
O Globo – O jornal americano ” New York Times ” destacou em editorial que a ascensão do candidato Jair Bolsonaro
(PSL) na disputa pela Presidência do Brasil configura “um dia triste
para a democracia”. No texto, publicado neste domingo, o diário lamenta
que “a desordem e o desapontamento” distraiam os eleitores e os “façam
abrir as portas para populistas ofensivos, cruéis e teimosos”. Na visão
da publicação, o “tempestuoso” militar brasileiro tem “visões
repulsivas” e, ainda assim, deve sair vencedor contra Fernando Haddad
. O petista, diz o “NYT”, “falhou em superar a associação de seu
partido com a corrupção e a má gestão” na campanha, apesar da
popularidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, barrado pela
Ficha Limpa.
O texto, intitulado “A Escolha Triste do Brasil”, começa com a
descrição de episódios polêmicos da carreira do deputado Bolsonaro. O
diário americano lembrou, por exemplo, de quando o parlamentar disse
preferir ver um filho morto a um filho gay e de quando ele criticou o
peso e a preguiça de quilombolas. A publicação ainda cita a “nostalgia”
do militar por “generais e torturadores” que comandaram o país no
passado. Mesmo com esse pano de fundo, ressalta o “NYT”, as opiniões
“grosseiras” do candidato são interpretadas como franqueza, a “carreira
obscura” como congressista vira “promessa de outsider” e a proposta de
“mão de ferro” é vista como esperança para a crise da segurança pública.
“Soa familiar? Ele é o mais recente da longa lista de populistas que
surfaram na onda do descontentamento, da frustração e do desespero até o
posto mais alto do governo em cada um de seus países. Não surpreende
que ele seja descrito como o Donald Trump brasileiro”, lê-se no
editorial do jornal, que se opôs à candidatura do agora presidente
americano em 2016.
Em setembro, a tradicional revista britânica “The Economist” publicou uma edição em cuja capa classificava Bolsonaro como ” a última ameaça da América Latina
“. Para a publicação, a eleição do militar seria “adição
particularmente desagradável ao clube” de populistas, formado ainda pelo
americano Trump, pelo filipino Rodrigo Duterte e pelo mexicano López
Obrador.
‘Desespero pela mudança’
O “News York Times” avalia que a ligação de petistas com esquemas
corruptos alimentou um espírito de “tudo menos o PT” no eleitor. Com a
pior recessão da História, as revelações da Operação Lava-Jato, a prisão
de Lula, o impeachment de Dilma Rousseff, a investigação do presidente
Michel Temer, a escalada de crimes violentos, os brasileiros entraram em
“desespero pela mudança”, segundo o jornal.
No dia seguinte ao primeiro turno, o “NYT” já havia destacado que a
divisão política no país favoreceu a ascensão de Bolsonaro. Os partidos
tradicionais estariam associados à corrupção, e o militar teria
encarnado a raiva e o desejo de desmantelar o status quo. Um texto de
opinião publicado no mesmo jornal em julho destacou que o candidato
coloca risco à democracia brasileira.
Alçado como resposta a este cenário, Bolsonaro é descrito como uma
mistura de conservadorismo social e liberalismo econômico – embora
“confesse ter entendimento superficial de economia”, reforçou o diário,
que vê no meio ambiente um dos principais perdedores com um eventual
governo do militar. Preocupa o “NYT” que um governo do PSL arrisque a
floresta Amazônica, retire proteções para abrir espaço ao agronegócio,
interrompa a demarcação de terras indígenas e abandone o Acordo de Paris
sobre a mudança climática. Tais medidas seriam defendidas “em um país
que, até recentemente, era elogiado pela liderança na proteção do meio
ambiente”, segundo a publicação.
“A decisão é dos brasileiros. Mas é um dia triste para a democracia
quando a desordem e o desapontamento levam eleitores à distração e abrem
as portas para populistas ofensivos, cruéis e teimosos”, escreve o
“NYT” no editoral.
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