06 setembro, 2015

O assassinato da humanidade


É inútil, a estas alturas, se iludir com a crença de que o holocausto tenha gerado uma consciência humanitária e solidária na Europa.


Por Jeferson Miola/Carta Carta Maior
O corpo inerte de Aylan Kurdi, a inocente criança síria de cinco anos atracada já sem vida nas areias da praia de Bodrum, na Turquia, é o retrato da morte da humanidade. É a prova indesmentível de uma morte matada; não de uma morte morrida. É o testemunho de uma morte moralmente inaceitável; de uma morte, enfim, repugnante.


O corpo inerte de Aylan Kurdi atesta o assassinato da humanidade.


Centenas de milhares de mulheres, homens e crianças fogem da Síria, Líbia, Iraque, Nigéria, Paquistão, Afeganistão, Kosovo e do Oriente Médio numa viagem desesperada – e não raras vezes mortífera – à Europa.


Os desamparados que sobrevivem aos naufrágios no Mediterrâneo, quando pisam no território europeu, são repelidos com criminosa e cínica indiferença, isso quando não são armazenados em campos de concentração para refugiados.


É inútil, a estas alturas, se iludir com a crença de que o holocausto tenha gerado uma consciência humanitária e solidária na Europa. Se assim tivesse sido, não se assistiria a esta repetição de lógicas racistas, segregacionistas e xenófobas do passado nazi-fascista.


A diáspora é o resultado cruel do intervencionismo das potências europeias e dos EUA. Os refugiados são os “efeitos colaterais” da geopolítica que desestabilizou e incendiou países do Oriente Médio e do norte da África e expulsa populações para um exílio forçado.


Causa asco a ausência de compromisso ético e humanitário da Europa com as vítimas das políticas desastrosas empregadas pelos próprios dirigentes europeus em cumplicidade com os EUA.


Aylan Kurdi, este inocente ser assassinado em águas mediterrâneas, é filho histórico desse tempo sombrio, em que a estupidez e o egoísmo da espécie humana sob a égide capitalista parece vencer o ideal de humanidade.

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