Se o Papa
Francisco telefonou para a mãe de Marielle Franco poucos minutos antes da Missa
celebrada em sufrágio da alma da Vereadora assassinada no Rio de Janeiro, não
poderá ser levantada a mão condenatória de quem quer que seja para censurar
Marielle por qualquer de seus atos.
A mão,
que tenha o atrevimento de erguer-se, é mão hipócrita, classista, mentirosa e
injusta.
Não se
encontra na Bíblia nenhuma palavra de Jesus pronunciada para verberar o ateu.
Entretanto Cristo foi implacável para condenar o fariseu que se ajoelhava e
celebrava as glórias do Criador mas não se compadecia dos sofredores.
Não nos
esqueçamos de que Maria Madalena foi a predileta de Jesus.
O Papa
Francisco é mesmo um seguidor do Messias. Não é de causar espanto que ele seja
aplaudido não apenas pelos católicos, mas também pelos evangélicos, pelos
espíritas e até pelos ateus, ou supostamente ateus.
Marielle Franco teve criação católica. Nasceu no Complexo da Maré, na cidade do Rio de Janeiro. Ela se definia como "cria da Maré".
Em 1990, aos 11 anos de idade, começou a trabalhar, usando o salário
para ajudar a pagar os seus estudos.
Posteriormente, exerceu a função de educadora infantil em uma creche.
Ainda na juventude, participou de movimentos sociais.
Em 1998, Marielle deu à luz sua primeira e única filha, Luyara.
Naquele mesmo ano, matriculou-se na primeira turma de pré-vestibular
comunitário oferecido no Complexo da Maré.
Em 2000, começou a militar pelos direitos humanos, depois que uma de
suas amigas foi atingida fatalmente por uma troca de tiros entre policiais e
traficantes na Maré.
Em 2002 ingressou na Universidade Católica do Rio de Janeiro estudando
Ciências Sociais com uma bolsa integral obtida através do Programa
Universidade para Todos.
Após graduar-se em Ciências Sociais, concluiu o Mestrado em
Administração Pública pela Universidade Federal Fluminense.
Os santos
não são apenas aqueles dos altares.
A
santidade está em toda parte. A santidade está no Complexo da Maré.
No nosso
Estado, a morte de Marielle, felizmente, não teve o desprezo do silêncio.
A
Universidade Federal do Espírito Santo emitiu vigorosa nota de pesar e
indignação e, através desta iniciativa, interpretou, sem dúvida, os sentimentos
do povo capixaba.
Se
durante toda a vida tive orgulho de ter sido professor da UFES, num
momento como este, em que os doutos se dobram à face dos humildes, o orgulho é
carregado de emoção.
A UFES
continua sendo, não apenas um espaço de cultura e ciência, mas também um
território de grandeza, democracia e reverência aos direitos humanos.
* João
Baptista Herkenhoff é magistrado aposentado
(ES), palestrante, escritor e colaborador do Blog Barradocordanews.com
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