Foi
com muita emoção e ao som da música “Oração Latina”, verdadeiro hino
escrito pelo compositor maranhense César Teixeira, que na tarde deste
sábado (30), em cerimônia na Praça Maria Aragão, em São Luís, o
governador Flávio Dino assinou Projeto de Lei que concede pensão
especial ao líder camponês Manoel da Conceição, lesionado por ação
policial no período da ditadura militar.
A
assinatura foi um dos atos que marcaram uma tarde de homenagens a
maranhenses que tiverem direitos violados pelo autoritarismo do regime
militar, vigente de 1ª de abril de 1964 até 1985. A memória da médica
Maria Aragão e do jornalista Bandeira Tribuzi – ambos já falecidos – foi
celebrada.
A
ideia do Projeto de Lei é garantir reparações ainda possíveis a Manoel
da Conceição, uma das vítimas das graves violações de direitos humanos
deixados por governos autoritários. Para o governador Flávio Dino, o
Projeto de Lei de indenização a Manoel da Conceição e a homenagem a
memória dos maranhenses perseguidos pela ditadura é um “ato de justiça
histórica”.
“Infelizmente há 55 anos houve uma ruptura da ordem democrática, um desrespeito à Constituição”, lamentou o governador.
O
governador ressaltou, ainda, que a homenagem é também um “ato
educativo”, para que outros episódios lamentáveis não se repitam na
história brasileira e “para que toda a sociedade brasileira,
especialmente a maranhense, tenha em primeiro lugar o apreço, o
respeito, a defesa da democracia e da Constituição como valores
permanentes para que a gente possa viver em uma sociedade boa, uma
sociedade digna e decente para todos”.
“Aqui no Maranhão não se comemora a ditadura e nem se celebra a memória de nenhum ditador”, afirmou o governador.
Homenageados
Em
uma cadeira de rodas e emocionado, Manoel da Conceição agradeceu a
homenagem. “Estou agradecendo isso de coração, isso que vocês estão
fazendo de bom para todos nós. Vamos em frente”, disse o líder camponês.
O
advogado Mário Macieira, neto de Maria Aragão, agradeceu pelo ato
simbólico em referência à trajetória de luta da sua avó. “Quero fazer um
agradecimento todo especial ao governador Flávio Dino, camarada que
marca, nesse período triste da nossa história, um contraponto aos
aspirantes de ditadores. Não voltaremos a viver aqueles anos tristes que
vitimaram tantas pessoas”, ressaltou o advogado.
Bandeira
Tribuzzi foi representado por sua neta, Gabriela Campos. Em sua fala,
Gabriela lembrou que sua mãe nasceu de sete meses porque a esposa do
poeta foi vítima de violência durante o Estado de Exceção. “É uma
homenagem justa. Eu só tenho que agradecer ao governador, em um momento
como esse em que políticos comemoram o aniversário da ditadura”, pontuou
Gabriela.
Biografia de Manoel da Conceição
Manoel
Conceição Santos nasceu em 1935, no município de Pirapemas (MA), numa
comunidade chamada Pedra Grande, e esteve engajado na luta camponesa por
acesso à terra para trabalho e moradia desde a juventude.
Em
1968, quando estava presidente do Sindicato de Trabalhadores Rurais de
Pindaré, Manoel foi alvejado com três tiros de revólver no pé esquerdo e
dois tiros de fuzil no pé direito, em uma ação da Polícia Militar do
Estado do Maranhão. Sem os cuidados ideias, Manoel acabou sendo
submetido à amputação da perna direita.
Conforme
Relatório da Comissão Nacional da Verdade, Manoel Conceição Santos foi
vítima de oito prisões ilegais entre os meses de fevereiro e setembro de
1972, bem como submetido à tortura no Destacamento de Operações de
Informação – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI).