Folha – A comunidade de
Monte Alegre, no interior do Maranhão, não era reconhecida como
quilombola quando o dia na casa de Maria de Jesus Ferreira Bringelo, a
dona Dijé, começava com o cheiro do café passado. Com a mesa posta,
chamava os filhos para comer antes de irem à escola, onde ela era
alfabetizadora.
Quando o sinal da saída batia ela pegava
o machadinho, um punhado de coco babaçu e saía a quebrá-los, como
outras mulheres da região. Foi assim que sustentou a casa e encontrou a
luta de sua vida.
Virou uma das fundadoras do Movimento
Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB) e, enfrentando
ameaças, brigou pela certificação do território.
Assim como a palmeira forte do babaçu,
dona Dijé tinha raiz fincada ali. Os bisavós dela faziam parte do grupo
de 12 escravos chegado à região da cidade de São Luís Gonzaga por volta
de 1870, que juntou um pedaço de terra doada com outra comprada a duras
penas.
“A relação dela com essa terra era de
amor, de pertencimento. Monte Alegre fazia parte da vida dela, ela se
sentia feliz aqui”, conta o filho mais velho, Ribamar. “Ela tinha um
grupo que era fiel. Ela dizia ‘vamos por aqui’, todo mundo colocava o pé
naquele mesmo lugar.”
Quando criança, Maria de Jesus foi
mandada à capital, São Luís, para conhecer as letras. Aos 13, já estava
de volta à casa da mãe e encontrou um retirante, que foi embora antes
que o filho que ela tinha na barriga nascesse.
Dijé voltou à escola aos 50 para completar o que tinha perdido, sendo aluna do próprio filho.
No dia 14 de setembro o coração grande
que atendia todo mundo acelerou mais do que devia. Ela morreu aos 70, e
foi enterrada no lugar que sempre quis livre para “nascer, viver,
germinar, parir e morrer”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário