Por Helena Chagas
– Assim
como jabuti não sobe em árvore, o Ministério Público, o Coaf e outras
corporações do setor de investigações não dão ponto sem nó. O vazamento
do relatório que apontou movimentação atípica de R$ 1,2 milhão na conta
de um ex-assessor do senador eleito Flávio Bolsonaro — apontando
inclusive um choque de R$ 24 mil para a futura primeira dama Michelle
Bolsonaro — criou uma saia-justa para o novo governo. A pergunta que não
quer calar em Brasília é se, antes mesmo da posse, a família Bolsonaro
começará a ser investigada.
Tal investigação não existe ainda. Fabrício Queiroz, o ex-assessor do
filho 01 na Alerj, entrou numa lista de 22 funcionários que, segundo o
Coaf, tiveram movimentação financeira incompatível com seus ganhos. Essa
lista foi anexada pelo Ministério Público à investigação que deu origem
à Operação Furna da Onça, que teve como alvo os esquemas na Alerj.
Nem Flávio nem Fabrício estão no alvo dessa operação, mas o relatório
apontando os caminhos suspeitos do dinheiro, que era retirado também em
espécie da conta do servidor, foi parar nas mãos da imprensa muito
provavelmente para forçar a abertura de uma investigação. Afinal, são
muito comuns, nesses tempos de Lava Jato permanente, aquelas situações
que começam quando as autoridades atiram no que vêem e acabam acertando o
que não vêem.
Também é frequente o expediente dos procuradores de vazar uma
denúncia para respaldar a abertura de um inquérito quando o caso é
delicado. Para lá de delicado, no momento, por citar parentes do
presidente eleito. Flávio Bolsonaro, em seu twitter, jogou o caso no
colo do ex-assessor, afirmando esperar que ele explique tudo. Será que
vai?
Acima de tudo, o episódio será um teste para o novo governo e seu
futuro ministro da Justiça, Sérgio Moro, que a partir de 1 de janeiro
será o chefe da Polícia Federal e do Coaf. Se a investigação for aberta,
portanto, estará nas mãos do sujeito que abriu a caixa e soltou todos
os monstros – que, vê-se agora, são incontroláveis. Seu comportamento
será acompanhado com lupa para ver se o pau que bate em Chico bate em
Francisco.
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