RICARDO GALHARDO
ENVIADO
ESPECIAL/JOÃO PESSOA
O ESTADO DE S.PAULO
Indagada sobre a delação do
ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado que cita diretamente o presidente em
exercício Michel Temer, a presidente afastada Dilma Rousseff disse nesta
quarta-feira que um dos objetivos do processo de impeachment é evitar que a
Lava Jato atinja integrantes do governo do PMDB e seus aliados, entre eles o
deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), alvo de pedido de cassação.
“Há uma tentativa que deu certo
quando a solução Temer virou um processo de impeachment de evitar duas coisas.
De um lado submeter (ao País) o que você acredita, a sua pauta. E a outra é
impedir que o processo de investigação atinja integrantes do governo
provisório”, afirmou Dilma depois de participar de um evento em João Pessoa.
A presidente afastada disse
ainda não ter tido acesso ao teor da delação de Machado. Segundo ela, suas
conclusões se baseiam em uma frase do senador Romero Jucá (PMDB-RR) gravadas
pelo ex-presidente da Transpetro: “Tem que mudar o governo para poder estancar
essa sangria”. Dilma reiterou que os acontecimentos posteriores ao seu
afastamento deixam mais clara a “forte relação” entre Temer e Cunha.
A presidente iniciou ontem um
giro de três dias pelo Nordeste, região onde teve a maioria dos votos nas
eleições de 2010 e 2014 e mantém os melhores índices de aprovação.
Audiência
Acompanhada pelo governador da
Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB), contrário ao impeachment, a petista participou
de uma audiência pública convocada pela Assembleia Legislativa sobre a
democracia brasileira que se transformou em um ato contra o governo Temer.
Para poder receber um número
maior de pessoas, a audiência foi realizada no Espaço Cultural José Lins do
Rêgo, administrado pelo governo estadual. O local não estava completamente
lotado, mas milhares de pessoas, boa parte militantes de movimentos sociais,
foram manifestar apoio e ovacionaram Dilma.
Embora um dos objetivos da
caravana pelo Nordeste seja reverter o impeachment no Senado, a chance de mudar
o voto dos senadores paraibanos é mínima. Cássio Cunha Lima (PSDB), José
Maranhão (PMDB) e Raimundo Lira (PMDB) são aliados de Temer e foram favoráveis
ao processo.
Ambulância
Segundo Dilma e Coutinho, o
governo federal se recusou a liberar uma ambulância do SAMU e batedores da
Polícia Rodoviária Federal para acompanhar a visita da presidente afastada.
“Este é um direito meu, líquido e certo. Eu tenho direito a segurança. Isso
apavora eles. Se a minha segurança for comprometida a responsabilidade é do presidente
da República, sob exercício provisório do Temer. Isso é a mesquinharia do
Temer”, disse ela.
Segundo Dilma, o governo Temer
cortou R$ 17 milhões que haviam sido liberados para o término das obras de um
viaduto na capital paraibana. Ela chamou a atitude de “patrimonialista”.
“Confundir o público com o privado é a base da visão que leva à corrupção. É
achar que o dinheiro público pode ser desviado.”
Em seu discurso, a presidente
afastada voltou a mostrar simpatia pela ideia de um plebiscito para decidir,
entre outras coisas, sobre a possibilidade de convocação de novas eleições.
Segundo Dilma, o modelo de
governabilidade adotado desde a Constituição de 1988, baseado no “toma lá dá
cá” se esgotou e o Brasil precisa de um novo pacto político que passe pelo voto
popular. “Acho que esse toma lá dá cá já deu o que tinha que dar e não é só por
uma questão ética, é sobretudo porque o padrão, o modelo, se esgotou. Ele não
dá conta do Brasil. Tanto que uma parte dos meus ministros mudou literalmente
de lado.”
A petista admitiu que não existe
consenso sobre o formato e conteúdo do plebiscito e que a iniciativa não cabe
ao presidente e sim ao Legislativo mas defendeu a participação popular na
elaboração de uma saída para a crise política. Hoje Dilma participa tem agenda
em Salvador e amanhã no Recife.
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