Artigo do governador do Maranhão, Flávio Dino
Com 12 dias de celebrações, a Festa do Divino está no calendário
religioso e cultural de nosso Estado há séculos. Na semana passada, fui
recebido pela Corte de Alcântara preparada para esta festa que movimenta
a belíssima cidade. A cada ano, a figura do imperador ou imperatriz da
festa é mudada, assim como a do mordomo régio. Eles são escolhidos como
responsáveis por parte da festa, abrem suas casas e as ornamentam para
receber as procissões e os visitantes, que são muitos. A representação
da Corte é um dos marcos da festa, relembrando um período da história
nacional finalizado com a Proclamação da República, em 1889.
Estive em Alcântara no domingo passado, na importante Missa celebrada
pelo bispo da Diocese de Pinheiro, Dom Élio Rama. Enquanto admirava a
beleza da festa e dos ritos religiosos, lembrava-me do percurso
histórico que nossa nação trilhou entre a Monarquia e a República.
Há muitas décadas, o Brasil decidiu trilhar o caminho do
republicanismo. Acompanhando as revoluções libertárias que marcaram os
séculos 18 e 19, nosso país optou por um modelo de organização do Estado
que tem por base três elementos fundamentais: ser o poder oriundo das
decisões tomadas coletivamente; a organização da política ser a
expressão da vontade popular; e a igualdade de direitos e deveres entre
cidadãos e chefes de Estado.
Assim, vimos ruir o poder concentrado nas mãos de uma família e
distribuído aos membros da nobreza, amigos da Coroa. A hereditariedade,
vendida como derivada de um direito exclusivo a um pequeno grupo, foi
suplantada pelo direito ao voto, hoje secreto e exercido por todos.
Rompemos com a ideia de um poder arbitrário e concedido mitologicamente
às mãos de uma só família e seus protegidos, sócios na riqueza e nos
banquetes.
Nenhuma constatação histórica, porém, foi capaz de explicar por que
esses poucos se apropriaram do Estado e transformaram homens e mulheres
livres em súditos. Afinal, desde a Antiga Grécia houve quem questionasse
o despotismo. Foi o caso de Otanes, pensador pré-socrático, que fez uma
das primeiras críticas a regimes familiares: “Como poderia a monarquia
ser coisa perfeita, se lhe é lícito fazer tudo o que deseja sem o dever
de prestar contas?”
Por isso, a nossa gente escolheu seguir os caminhos da
autodeterminação e da igualdade. Pusemos fim aos governos que passam de
pai para filho, extinguindo privilégios e estabelecendo limites
constitucionais ao exercício das funções públicas. Em vez da opulência
para poucos da monarquia, nossa sociedade escolheu a liberdade oriunda
dos anseios de todos, sem monarcas, nem oligarcas, nem coronéis.
A verdade é que, no Maranhão atual, só há lugar para imperadores e princesas na Festa do Divino. Que esta dure para sempre.
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