Por Flávio Dino*
“Uma dor assim pungente
Não há de ser inutilmente”
João Bosco e Aldir Blanc
Esta semana que se inicia será
marcada por eventos públicos e reportagens lembrando o golpe militar realizado
há 50 anos contra um governo eleito democraticamente e que propunha mudanças
estruturais para distribuir melhor a riqueza produzida no Brasil. A este golpe,
seguiram-se 20 anos do mais terrível período da história nacional, com
torturas, execução de inocentes e desmandos.
Para nós, maranhenses, o golpe
implicou o surgimento do mais longo domínio político de que se tem notícia no
Brasil, comparável somente ao reinado de Dom Pedro II. Com total apoio dos
militares, uma oligarquia se instalou no Palácio dos Leões, trazendo a
“revolução de 64 ao Maranhão”, como afirmava jornal da época.
Foi um período
triste de cassações, perseguições, execução de agricultores para expulsá-los
das terras e repressão violenta a movimentos legítimos da sociedade.
As lutas estudantis, as greves de
1979 no ABC e a Campanha das Diretas, em 1984, foram momentos determinantes
para a volta da democracia no Brasil, cantada em acordes e versos por Elis
Regina, Chico Buarque e tantos dos melhores artistas que nosso país já
produziu. Vimos a volta do irmão do Henfil e o dia raiar sem pedir licença a
quem quer que fosse. Infelizmente, aqui no Maranhão, a história foi outra.
As eleições foram restabelecidas,
é bem verdade. Mas o domínio do mesmo grupo manteve-se por força dos
instrumentos que construíram durante a ditadura: o controle dos meios de
comunicação e a instalação de apadrinhados nos principais postos do aparelho de
Estado.
As heranças ditatoriais no modus
operandi da oligarquia são sentidas pela falta de alternância no poder e pelo
ambiente criado no Maranhão. É emblemático que ainda hoje muitos tenham medo de
perderem seus empregos, de serem perseguidos ou terem sua moral aviltada com
calúnias nos meios de comunicação desse poder imperial.
O resultado é essa situação
atípica e única no Brasil, em que esse grupo remanescente da ditadura tenta
perpetuar-se no poder, quase 30 anos após a volta da democracia. Contudo, nada
é maior do que o sentimento de transformação presente no olhar de milhares de
pessoas que têm estado conosco em encontros vibrantes e plenos de esperança.
Em respeito à dignidade do nosso
povo, é urgente completar a instalação do processo democrático no Maranhão.
Para isso, temos promovido a união de todas as forças políticas e sociais que
querem construir um novo amanhã. E um dos pilares desse novo momento é
justamente a democracia, com liberdade de expressão para todos, abertura ao
diálogo com todas as forças sociais e, principalmente, eliminação dessa
politica atrasada de perseguições e de apologia do ódio, inclusive contra os
comunistas.
Assim como raiou o dia para os
que lutaram contra as trevas da ditadura militar, está chegando o tempo de
levantar a noite que paira sobre o Maranhão. A estrada está aberta a todos que
queiram caminhar por ela em busca de um novo futuro. O Maranhão não pode mais
ter lugar para ditadores e ditaduras.
(*) Advogado e professor
da Universidade Federal do Maranhão. Foi juiz federal (1994-2006), deputado
federal (2007-2011) e presidente da EMBRATUR (2011-2014).
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