André Borges e Fabio Serapião / Brasília
O senador Edison Lobão, ex-ministro de Minas e Energia. Foto: Dida Sampaio/Estadão |
O ex-ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, é acusado de ter
recebido R$ 5,5 milhões em propina pela Odebrecht, com o propósito de
rever o resultado do leilão da usina, para que a empreiteira de Marcelo
Odebrecht assumisse o empreendimento.
Lobão, que recebe o nome de ‘Esquálido’ nas planilhas do departamento
de propinas da Odebrecht, teria cobrado uma contrapartida após reunião
com os executivos da empreiteira. “Ele sinalizava que iria nos ajudar. E
que precisava de nossa ajuda, de propina”, declarou o delator Henrique
Serrano do Prado Valadares, ex-executivo da Odebrecht na área de
energia.
“Marcelo acreditou nisso. Sem que ele (Lobão) entregasse nada,
simplesmente para que ele fizesse um esforço de, usando nossos
argumentos, que eram verdadeiros e absolutamente legais, ele criasse um
contraponto na Casa Civil, para isso surgiu um pagamento de R$ 5,5
milhões. Com certeza, caixa 2”, afirmou o delator.
O caso se deu em 2008. A Odebrecht liderava um consórcio que
disputava a usina e ameaçava ir à Justiça para questionar a proposta do
consórcio vencedor do leilão, Energia Sustentável do Brasil, liderado
pela empresa Suez. “Havia reuniões entre as empresas. Marcelo perdia a
cabeça com o cinismo do pessoal da Suez e queria bater no cara”,
referindo-se ao presidente do grupo Suez no Brasil, Maurício Bähr.
Para Marcelo Odebrecht, a Suez teria feito um acordo com a Casa Civil
para permanecer no negócio. Maurício Bähr teria “jurado pelos filhos”
que não tinha feito acordo nenhum. “O Marcelo chegou para ele e disse:
Mauricio, você está sendo patético”, contou o delator, acrescentando que
Lobão chegou a apartar os dois.
O pagamento da propina, afirmou Valadares, foi feito em algumas
ocasiões, com entrega de dinheiro diretamente na casa do filho de Lobão,
Márcio Lobão, no Rio de Janeiro. Em fevereiro, a Polícia Federal fez
busca e apreensão na residência de Márcio.
Sobre ex-senador Lobão Filho, o delator afirmou que, em encontros em
São Paulo, Lobão Filho falava que podia ajudar a Odebrecht em obras, mas
que isso exigia contrapartidas da empreiteira.
Em suas reuniões com o ministro Lobão em Brasília, Valadares disse
que era recebido no gabinete com gaspacho, uma tradicional sopa
espanhola. “Ele é magro que nem um palito, e se alimenta a base de
gaspacho”, disse Valadares.
Depois de acertar os pedidos e propinas, disse o delator, Lobão pedia
para que o “fiscal” entrasse no gabinete, para registrar os temas e
discussões feitas durante o encontro.
Em nota, por meio dos seus advogados, o senador afirmou que “repudia
mais uma vez o reiterado vazamento de informações sigilosas e esclarece
que está buscando o devido acesso legítimo e oficiais a tais documentos
perante o STF”, afirmou.
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