A greve geral que parou o Brasil nesta sexta-feira já entrou para a
história como uma das principais mobilizações políticas de nosso país.
Como cidadão, lamento muito que medidas extremas como essas estejam
sendo necessárias, por falta de diálogo e de adequada compreensão acerca
de qual a melhor agenda para o Brasil sair da crise.
Além do vigor de nossa sociedade civil, essa manifestação emite dois
sinais essenciais para pensar o Brasil hoje. Em primeiro lugar, foi uma
mensagem eloqüente de que a imensa maioria da população, que vive
exclusivamente das rendas do trabalho, não aceitará pagar o preço da
crise econômica por meio do corte unilateral de direitos. É também uma
mensagem a todas as instituições do mundo político: é hora de abrir o
diálogo com a sociedade, pois somente ditaduras impõem suas vontades
contra a Constituição.
Ficou evidente a rejeição ampla a uma pauta errada que tentam fazer
passar pelo Congresso Nacional e que nada tem de moderna. Com efeito,
moderno mesmo seria tributar os lucros dos bancos, as rendas do capital e
as heranças dos milionários, como a maioria dos países do mundo faz,
inclusive na Europa e nos Estados Unidos. Moderno mesmo seria rever
aposentadorias de privilegiados que ganham R$ 70 mil por mês ou até
mais, e ainda se acham com direito de condenar quem está defendendo seu
benefício de 1 salário mínimo.
Para além da questão humanitária e de justiça social, tampouco há
razão econômica para as reformas colocadas em pauta. É inútil o esforço
de tentar convencer a população de que ela precisa de menos direitos
para gerar mais empregos. Há poucos anos atrás, tivemos a menor taxa de
desemprego da história do país em plena vigência da CLT (Consolidação
das Leis Trabalhistas). Isso porque, em um amplo mercado de consumo como
o Brasil, quanto mais dinheiro circular na economia, maior será o
efeito positivo para todos. Mesmo no terrível período da ditadura
militar, houve crescimento econômico sem mexer na CLT.
Portanto, não iremos superar uma de nossas maiores crises econômicas
com restrição de direitos. Simplesmente porque elas reduzem os ganhos
dos trabalhadores e jogam o país em um ciclo depressivo. E o resultado é
o que estamos a assistir: desemprego derruba consumo, que derruba
arrecadação, o que alimenta crise fiscal e faz faltar dinheiro para
investimentos públicos. E sem investimentos públicos, a economia não
cresce, em país nenhum.
Para além do debate sobre as pautas da Greve Geral, há uma mensagem
que se impõe de forma límpida. A de que é o momento dos agentes
políticos, de todos os campos ideológicos, atinarem-se para a
necessidade de ponderação.
Nossa missão, como políticos, deve ser a de buscar construir um mundo
de justiça para todos. Aprofundar as desigualdades, em um país tão
desigual como o nosso, não nos levará a bom termo. Precisamos ir em
direção a outra agenda, de uma verdadeira reforma tributária que corrija
as graves distorções em nosso país. Vejam que no Maranhão, só de
fraudes fiscais, encontramos cerca de R$ 1 bilhão subtraídos, que
poderiam ter virado saúde, policiais e escolas.
É preciso que as instituições do mundo político suspendam essa agenda
errada das “reformas” e dialoguem mais. Mudanças legais podem ser
feitas, mas em outro ritmo e de outra forma. Aqueles que, nesse momento,
apostam na destruição da política terão apenas mais do mesmo: um país
polarizado e sem instâncias organizadas de mediação. Quanto mais medidas
de confronto, mais o país sofrerá e irá demorar a se livrar dessa
devastadora crise que já chega a 14 milhões de desempregados. A paz é
fruto da justiça, e é disso que o Brasil precisa agora.
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