Do UOL, em São Paulo
Em 2012, o dentista Ricardo Toledo de Freitas, 55, natural de São Vicente (SP),
descobriu um câncer de pele no nariz. Foi operado meses depois e
livrou-se da doença. Em 2013 apareceram diversos tumores em seu
intestino. Voltou a se tratar. Em 2014, Ricardo foi diagnosticado com um
câncer no pulmão. Os múltiplos cânceres o deixaram "baqueado" e com
medo de morrer, mas no começo deste ano o dentista optou por um
tratamento intensivo na esperança de eliminar todos os tumores. "A
quimioterapia baqueia muito a gente. Fiz quatro sessões intensivas de 24
horas. Você vomita muito, fica muito fraco", conta.
Com sessões de quimioterapia e de radioterapia feitas no Icesp
(Instituto do Câncer do Estado de São Paulo), hospital público
localizado na capital paulista, o dentista vislumbra se livrar do
câncer. Ele quer voltar a ter a vida de antes, vivendo com filho pequeno
no litoral paulista e trabalhando na saúde pública, como sempre fez.
"Eu não imaginava que o câncer iria para o intestino e para o pulmão.
Quando descobri a segunda etapa, fiquei muito baqueado porque tenho um
filho pequeno e quero cuidar dele. Neste ano não pude ir à festinha dele
de aniversário. Mas, quando eu puder, vou fazer uma festa para ele. Ele
chora, quer que eu volte. Ele é a razão da minha vida", diz emocionado.
Freitas atuou no Sistema Único de Saúde durante 30 anos, parte deles em pequenas cidades como Barra do Corda (MA), onde trabalhou em aldeias indígenas, e em Nova Mutum (MT).
Fraqueza e pele em carne viva
O bombardeio de medicação deixa o dentista tão fraco que ele mal
consegue se levantar. O pouco que resta de força ele guarda para ir ao
banheiro constantemente, já que a radioterapia no intestino lesa a
camada da bexiga dando a sensação de cistite permanente. Os efeitos
colaterais dos procedimentos vêm quase todos em cadeia: enxaqueca,
vômito, diarreia e a sensação de pele queimada em "carne viva".
Ricardo está internado há quase um mês. Nos dias em que não faz a quimioterapia, ele recebe tratamentos de beleza no hospital,
quando esteticistas fazem sua barba, cortam seu cabelo, fazem massagens
em suas mãos arroxeadas e hidratam a pele ressecada. "Faço o tratamento
[de beleza] para tirar as olheiras, fazer a barba e massagem. Como fico
com um braço plugado na máquina para a quimioterapia e o outro com o
soro, fica complicado me arrumar. Para mim essa equipe faz parte do
tratamento do câncer também", diz.
Há dias em que ele pode sair do hospital, mas deve evitar locais
fechados com aglomerações. "Uma vez fui com meu filho ao parque
Ibirapuera [localizado na zona sul de São Paulo]. Foi um dia muito
especial para mim, me renovou", lembra-se do passeio feito no começo do
mês de março.
Afastado do trabalho por causa do tratamento, Freitas está ansioso para
ter alta. A previsão é para o final de abril e a cirurgia para retirada
dos tumores do intestino está marcada para 27 de julho.
Apesar das dificuldades, ele não perde a fé. "Tem que ser perseverante.
Não adianta só ter medicação. A cura vem de um conjunto, do apoio na
religião, da família, da equipe de profissionais, dos amigos, porque a
gente não consegue sozinho. Tem que haver uma grande rede de apoio",
conclui.
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