Qualquer coisa que se escreva sobre violência é
café requentado, alguém já falou, escreveu ou sugeriu. Mas ela grassa no
Brasil, cada vez maior na quantidade de crimes e mais intensa na diversidade de
barbárie.
Na época em que Fernando Henrique Cardoso estava à
frente do governo federal, a prática era lançar pacotes. A imprensa
chapa-branca apontava as soluções adotadas como se as coisas fossem melhorar e
a população brasileira, sempre acusada de querer soluções mágicas e imediatas,
sentiu cada vez mais que a violência se tornou um problema insolúvel.
Em São Paulo, na última semana de março de 2014, o
governo anunciou o aumento dos crimes em quase 50%, ao mesmo tempo em que o
secretário da Segurança informou que apenas dois por cento são investigados, e
não disse uma vírgula sobre quantos são esclarecidos e os responsáveis punidos.
Investigado, quer dizer apenas que se tentou descobrir autoria e o elo desse
autor com o fato.
Simbolicamente, seria como se cem pessoas tivessem
alguma dívida com você, os fatos; investigação seria você cobrar de duas.
Pronto. Fica nisso. Você pode ter recebido das duas, como pode não ter recebido
de nenhuma. Ou seja, dos cem crimes, dois ou nenhum pode ter sido esclarecido,
com a punição ou não, conforme cada caso.
Frases prontas sempre foram e ainda são utilizadas.
Nessa divulgação recente, a constatação é que não cresceram os crimes, mas a
quantidade de boletins de ocorrências realizados pela internet aumentou. Teriam
todas as condições, mas não especificaram com precisão o aumento virtual de
fato. Apenas jogaram mais frases no ventilador. E esse argumento foi vendido
como algo positivo.
Como o esclarecimento de crimes beira a zero, só as
autoridades conseguem enxergar positividade no aumento das notificações. Alguém
poderia perguntar ao secretário: por que é positivo o aumento das notificações,
se os criminosos não são punidos?
No Rio de Janeiro, há uma clara demonstração de que
o Estado está acuado pela criminalidade.
Os governadores cansaram de afirmar que não havia
estado paralelo, quando havia insinuação de que o crime organizado mandava como
queria nas comunidades. Mas, sempre que inauguram uma Unidade de Polícia
Pacificadora – UPP hasteiam as bandeiras do Rio de Janeiro e da União e são
categóricos em dizer que aqueles espaços voltam para a mão do Estado.
Essa política de UPPs não está se mostrando
eficiente e capaz de domar a marginalidade. Aí, novamente se recorre às Forças
Armadas, cuja atuação a imprensa oba-oba sempre disse que não é para atividades
cotidianas nas cidades, mas para fronteiras e, se necessário, combater
exércitos invasores, inclusive os de Israel e dos Estados Unidos. E pela
quantidade de vezes que estiveram no Rio comprova que a presença das Forças
Armadas se ajuda, a contribuição tem sido insignificante.
Por falta de combate, não sobem apenas os crimes,
mas a crueldade também. Queimar gente viva até a morte já está ultrapassado. Em
2006, uma família inteira foi queimada em Bragança Paulista e no ano passado
uma dentista em São Paulo. Banalizou-se arrastar corpos pelas ruas. No Rio de
Janeiro, bandidos espalharam massa encefálica do garoto João Hélio e neste ano
a Polícia Militar arrastou a dona de casa Claudia Silva Ferreira.
Então, a nova moda começou: espalhar pedaços de
gente pela cidade. Enquanto isso, e como sempre, as autoridades
apresentam números e desculpas fantasiosas.
Pedro Cardoso da Costa –
Interlagos/SP
Bacharel em direito
"NÃO
HÁ DEMOCRACIA ONDE O VOTO É OBRIGATÓRIO"
Dr. Pedro Cardoso da Costa é colaborador do Barradocordanews.com
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