A publicitária Marina de Barros Collaço com seus produtos temáticos sobre diabetes |
Aos 15 anos, Marina de Barros Collaço,
31, era uma adolescente saudável. Ela praticava seis horas de judô por
dia e vinha perdendo peso, sentindo cansaço e muita vontade de fazer
xixi. Os sintomas pareciam justificáveis pelo excesso de atividade
física e não a preocupavam.
O pano caiu quando Marina passou mal na
escola e foi imediatamente internada por três dias. Ela teve uma
cetoacidose (aumento descontrolado no nível de glicose do sangue) severa
que resultou em um coma diabético.
Até então, Marina não sabia que era diabética, e tinha uma vaga ideia
sobre a doença. O médico que a acompanha estima que ela tenha ficado
dois anos com a doença antes do diagnóstico.
"Existem dois tipos de diabetes, mas no fim são todos do tipo ruim", diz
Marina, que há dois anos mantém o blog "Diabética tipo ruim", onde
reflete sobre o "lado b" da doença, e acaba de lançar um livro com o
mesmo título.
"Gosto de escrever sobre os aspectos negligenciados e que causam
constrangimento. Falo da impotência sexual comum em diabéticos, de
candidíase [corrimentos vaginais causados por fungos], de chefes que nos
acham folgados quando precisamos faltar no trabalho por conta de uma
hiperglicemia [pico de açúcar no sangue], do sentimento de impotência
que às vezes temos por conta das limitações, da falta de paciência para
cumprir um monte de regras", diz ela, que sofre de diabetes do tipo 1,
que leva a uma deficiência completa na produção de insulina.
Para Marina, existe uma tendência de levar a diabetes como um problema
menor do que ele de fato é. "Como hoje em dia os tratamentos são
eficientes, as pessoas acham que é tranquilo ter diabetes. Mesmo muitos
diabéticos insistem que levam uma vida completamente normal, mas normal
para mim é sair de casa sem ter que calcular quanto tempo vou passar
fora ou se estou levando insumos o suficiente para a minha bomba de
insulina", diz. "De açucarado basta meu sangue, não quero fazer um
retrato cor de rosa da doença".
No Brasil, mais de 16 milhões de adultos (8,1% da população nessa faixa
etária) sofrem de diabetes e a doença mata 72 mil pessoas por ano,
segundo um relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgado
este ano.
Marina acredita que diabéticos tentam passar uma visão amenizada da
doença para evitar estigmas. "Minha vida é funcional, mas é cheia de
pequenas limitações. Eu preciso faltar o trabalho uma vez no mês para
buscar meus remédios na Secretaria de Saúde, por exemplo, e pelo menos
uma vez no mês é possível que eu tenha uma hiperglicemia que me deixe
com muita dor de cabeça. Nem sempre consigo 'agendar' essa crise para um
fim de semana, e chefes não costumam ser compreensivos", explica.
Outro percalço comum é a falta de medicamentos na rede pública. Agora
mesmo, Marina está há quatro meses sem receber insulina. "E a gente
agradece quando o que falta é a insulina, que custa R$ 150 por mês. Pior
é quando falta cateter para a bomba, que custa R$ 700", diz ela.
Marina, que era publicitária em uma agência, hoje trabalha de casa,
fazendo ensaios fotográficos e usando o blog para vender artigos para
diabéticos como camisetas, adesivos para enfeitar a bomba de insulina,
porta-pílulas e bolsas térmicas para guardar os remédios.
"O aspecto mais difícil da diabetes é o psicológico. Aceitar que temos
uma limitação para a vida toda é difícil para todo mundo. Para mim,
escrever sobre o assunto e abraçar a diabetes como parte da minha
personalidade foi a forma de aceitar a doença", diz.
DIABÉTICA TIPO RUIM
AUTORA Marina de Barros Collaço
EDITORA Book Express
PREÇO R$ 45 (62 págs.)
Via Emerson Araújo
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