João Baptista Herkenhoff |
Vitória está se tornando das mais profícuas capitais brasileiras, em matéria de lançamento de livros.
É difícil que transcorra uma semana, no máximo uma quinzena, sem que
desponte, na capital do Espírito Santo, um novo rebento no campo da
Literatura ou da Ciência.
Não sou titular de uma coluna de livros em jornal. Nos eventuais
encontros com leitores, pelo Brasil afora, ocupo-me de um variado elenco
de temas. Só uma vez ou outra comento livros que surgem.
Acabam de ser lançadas duas importantes obras, nesta ilha que Pedro Caetano cantou nestes versos:
“Cidade sol com o céu sempre azul
Tu és um sonho de luz norte a sul
Meu coração te namora e te quer
Tu és Vitória um sorriso de mulher.”
Os livros foram estes:
“Liberdade para o abacateiro”, de Marilena Soneghet;
“Os manacás estão floridos”, de Luiz Sérgio Quarto.
Ao evento de Luiz Sérgio Quarto não pude
estar presente. Nesta quadra da vida em que me encontro, ir ou não ir,
registrar presença ou ter a ausência assinalada e desculpada, tudo isto
depende dos humores da saúde. Luiz Sérgio Quarto, além de escritor é
professor universitário. Nasceu em Iúna, comarca onde estreei no
Tribunal do Júri, ao lado do irmão Paulo. O livro de Luiz Sérgio fez-me
lembrar do fato. Defendemos quatro réus, acusados de homicídio. Foram
absolvidos. A sessão foi presidida pelo Juiz de Direito Hélio Gualberto
Vasconcelos, que veio a ser depois Desembargador. O júri foi, na época,
um dos mais importantes ocorridos em Iúna. Alto-falantes externos
transmitiram os debates.
À festa literária de Marilena tive a
alegria de comparecer. Ocorreu na Biblioteca Estadual que está sob a
competente direção de Nádia Alcuri. A Biblioteca Estadual, longe de ser
apenas um espaço onde livros são guardados, conservados, catalogados e
lidos (fazendo isto cumpriria seu papel), é hoje uma instituição que
promove a cultura através de uma atuação diversificada.
Na primorosa antologia de crônicas de
Marilena, a crônica que dá título à obra é das mais belas que li no
transcorrer desta vida que já frequenta a oitava hora. Rubem Braga
poderia assiná-la e esta crônica poderia juntar-se ao acervo glorioso do
cronista maior deste país. O abacateiro nunca deu abacate mas cumpriu
seu destino, realizou sua missão de ser companheiro da menina que o
adotou. A amizade que une a menina e o abacateiro chega às raias do
sublime. Quantos abacateiros há que não deram abacate mas tornaram este
mundo melhor, mais bonito e mais humano.
João Baptista Herkenhoff é magistrado aposentado (ES), palestrante, escritor e colaborador do blog Barradocordanews. Acaba de publicar: A Fé e os Direitos Humanos (Porto de Ideias Editora, São Paulo). Tem ministrado Cursos de Hermenêutica Jurídica e de Direitos Humanos, de curta duração, no Espírito Santo e fora do Estado.
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