RUBENS VALENTE
FOLHA DE S. PAULO/DE BRASÍLIA
O general da reserva do Exército
Sebastião Roberto Peternelli Júnior, 61, confirmou à Folha ter recebido um
convite do PSC (Partido Social Cristão) para presidir a Funai (Fundação
Nacional do Índio). Ele afirmou que aceitou o convite e aguarda uma confirmação
do governo.
Em uma página na internet em
março passado, Peternelli postou uma imagem em homenagem ao golpe militar de
1964 –"52 anos que o Brasil foi livre do maldito comunismo. Viva nossos
bravos militares! O Brasil nunca vai ser comunista", diz a postagem,
compartilhada por 750 internautas.
O militar foi candidato pelo PSC
a deputado federal por São Paulo em 2014 –recebeu 10.953 votos e não se elegeu.
A Folha confirmou que o PSC
encaminhou o nome do general ao Planalto, que ainda não deu resposta. O partido
é o único que fez indicação para o cargo.
A sigla considera que a
indicação foi "bem recebida" e recebeu a informação de que o nome já
foi aprovado pela Abin (Agência Brasileira de Inteligência), que costuma fazer
averiguação prévia sobre nomes indicados ao governo.
Desde o início do governo
interino de Michel Temer, em 12 de maio, a presidência da Funai está vaga.
Nascido em Ribeirão Preto (SP),
Peternelli é ligado ao partido que tem uma das bancadas mais conservadoras no
Congresso, com oito deputados, entre os quais Jair Bolsonaro (RJ), seu filho
Eduardo (SP) e o pastor evangélico Marco Feliciano (SP).
Em outubro de 2014, porém,
Peternelli escreveu duas "notas de esclarecimento" e fez postagens em
redes sociais para dizer que não defende um novo golpe.
"Estamos em um estado
democrático e as instituições funcionam normalmente e não vejo motivos para
nenhuma intervenção militar. Não condiz com meus pensamentos. Devemos todos
trabalhar para o bem do nosso Brasil."
Peternelli disse à Folha nesta
segunda-feira (4) que preferia não falar sobre seus planos na política
indigenista e também não quis comentar que experiência acumulada ele tem sobre
o tema.
"Tem diversos assuntos
[sobre o índio], antes temos que ouvir as lideranças indígenas e os
funcionários da Funai", disse.
"Eu gostaria de esperar
[para falar dos planos], até para não estar dando declarações sem efetivamente
estar credenciado formalmente para a atividade", acrescentou o general.
Questionado, Paternelli disse
que só falará sobre sua posição em relação ao golpe de 64 e sobre a postagem
que fez após eventual nomeação para o cargo.
Em dados biográficos postados em
rede social, o general listou ter servido nas cidades de Campinas (SP), Resende
(RJ), Rio de Janeiro, São João del-Rei (MG), Brasília, Taubaté (SP), São Paulo
e Pelotas (RS), nenhuma conhecida por forte atual presença indígena.
À Folha ele disse que, como
piloto, "voou pela Amazônia". "Não morei lá, mas cumpri muitas
missões".
Peternelli foi promovido a
general em 2006, no governo Lula, e a general de divisão em 2011, no primeiro
governo de Dilma Rousseff. Em 2012, foi nomeado secretário executivo do GSI
(Gabinete de Segurança Institucional) da Presidência, órgão que, entre outras
atividades, controla as atividades de inteligência da Abin.
CAMPANHA
Na campanha eleitoral de 2014,
Peternelli fez campanha aberta nas redes sociais pelo senador Aécio Neves
(PSDB-MG).
Ele instou o candidato a falar
sobre "infiltração cubana" no programa Mais Médicos e denúncias de
corrupção no governo Dilma.
Na época da posse do general no
GSI, o órgão informou que Peternelli foi incorporado ao Exército em fevereiro
de 1970, na escola preparatória de cadetes em Campinas (SP).
Tornou-se aspirante a oficial de
arma de infantaria em dezembro de 1976 e se especializou como "piloto
militar de combate". Conforme o GSI, ele comandou a Aviação do Exército em
Taubaté (SP) e a 2ª Região Militar.
Procurado, o presidente nacional
do PSC, Pastor Everaldo, desconversou quando indagado se havia indicado algum
nome, em especial o do general, para a presidência da Funai. Ele disse que não
conversa com o governo sobre cargos, só sobre "assuntos de interesse do
país".
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