A unidade escolar Centro do Milton, em Brejo de Areia, Maranhão; a família Sarney deixou mil escolas assim no estado
Por Luiz Carlos Azenha
O bombardeio é diário, sem trégua. Com “denúncias” como esta:

Nem a Veja faria melhor. Ou faria?
As críticas, especialmente na coluna Estado Maior, por onde fala o dono, são absolutamente gratuitas.
Por exemplo, na edição de 19.05.2015: “Flávio Dino não tem conseguido reagir às numerosas crises que se instalaram no Governo do Estado”.
Na mesma coluna: “Gozações
— Os escândalos e constrangimentos em todas as áreas do governo Flávio
Dino (PCdoB) têm feito a alegria de piadistas e gaiatos da internet.
Todo dia surgem memes e banners fazendo troça do governo, que mete os
pés pelas mãos quase diariamente. O que ajuda os provocadores é a
postura do próprio governo de não reconhecer os erros e querer impor seu
ponto de vista“.
Na mesma página, ao acusar Dino de desperdiçar dinheiro com o aluguel de um prédio, o jornal promove
os dois herdeiros políticos da família: os deputados Adriano Sarney
(PV) e Andrea Murad (PMDB). Eles são chamados a opinar sempre que há
“denúncias” contra Dino. Propaganda política disfarçada de jornalismo.
A
ênfase da cobertura é na violência, que realmente é grave em São Luís.
Segundo Dino, a taxa de homicídios caiu, mas o colunismo sarneyzista
cria um clima de pânico a ponto de invocar o holocausto — como se o
problema não fosse parte integral da herança maldita deixada pelos
Sarney. De Pergentino Holanda, colunista:
Como a
família Sarney controla a TV Mirante, afiliada da Globo no Estado,
acaba definindo a agenda do que aparece sobre o Maranhão nos jornais em
rede nacional da emissora. “Toda semana tem pelo menos uma reportagem
negativa”, diz um assessor de Dino.
O curioso é que os ataques partem da família que controlou o estado politicamente por mais de meio século.
Que,
mais recentemente, “privatizou” a segurança do complexo penitenciário de
Pedrinhas, o que ajudou a provocar um escândalo de dimensões nacionais
com a matança entre facções.
De um grupo político que, segundo Dino, chegou a pagar R$ 11,00 por um copo de leite servido numa refeição hospitalar.
Isso sem falar nas mil escolas como a da foto que encabeça este texto.
Viomundo: Governador, quem olha para essa foto é difícil acreditar…
Flávio Dino: Nós
encontramos mil escolas dessas, na qual existem professores de enorme
capacidade de se dedicar a uma causa, que eu respeito muito, mas na qual
obviamente os alunos pouco conseguem apreender. Por isso nós estamos
com um programa voltado para superar isso. Realmente é inacreditável que
em um país como o nosso, sexta ou sétima maior economia do planeta,
essa condição social seja tão difícil. O Estado que tem o décimo sexto
PIB do Brasil, que tem um porto promissor e importante, tem a base de
Alcântara… agora nós precisamos fazer com que essas ilhas de
modernização, de século 21, consigam chegar ao Maranhão profundo, que
ainda vive em muitos casos no século 19.
Viomundo:
Qual a importância do porto de Itaqui, considerando que 10% da soja
exportada pelo Brasil saem de Matopiba, a região fronteiriça entre
Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia?
Flávio Dino:
Para quem chega, é o porto melhor situado do Arco Norte, do
ponto-de-vista do mercado brasileiro, porque ele se situa exatamente na
zona de transição entre a Amazônia e o Nordeste, com amplo acesso ao
Centro-Oeste do país. E ao mesmo tempo no sentido de saída. Uma empresa
que vai exportar soja para a costa Leste dos Estados Unidos vai
economizar três ou quatro dias de frete usando Itaqui em relação a
Paranaguá (Paraná).
Viomundo:
O senhor diz que pretende casar esta vantagem logística com energia
para desenvolver um parque industrial e processar os produtos agrícolas
do Maranhão no entorno de Itaqui. Qual energia?
Flávio Dino: Na
verdade, nós já temos uma grande produção de gás, de cerca de 5 milhões
de metros cúbicos. Já foi feita a prospecção e foi formalmente
declarado pela Agência Nacional de Petróleo que esses campos estão aptos
a serem comercialmente explorados. Na décima terceira rodada do leilão
da ANP teremos mais 22 blocos na chamada bacia do Parnaíba, que fica
quase toda no Maranhão, de modo que nós esperamos que no futuro essa
abundância de fonte de energia de nosso Estado se consolide. Nós temos
uma economia baseada na agricultura, na pecuária, na pesca, no
extrativismo, na avicultura, tudo isso é fundamental. Mas ao mesmo tempo
é importante industrializar o estado, substituir importações.
Viomundo: O senhor já lidou com a herança maldita do governo de Roseana Sarney?
Flávio Dino: Nós
encontramos aqui muitos absurdos, infelizmente. Havia, por exemplo, uma
Universidade Virtual do Maranhão. A universidade era virtual mas o
roubo era real, porque lá houve desvio de mais de R$ 30 milhões. No que
se refere à Saúde encontramos situações absolutamente injustificáveis do
ponto-de-vista do custo, como o copo de leite que custava 11 reais.
Viomundo: O senhor disse que conseguiu R$ 100 milhões em função de mudanças administrativas?
Flávio Dino: Essas
mudanças em cinco meses geraram 100 milhões, porque nós combatemos
problemas que havia no Detran, no sistema penitenciário, no sistema de
saúde, na educação. A escola que aparece na foto, para substituir pode
custar em média 500 mil reais. Dez milhões dá para fazer 20 escolas. Dá
para fazer uma escola técnica estadual, que o Maranhão não tem nenhuma.
Com a Universidade Virtual do Maranhão dá para dizer que essas pessoas
desviaram 70 escolas.
Viomundo: Por que os ataques diários na mídia?
Flávio Dino: Na
verdade, uma fração da elite brasileira, acostumada a um modelo
coronelista e oligárquico, tem o hábito de gerar acúmulo de fortunas
pessoais a partir do desvio daquilo que pertence a todos. É o velho
patrimonialismo, que aqui no Maranhão está em cada esquina. Nós estamos
desmontando isso e desmontando em um processo conflituoso. Todas as
vezes que a gente tira um privilégio pendurado na árvore do
patrimonialismo maranhense, o dono do privilégio reclama, reclama e
luta. Luta, entra na Justiça, coloca seu sistema de mídia contra, porque
ele quer manter o privilégio. Passou anos indo lá colher essa fruta
madura e alimentando os seus às custas de milhares de maranhenses.
Viomundo: O que é o programa emergencial do IDH, o Índice de Desenvolvimento Humano?
Flávio Dino: É
uma política focalizada nos 30 municípios de pior IDH do Maranhão, que
estão entre os 100 piores do Brasil. Ação de substituição de escolas,
restaurantes populares, força estadual de saúde, construir casas, apoio à
agricultura familiar, fornecer documento, um enxoval de direitos. Eu,
quando estudei, quando dava aula de Direito, falavamos em direitos de
primeira, segunda e terceira gerações. Século 18, direitos civis. Século
19, direitos políticos. Século 20, direitos sociais. Nós temos de fazer
três séculos em quatro anos. Pretendemos mostrar que apesar das
dificuldades nacionais é possível mobilizar investimentos públicos e
privados capazes de elevar a qualidade de vida de populações antes
submetidas a patamares de negação de direitos realmente inacreditáveis.
Viomundo: Mostrar que governo faz diferença?
Flávio Dino: Que
é imprescindível para superar os problemas da população mais pobre.
Durante décadas no Brasil se estabeleceu uma espécie de dualidade: o
Brasil moderno era privado, o Brasil arcaico público. Isso na verdade é
uma falácia ideológica. Todos nós sabemos que sem serviços públicos é
impossível nós termos um Brasil verdadeiramente moderno.
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