Ex-ministro de Minas e Energia, senador é alvo de inquérito que investiga se ele lavou dinheiro em negócios da Diamond Mountain
ANDREZA MATAIS, TALITA FERNANDES E FÁBIO FABRINI
O ESTADO DE S. PAULO
BRASÍLIA
- O senador e ex-ministro de Minas e Energia Edison Lobão (PMDB-MA) é
suspeito de ser sócio oculto de um grupo de empresas sediado nas Ilhas
Cayman, conhecido paraíso fiscal caribenho. Inquérito aberto em
fevereiro deste ano no Supremo Tribunal Federal apura sua participação
na holding Diamond Mountain (em português, Montanha de Diamante),
voltada, no Brasil, para a captação de recursos de fundos de pensão de
estatais, fornecedores da Petrobrás e empresas privadas que recebem
recursos de bancos públicos, como o BNDES, áreas de influência do PMDB.
Mensagens. Primeiro mostra proximidade; segundo traz uma recomendação do ministro
Lobão,
que comandou a pasta de Minas e Energia nos governos Lula (2008 a 2010)
e Dilma (2011 a 2014), é investigado sob suspeita de lavagem de
dinheiro e ocultação de bens, conforme consta do documento de
instauração do inquérito, que foi autorizado pelo ministro Luiz Roberto
Barroso. O ex-ministro também é alvo da Operação Lava Jato, sob suspeita
de ter recebido propina do esquema de corrupção na Petrobrás, empresa
vinculada à pasta de Minas e Energia.
O
inquérito Diamond Mountain foi aberto a partir de declarações de um
ex-sócio que se diz lesado por outros dirigentes do grupo. Aos
investigadores ele contou que Lobão se associou à holding de forma
oculta entre 2011 e 2012. O ex-ministro seria representado nas empresas
pelo advogado maranhense Marcio Coutinho, que foi secretário de
articulação política da campanha derrotada de Lobão Filho (PMDB) ao
governo do Maranhão em 2014 e advoga para ele no Supremo.
Num
dos depoimentos, o ex-dirigente da Diamond Mountain diz que Coutinho e
seu colega de escritório, Vinícius Peixoto Gonçalves, tinham reuniões
semanais com sócios do grupo em São Paulo para “acompanhar o negócio em
nome do ministro Lobão.” A banca de Coutinho chegou a ter uma sala no
mesmo prédio da Diamond.
A
holding está registrada em Cayman e no Brasil em nome do advogado
Marcos Costa e do empresário Luiz Alberto Meiches. Os dois são alvos de
inquérito aberto em São Paulo que trata do mesmo assunto. No caso de
Lobão, a investigação foi remetida ao Supremo porque, como senador, ele
tem prerrogativa de foro.
Mensagens
No
inquérito constam e-mails dos dois, nos quais citam reuniões com o
então ministro em Brasília, em 2011, para tratar de negócios das
empresas. Recebi uma ligação do ministro Lobão me pedindo para que eu me
reúna com ele amanhã no ministério. (ele pediu para que eu fosse
sozinho), disse em mensagem a funcionários da Diamond em 1º de junho de
2011.
Lobão
nega participar da sociedade e diz desconhecer a investigação no
Supremo. Ele confirmou ter recebido Costa e Coutinho uma única vez no
ministério para tratar de “assuntos relacionados ao setor energético”. A
audiência, contudo, não constou da agenda oficial.Os e-mails indicam,
porém, que houve outros encontros.
Ex-funcionários
da holding no Brasil disseram ao Estado, sob a condição de anonimato,
que eram frequentes as conversas dos sócios com Lobão, quando ele ainda
chefiava a área de energia do governo federal. No dia a dia do grupo, o
então ministro era tratado por “Big Wolf” e “Tio”. O grupo Diamond
também atua na compra e venda de empresas, operações de seguros e no
mercado imobiliário.
A
Diamond Mountain Cayman Holding tem cinco subsidiárias no Brasil, entre
elas a Diamond Mountain Investimentos e Gestão de Recursos. A empresa é
gestora de fundos de investimento e prospecta recursos de fornecedores
da Petrobrás e entidades de previdência como Petros (Petrobrás), Previ
(Banco do Brasil), Funcef (Caixa) e Núcleos (Eletronuclear). O Postalis,
de funcionários dos Correios, tem R$ 67,5 milhões no Fundo de
Investimento em Participações Mezanino Diamond Mountain Marine
Infraestrutura, gerido pela Diamond desde 2014. Lobão tem indicados em
duas diretorias da entidade.
COLABORAÇÃO DE MURILO RODRIGUES ALVES
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