O Ministério Público de Goiás ouviu, nesta quarta-feira
(21/3), os padres Mário Vieira de Brito e Moacyr Santana, de
Formosa, além do secretário da Cúria, Guilherme Frederico Magalhães,
ambos presos no âmbito da Operação Caifás, que aponta desvio de mais de
R$ 2 milhões em paróquias do Entorno do Distrito Federal. Segundo o
promotor Douglas Chegury, os depoimentos foram marcados por contradições
e “amnésia seletiva”.
Nessa
terça (20), foram ouvidos o padre Waldson José de Melo, de Posse (GO),
Antônio Rubens Ferreira e Pedro Henrique Costa Augusto. Rubinho e Pedro
seriam laranjas no esquema criminoso que fraudava dízimos e taxas dos fiéis. O grupo estaria agindo desde 2015. No centro das denúncias está dom José Ronaldo, bispo de Formosa, também preso pela Caifás.
Durante a operação, deflagrada na segunda-feira (19),
o promotor encontrou, entre outros produtos de luxo na casa dos nove
acusados, R$ 135 mil em dinheiro. O valor estava na residência do
monsenhor Epitácio Cardozo, em Planaltina de Goiás. Os suspeitos também
teriam aplicado os recursos desviados em bens, como uma lotérica em
Posse, adquirida por R$ 450 mil, e fazendas.
Um dos advogados de defesa dos religiosos, Bruno Opa disse
que os suspeitos não cometeram nenhuma irregularidade. “A fazenda e a
lotérica são frutos de um trabalho árduo dos padres”, afirmou, deixando
os fiéis que estavam no local dos depoimentos revoltados. “Que padre
trabalhador! Mentiroso!”, falavam. Ainda conforme ressaltou Bruno Opa, o
dinheiro achado no fundo falso de um armário na casa do monsenhor se
justifica por ser o religioso um representante da paróquia da cidade.
Clima de revolta
A prisão dos religiosos chocou Formosa. Alguns fiéis foram para a frente
do MP da cidade nesta quarta. Enquanto os suspeitos prestavam
depoimentos, eles rezaram e cantaram. Em clima de medo, muitos não
quiseram expor o nome ou rosto. Segundo alegação do grupo, apesar de os
suspeitos estarem presos, pessoas “perigosas” ligadas a eles poderiam
querer atingir os membros da Igreja Católica de alguma forma.
Eles ressaltaram, ainda, o desejo por justiça e “intervenção
divina”. “Estamos aqui na fé que nos mantém. Se é um câncer, vamos
retirá-lo!”, disse uma das representantes da Capela São Bento São Paulo,
que pediu para não ser identificada.
“Ponta do iceberg”
A expectativa do Ministério Público é de que até sexta-feira (23), quando vence o prazo de prisão temporária dos envolvidos, essa fase da Operação Caifás seja concluída. “Todos falaram e apresentaram suas versões, mas houve contradições e amnésia seletiva nos depoimentos prestados”, explicou o promotor Douglas Chegury.
Para ele, essa fase da operação é apenas a ponta do iceberg.
“Existe uma cifra negra de crimes que são praticados e, muitas vezes,
não vem à luz do dia ou não se consegue a prova, ou demanda mais tempo
de investigação. Pode ser que novos fatos venham à tona, à medida que
outras pessoas sejam ouvidas e a análise dos documentos seja feita”,
destacou.
Os religiosos estão na nova cadeia de Formosa. Por questões
de segurança, ficam separados dos presos considerados de alta
periculosidade. Após oferecer denúncia contra os acusados, o MP pretende
pedir a prisão preventiva deles.
Uma grande quantidade de documentos ainda está sendo
analisada, mas a previsão é de que sejam oferecidas denúncias por
apropriação indébita, associação criminosa, lavagem de dinheiro,
falsidade ideológica, podendo chegar de 10 a 20 anos de prisão, se
condenados.
Em meio aos depoimentos, dom Paulo Mendes Peixoto, arcebispo
de Uberaba (MG), foi nomeado o administrador interino da diocese de
Formosa pelo Papa Francisco.
Para os fiéis, a vinda de um novo sacerdote reacende a fé na Igreja.
“Vivemos de esperança em Cristo e em nossa Senhora”, disse uma católica. (Com informações de Simonny Santos)
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