06 junho, 2016

Janot pede inquérito contra Renan, Jucá e Sarney ao Supremo

 
Jailton de Carvalho
O Globo
 
BRASÍLIA — O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu abertura de inquérito contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), os senadores Romero Jucá (PMDB-RR), o ex-presidente José Sarney e outros políticos do PMDB. Todos eles estão no pedido enviado por Janot ao ministro Teori Zavascki, relator dos processos da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), por terem sido acusados pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado de receberem propinas. A informação foi divulgada neste domingo pelo “Fantástico”, da Rede Globo, e confirmada pelo GLOBO.

No sábado, O GLOBO revelou que, em depoimentos da delação premiada, Sérgio Machado disse que distribuiu mais de R$ 70 milhões em propina de contratos da estatal para Renan Calheiros, Romero Jucá e José Sarney, entre outros líderes do PMDB. Segundo Machado, o valor mais expressivo, de R$ 30 milhões, foi destinado a Renan, o principal responsável pela indicação dele para a presidência da Transpetro, subsidiária da Petrobras e maior empresa de transporte de combustível do país.

Machado disse ainda que repassou cerca de R$ 20 milhões para Sarney durante o período que esteve à frente da estatal. Romero Jucá — que ficou uma semana como ministro do Planejamento do governo Michel Temer — também recebeu aproximadamente R$ 20 milhões.

Sérgio Machado fala sobre altas somas em propinas com autoridade. A partir do acordo de delação, ele próprio se comprometeu a devolver aproximadamente R$ 100 milhões, fortuna acumulada com desvios de contratos entre grandes empresas e a Transpetro.

LOBÃO E JADER TAMBÉM IMPLICADOS
Machado disse que abasteceu também as contas dos senadores Edison Lobão (PMDB-MA) e Jader Barbalho (PMDB-PR). As acusações são consideradas devastadoras, pois Machado indicou os contratos fraudados e os caminhos percorridos pelo dinheiro até chegar aos parlamentares. Relatou que o dinheiro era desviado de contratos firmados entre a Transpetro e grandes empresas. O esquema funcionou durante todo o período em que Machado esteve à frente da Transpetro, de 2003 até ano passado.

A estrutura de arrecadação de propina e lavagem de dinheiro seguiu padrões tradicionais. O dinheiro passava por várias pessoas até chegar ao políticos mencionados por Machado. Em alguns casos, foi entregue diretamente ao interessado.

Machado deixou claro que o dinheiro era para custear campanhas e para pagar despesas pessoais. E também disse que arrecadava e repassava a propina pois achava ser esta a missão dele, ou seja, garantir retorno financeiro ao grupo político responsável pela sustentação dele à frente da estatal.

Renan Calheiros indicou Machado para a presidência da Transpetro em 2003, no início do primeiro mandato do ex-presidente Lula, e manteve apoio à permanência dele no cargo até ano passado, mesmo depois de ter sido acusado por Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, de receber propina.

A indicação teria ainda apoio de Jucá, Sarney e Lobão, entre outros líderes do PMDB. A combinação dos grampos feitos por Machado com os depoimentos dele e do filho, Expedito Machado, deixa Renan, Sarney e Jucá em situação extremamente delicada.

Nas conversas gravadas por Sérgio Machado, Renan Calheiros, Jucá e Sarney aparecem discutindo meios de barrar as investigações da Operação Lava-Jato. Num dos diálogos, Renan defende mudança na lei para dificultar delações premiadas. Jucá fala no impeachment de Dilma Rousseff como uma forma de “estancar a sangria” da Lava-Jato. José Sarney sugere a escalação dos advogados César Asfor Rocha, ex-presidente do Superior Tribunal de Justiça, e Eduardo Ferrão para conversar com o ministro Teori Zavascki.

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