Quando surgiram as campanhas de despoluição do rio Tietê na década de
90, mais precisamente em 1992, gerava grande preocupação e desilusão nos
mais céticos quando era citado o longo prazo para que o rio tivesse
oxigênio e voltasse a ter vida, com peixes e pescadores,
prática de esporte e lazer, arborização em toda a sua extensão e até
servir como meio de transporte coletivo.
Era citado o tempo gasto no processo de despoluição de rios em outros
países, com destaque para o rio Sena, na França e o Tâmisa, na
Inglaterra. Este teria levado trinta anos para ser despoluído
totalmente.
Nesse período já passaram seis governadores pelo Palácio dos
Bandeirantes, iniciado com Luiz Antonio Fleury Filho; seguido por Mário
Covas, Geraldo Alckmin, Cláudio Lembo, José Serra e Alberto Goldman que
formaram o grupo de governadores no processo de “deslimpeza”
do rio Tietê. Mario Covas por dois mandatos e Alckmin, já no quarto,
são responsáveis pelo período de mais de 15 anos pela limpeza que suja. E
o Partido da Social Democracia Brasileira – PSDB é o inegável pai da
criança até a maioridade alcançada no final
de 2010. Esse é o número de responsáveis diretos, mas os bilhões
desperdiçados impressionam muito mais.
Um dos diretores de projetos da Sabesp, órgão responsável pela fictícia
despoluição, Carlos Eduardo Carrella, regojiza-se ao afirmar que “se
nada tivesse sido feito a situação seria bem pior”, argumento semelhante
a outro muito utilizado no passado pelos ministros
de economia para minimizar os efeitos deletérios da inflação. Diziam
que a inflação de determinado mês não fora tão alta como era esperada,
pois ficara em 50%, quando as previsões apontavam 80, 90% para aquele
mês.
Ao contrário de autoridades de países desenvolvidos, as brasileiras
costumam justificar qualquer coisa, por mais absurda que seja; não
assumem seus erros. O gasto astronômico sem resultado careceria de
investigação mais aprofundada, mais séria do que costuma
ser em casos semelhantes. E já deveria ter sido antes de se chegar a
gigantesco desperdício de dinheiro público. O diagnóstico de onde vem a
sujeira já existe. Então, seriam necessárias algumas alterações em
diversas ações e intensificação do trabalho noutras.
Fiscalizar e exigir que as residências façam a adequação de seus
esgotos para a rede, caso exista, ou para fossas. As indústrias e casas
comerciais só deveriam receber a licença de funcionamento após comprovar
a destinação adequada do seu esgoto e seu lixo.
Aplicar multas desde pedestre que jogasse palito de fósforo, ponta de
cigarro nas ruas até quem jogue sofás e material de construção em locais
inadequados. Leis já existem em São Paulo. Falta só o cumprimento.
Como gostava de dizer o ex-presidente Lula, se o rio tivesse sido limpo,
cada governador diria que ninguém nunca na história deste país teria
feito tanto pela limpeza, numa busca pelo título de limpador-mor do
Tietê. É possível ter havido projeto básico resultante
de profundo estudo; projeto de execução; definição de resultado por
etapas. Nenhum maluco poderia imaginar todo esse trabalho realizado
propositalmente para um aumento “satisfatório” da poluição. Alguém tem
que vir a público dizer onde existiram falhas gravíssimas
e grosseiras para se chegar a resultado tão bisonho. Não se tem como
negar a paternidade ao PSDB e a criação até a presente data. Também
falhou a imprensa por não ter acompanhado de perto com cobranças
periódicas de resultados. Cada governador teria que explicar
quanto gastou e seu percentual de piora.
Nenhum argumento justificaria minimamente esse desastre. Apurar e punir
os responsáveis seriam dever, mas não resolvem o que já deixou de ser
feito. Servem de alerta para acabar com a política de gastar bilhões de
dólares para piorar gradativamente um serviço
público tão relevante. Com seguimento da política atual de despoluição,
daqui a 80 anos 10 bilhões de dólares terão sido literalmente
enterrados num rio acabado.
Pedro Cardoso da Costa – Interlagos/SP
Bacharel em direito
Pedro Cardoso da Costa é colaborador do Barradocordanews.com
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