Aécio Neves e Michel Temer
tiveram conversa em jantar oferecido por ministro do STJ
Rogério
Rosso seria o candidato; tucanos querem apoio para candidatura em 2017
Conversa
entre aliados.
POR JÚNIA GAMA E LETÍCIA FERNANDES
O Globo
BRASÍLIA — Pressionado pelo
presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o presidente interino,
Michel Temer, tenta um acordo com a antiga oposição, composta por PSDB, DEM,
PPS e PSB, para viabilizar uma sucessão na Câmara com um nome de interesse do
peemedebista. Na semana passada, Temer procurou o presidente do PSDB, senador
Aécio Neves (MG), em busca de apoio a um deputado do centrão que assuma o
mandato-tampão de presidente da Câmara até o final deste ano.
Na conversa ocorrida no Palácio
do Jaburu, Temer explicou a Aécio que desejava ajudar na eleição de um
presidente da Câmara que não trabalhe pela cassação do mandato de Cunha. O nome
que melhor se encaixa nesse perfil, na análise do Palácio do Planalto, é o do
deputado Rogério Rosso (PSD-DF).
Há resistências entre os
partidos da antiga oposição, mas elas podem ser superadas — desde que haja um
compromisso de apoio, por parte do governo e do PMDB, a um integrante de PSDB,
DEM, PPS ou PSB para presidir a Câmara entre 2017 e 2019.
PLANALTO
NEGA INTERFERÊNCIA
Segundo relatos, Temer
demonstrou preocupação com Cunha, que tem buscado a ajuda do governo para não
ter o mandato cassado. No encontro com o presidente interino, Aécio deixou
claro que qualquer tipo de apoio da antiga oposição a Rosso depende de uma
reciprocidade ano que vem.
Esta condição, na avaliação de
auxiliares de Temer, pode atravancar o acordo. No centrão e no PMDB há
candidatos que desejam disputar a presidência da Câmara no próximo ano. O
Palácio do Planalto negou que pretenda interferir nessa eleição.
— Até admitiríamos um nome
transitório agora, desde que haja um compromisso do Michel e do PMDB com esses
partidos para o próximo ano. Não tem sentido o PMDB ficar novamente com a
presidência das duas Casas, e este núcleo de partidos que possibilitou o
impeachment de Dilma ficar de fora do comando — diz um tucano que participa das
articulações.
Está prevista para a semana que
vem uma reunião entre líderes da antiga oposição para que seja firmado um
núcleo de ação conjunta. Há o temor de que, se não trabalharem unidos, esses
partidos sejam atropelados pelas outras siglas que formam a base do governo
Temer. Deputados da antiga oposição dizem que está fora de discussão a
negociação de votos para salvar o mandato de Cunha.
REUNIÃO
COM MINISTRO DO STJ
A aliados, Temer tem dito que
não quer disputas na Câmara, porque isso pode desagregar a sua base, hoje com
cerca de 350 deputados. Temer e Aécio voltaram a se encontrar na noite de
terça-feira, em jantar oferecido pelo ministro do Superior Tribunal de Justiça
(STJ) João Otávio Noronha, em comemoração à sua escolha como corregedor-geral
do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Na ocasião, conversaram brevemente e
ficaram de voltar a se reunir.
A ideia é ter um acordo o mais
breve possível, já que a renúncia de Cunha à presidência da Câmara está
prevista para o próximo mês. Interlocutores de Cunha dizem que ele está
disposto a apresentar sua renúncia em 11 de julho, antes da votação do
relatório sobre o processo de cassação do seu mandato na Comissão de Constituição
de Justiça (CCJ).
A renúncia seria um gesto para
tentar convencer seus colegas a não aprovar a cassação de seu mandato. Ao
GLOBO, porém, Cunha voltou a negar que pretende renunciar: “Não existe
renúncia”, disse, por mensagem de texto.
As contas que chegam aos líderes
na Câmara são de que Cunha teria a seu favor cerca de 28 votos de um total de
66 integrantes na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara. Para
aprovar o recurso a seu favor e devolver o caso ao Conselho de Ética — o que
faria o processo contra Cunha retroagir praticamente à estaca zero —, o
presidente afastado da Câmara precisa de maioria simples (metade mais um do
total de presentes à sessão).
AUXILIARES:
CUNHA PRETENDE RENUNCIAR
Auxiliares na defesa de Cunha junto
ao Supremo Tribunal Federal (STF) têm garantido a interlocutores que ele
pretende renunciar ao cargo. Além do gesto político, destacam que a renúncia
poderá lhe trazer efeitos benéficos. Os processos de que é alvo no STF
deixariam de ser julgados pelo plenário da Corte — foro reservado aos
presidentes da Câmara e do Senado — e iriam para a Segunda Turma do tribunal,
comandada pelo ministro Gilmar Mendes. Além disso, os julgamentos na Segunda
Turma não são televisionados, o que diminuiria a pressão sobre os ministros
para condenar Cunha.
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