Vinte e sete de outubro. O dia que, a princípio, não remete a nenhum evento específico, provoca lembranças amargas no torcedor do São Caetano. Foi nesta data, há exatamente 12 anos, que Serginho sofreu uma parada cardiorrespiratória e morreu minutos depois da partida entre São Paulo e São Caetano, pelo Campeonato Brasileiro de 2004. A tragédia dificilmente sairá da mente de quem estava no Morumbi naquela fria noite de quarta-feira. 
                                     
Fabrício Carvalho é a prova disto. Atacante do São Caetano na fatídica partida contra o São Paulo, o ex-jogador estava em campo no momento em que Serginho desabou no gramado. E, acreditem, ainda se recorda de todos os momentos que marcaram aquele jogo. 

"Eu me lembro com muita tristeza daquela fatalidade. O São Caetano vivia uma fase exuberante, havia acabado de ganhar o título paulista e estava se destacando muito no Campeonato Brasileiro. No exato momento em que o Serginho caiu desacordado, eu não estava tão perto dele. E nem quis me aproximar muito. O que me restou foi ajoelhar no gramado e pedir a Deus pela vida do Serginho", afirmou Fabrício, em entrevista exclusiva a Felipe Altarugio que vai ao ar no próximo fim de semana, na Rádio Jovem Pan.
 

 
Àquela altura, a partida, válida pela 38ª rodada do Campeonato Brasileiro, estava empatada por 0 a 0. Ela foi paralisada aos 15 minutos do segundo tempo. Serginho saiu de campo de ambulância e morreu minutos depois, no Hospital São Luiz. Mesmo assim, os jogadores das duas equipes tiveram de disputar o restante do confronto uma semana depois, no mesmo Morumbi que havia sido palco de uma das maiores tragédias da história do futebol brasileiro. 
 
O fato ainda revolta Fabrício Carvalho. "Aqui no Brasil, infelizmente, jogador não tem voz ativa. Nós não queríamos jogar os minutos que faltavam daquele jogo. Fomos obrigados a terminar a partida", revelou, tendo participado do "mini-confronto" de 31 minutos disputado uma semana depois da morte de Serginho – o São Paulo venceu por 4 a 2. "Entramos em campo só de corpo, porque a mente estava com o Serginho", justificou Fabrício. 
 
"No momento em que estávamos no ônibus e soubemos da morte do Serginho, o nosso ano acabou. Foi muito difícil. Nunca imaginamos que aquilo poderia acontecer com um atleta do porte dele. Ele tinha muita força e era muito dedicado nos treinos. Chocou muito a nossa equipe. Voltamos para São Caetano muito abalados. Não acreditávamos que, quatro horas antes, o Serginho estava com a gente no ônibus indo para o jogo", acrescentou o ex-atacante.
 
 
Então quarto colocado do Campeonato Brasileiro, o São Caetano foi responsabilizado pela morte de Serginho e perdeu 24 pontos por causa da tragédia. Além disto, o médico Paulo Forte foi suspenso por quatro anos e o então presidente do clube, Nairo Ferreira de Souza, pegou duas temporadas de gancho. 
 
Doze anos depois, Fabrício Carvalho não sabe de quem foi a culpa pelo óbito. "É difícil de dizer se houve algum culpado, se alguém teve responsabilidade pela morte do Serginho. Foi algo muito triste. Acho que, se as pessoas soubessem da gravidade do problema dele, não teriam arriscado e o colocado para jogar. Mas fica essa dúvida até hoje", afirmou, embora classifique como falho o atendimento ao ex-jogador.
"O atendimento foi muito demorado. Naquele dia, o motorista da ambulância estava assistindo ao jogo, acho que até no segundo anel do Morumbi... Ele demorou muito para entrar em campo, e não tinha desfibrilador. Acho que, se o atendimento tivesse sido mais rápido, poderia ter salvo a vida do Serginho. Nunca se sabe. Infelizmenteas pessoas esperam acontecer algo trágico para tomar providências", reclamou.

 
 
E Fabrício Carvalho sabe bem disto. O ex-atacante, afinal, foi afastado do futebol meses depois da morte de Serginho. Exames apontaram alterações nos batimentos cardíacos do jogador, que, por temor por uma nova tragédia, foi impedido pelo São Caetano de jogar profissionalmente. Foram dois anos longe dos gramados. 
 
"Depois da morte do Serginho, tudo mudou drasticamente. Eu falo por mim, mesmo. Quando iniciei no futebol, mal fazia exames. E, depois da morte do Serginho, eu praticamente virei um rato de laboratório", afirmou Fabrício Carvalho, que, depois de ser reprovado nos exames de esteira em 2005, só voltou a jogar futebol em 2007, pelo Goiás. 
 
Hoje aposentado, o ex-atacante é dono de uma associação que realiza trabalho social em Andradina, no interior de São Paulo, e também trabalha no agenciamento de atletas. Além disto, começou a se arriscar no concorrido mercado da música gospel – como compositor e cantor.
 
 
 
Jovem Pan