Alvadir Pelisser (d): 'Tive de vender muita rifa para pagar salário de jogador no início' |
Luis Barrucho
Da BBC Brasil em Londres
Foto: Rodrigo Goulart/Diário do Iguaçu
Ainda
se recuperando de um AVC que sofreu em janeiro, um dos fundadores da
Chapecoense, Alvadir Pelisser, acordou na manhã desta terça-feira com
outra notícia que "mudou sua vida".
"Essa tragédia
acaba com o sonho de todo mundo. Foi tanto trabalho... vendi muita rifa
para sustentar o clube logo no início. Éramos uma família. Estou em
choque e muito emocionado", diz ele, com voz embargada, por telefone à
BBC Brasil.
"A vida nos prega cada peça... Ainda estou me
recuperando do derrame que sofri quando acordei com essa notícia. É
muito triste. Não sei nem o que falar", acrescenta.
Na madrugada
desta terça-feira, um avião com a equipe da Chapecoense sofreu um
acidente em uma área montanhosa de difícil acesso, a 50 km de Medellín,
na Colômbia.
Havia 81 pessoas a bordo, dos quais 72 passageiros e
8 tripulantes. Vinte e dois eram jornalistas. Relatos indicam que o
avião teria sofrido uma pane elétrica.
Segundo os mais recentes
relatos de autoridades, há 76 mortos e cinco sobreviventes. Cerca de 150
socorristas estão envolvidos no trabalho de resgate das vítimas.
O clube estava a caminho de Medellín, na Colômbia, para jogar pela primeira vez uma final da Copa Sul-Americana.
A partida, que seria realizada na quarta-feira contra o Atletico
Nacional, da Colômbia, foi suspensa pela Conmebol (Confederação
Sul-Americana de Futebol) devido ao acidente.
Por causa de seu estado de saúde, Pelisser anda afastado da rotina do clube que ajudou a fundar em maio de 1973.
Não vai mais ao estádio e limita-se a escutar os jogos pelo rádio. Mas
fala com saudosismo dos desafios que teve de enfrentar antes de
conseguir inserir a Chapecoense no panteão dos grandes times
brasileiros.
"Tive de vender muita rifa para pagar salário de
jogador. No início, ninguém acreditava em nós. Éramos idealistas. E
conseguimos chegar longe", diz ele.
Desde que subiu para a primeira divisão do Campeonato Brasileiro, em 2013, o time vivia anos de glória.
Na atual temporada, a equipe está em 9º lugar, à frente de times
tradicionais, como São Paulo, Fluminense e Cruzeiro. Também disputou
dois torneios continentais (2015 e 2016) e chegou a cinco das últimas
dez finais do Campeonato Catarinense.
'Cheio de entusiasmo'
Pelisser recorda um dos momentos mais marcantes do clube: a vitória
sobre o rival Avaí na final do Campeonato Catarinense de 1977.
"Não tínhamos nem campo de futebol direito. Jogávamos em Xaxim (cidade próxima a Chapecó)", relembra.
"Quando olho para trás, fico orgulhoso do que fizemos. Éramos um clube
pequeno e jogava um futebol praticamente amador. Com o tempo, ficou
cheio de vida, cheio de entusiasmo", acrescenta.
Pelisser conta
que a Chapecoense nasceu debaixo de uma árvore na Avenida Central de
Chapecó, quando ele e outro amigo, Lotário Immich, decidiram propor a
fusão de dois times antigos, Atlético Chapecó e Independente, e montar
um novo clube.
O encontro ocorreu em frente a uma loja de confecções de Pelisser, que na época dirigia o Independente.
"A Chapecoense deixou sua marca entre os grandes clubes brasileiros. É
um orgulhos para nós, para a nossa cidade e para o Brasil", finaliza.
Uma das entrevistas mais recentes concedidas por Pelisser à imprensa
brasileira foi ao jornalista Laion Espíndula, do Globo Esporte, que
estava no voo.
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