar na articulação política, é um dos interlocutores de Lula junto às Forças Armadas e poderá ter papel nas relações internacionais.
Rui Costa (PT)
Governador da Bahia por dois mandatos, é economista e foi deputado federal. Gestor bem avaliado pelos baianos, é um dos citados para ocupar cargo na economia. Também pode ocupar uma pasta técnica como Cidades ou Integração Nacional.
Aloizio Mercadante (PT)
Ao lado da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, foi o integrante da campanha mais próximo de Lula e coordenou o programa de governo. É certo, porém, que não irá para o Ministério da Fazenda, por ser conhecido como um economista desenvolvimentista. É cotado para assumir o do Planejamento.
Gleisi Hoffmann (PT)
Presidente do PT é considerada nome certo no governo pela relação próxima com Lula nos últimos anos. É esperado, porém, que não ocupe novamente a Casa Civil, como na gestão Dilma Rousseff, quando não foi bem avaliada. Pode assumir uma das pastas de auxílio à Presidência, como a Secretaria-Geral.
Alexandre Padilha (PT)
O deputado federal atuou na interlocução da campanha com empresários e agentes econômicos. Já foi cotado como ministro da Fazenda. Lula também costuma elogiar o seu trabalho como Ministro das Relações Institucionais em seu segundo governo. O presidente eleito gosta da sua habilidade em negociações.
Fernando Haddad (PT)
Derrotado para o governo de São Paulo, é nome certo no Ministério de Lula, com boas chances de ocupar a Fazenda. Mostrou-se um aliado fiel do presidente eleito e ganhou pontos ao ser o principal responsável pela articulação que levou o ex-governador Geraldo Alckmin para o posto de vice da chapa presidencial.
Edinho Silva (PT)
Para assumir um cargo, teria que renunciar à prefeitura de Araraquara (SP). Durante a campanha, foi responsável por coordenar a comunicação. Tem muita proximidade com Lula. Pode ocupar um dos ministérios de auxílio à Presidência; da Comunicação Social, como no governo Dilma, ou de articulação política.
Marina Silva (Rede)
Ex-ministra do Meio Ambiente de Lula, é o quadro mais importante da Rede, partido que espera integrar o novo governo. Eleita deputada federal por São Paulo, participou de debates sobre a agenda verde e também sobre a aproximação da candidatura do eleitorado evangélico.
Wellington Dias (PT)
Senador eleito pelo Piauí foi um dos nomes responsáveis por fazer a interlocução de Lula com empresários durante a campanha. É considerado coringa para a articulação do governo com o Congresso e já teve seu nome citado entre as bolsas de apostas para a economia.
Izolda Cela
Atual governadora do Ceará, fez carreira na área de Educação. Comandou a pasta da área no estado, com bons resultados nas provas de avaliação. Mostrou fidelidade ao PT ao romper com a família de Ciro Gomes por não ter sido escolhida para disputar a reeleição pelo PDT. Ocuparia o Ministério da Educação.
Sônia Guajajara (PSOL)
A líder indígena poderia ocupar o Ministério dos Povos Originários, já anunciado por Lula como uma nova pasta em seu governo. O petista também disse que poderia colocar um indígena no cargo. Membro do povo Guajajara/Tentehar, no Maranhão, Sônia é formada em Enfermagem e Letras.
Márcio França (PSB)
O ex-governador de São Paulo foi um dos principais negociadores da aliança nacional entre o PT e o PSB. Por ser um dos políticos mais poderosos do principal partido da coligação de Lula, a expectativa é que tenha lugar de destaque no governo.
Tereza Campello (PT)
Coordenadora do programa Brasil Sem Miséria no governo Dilma Rousseff, liderou as discussões do novo Bolsa Família durante a campanha e foi uma das porta-vozes para tratar de propostas de combate à fome. A economista foi ministra de Desenvolvimento Social no primeiro mandato de Dilma.
Paulo Câmara (PSB)
O governador de Pernambuco foi o primeiro nome dentro de seu partido a defender uma aproximação com Lula na disputa pelo Palácio do Planalto. Seu mandato à frente do governo do estado termina em 1º de janeiro. Ele pode ocupar o Ministério da Ciência e Tecnologia.
José Guimarães (PT)
Deputado federal reeleito, ganhou prestígio ao articular a candidatura de Elmano Freitas, eleito governador do Ceará no primeiro turno. Faz parte do grupo de confiança de Lula e pode ocupar um ministério de articulação política ou a liderança do governo na Câmara dos Deputados.
Simone Tebet (MDB)
Após ficar em terceiro lugar na corrida presidencial, a senadora entrou de cabeça na campanha de Lula. Ela já disse que pode contribuir na área de educação e agricultura, mas ressaltou não precisar de cargo para isso . Lula, por sua vez, afirmou precisar de Tebet para “construir e reconstruir o Brasil”.
Humberto Costa (PT)
Ministro da Saúde no primeiro mandato de Lula, o senador foi responsável, durante a campanha, por centralizar as informações da área. Aprofundou as discussões sobre as políticas públicas que deverão guiar a atuação da pasta, como o desenho de um novo Mais Médicos. (O Globo)