Inaugurei ontem mais um espaço de
convívio comunitário em nosso Estado. A Praça Joãosinho Trinta, ao lado da
antiga RFFSA, é mais uma requalificação do espaço público em nossa capital. É
também uma justa homenagem ao carnavalesco maranhense que figura até hoje
nacionalmente como um dos maiores entre os de seu ofício. A praça, com uma
efígie do artista, virou ponto de parada obrigatória no Circuito da Beira Mar,
que estreamos ano passado e que se consolida no Carnaval deste ano.
João Clemente Jorge Trinta cravou
definitivamente seu nome na história da cultura brasileira em 1989 com o
desfile da Beija Flor. O samba-enredo era “Ratos e Urubus, rasguem minha
fantasia” e falava dos pobres que encontravam no Carnaval um dia de alegria.
Para ilustrar o enredo, Joãosinho foi literal. Fantasiou seus passistas,
anônimos ou celebridades, de mendigos. Considerado até hoje um marco na
história do Carnaval, o desfile impactou a nação.
Naquele fim dos anos 1980, o Brasil
estava tomado pela tristeza de um governo que não havia sido eleito e que,
perdido nos jogos de bastidor para se manter no poder, deixava a economia
afundar em crise. Era o tempo da hiperinflação, fruto de um governante cuja
visão oligárquica atrasada era evidentemente insuficiente para dirigir os
destinos da “Nova República”.
Neste cenário, o carnavalesco maranhense
colocou em cadeia nacional a pobreza que o Brasil oficial de então tentava
esconder. Ao montar o desfile com mendigos, Joãosinho cantava um Brasil que
também precisava entrar na passarela e mostrar a sua cara. Estava ali a síntese
do que ele depois veio a teorizar como a “Revolução da Alegria”: inspirar-se na
energia carnavalesca para mudar o Brasil o ano inteiro. “Se esse povo consegue
fazer esse espetáculo de alegria, pode fazer tudo”, defendia.
Nesses 30 anos que vivemos desde então,
a luta principal dos que acreditam na possibilidade de transformação de nosso
país é justamente essa. Mover-nos a partir da alegria que inspira nosso povo,
no carnaval e outras festas populares, para trabalhar por vida digna a todos.
Aqui no Maranhão, essa tem sido minha
rotina de luta nos três primeiros anos de governo. Todos os dias, vejo e ouço,
andando pelas ruas, relatos de pessoas que tiveram a vida mudada por uma ação
do governo. É o caso de Gabriel, um garoto de 10 anos que conheci esta semana,
na Vila Luizão. Ele é um dos milhares de usuários do programa Travessia, que
criamos e que atende gratuitamente pessoas com deficiência em varias regiões no
Maranhão. Foi emocionante e inspirador ver a alegria com que ele encara a vida.
Mesma energia genuína e esperançosa que vi no povo reunido neste período
carnavalesco.
Em um texto que escreveu em 1989 para
explicar seu desfile histórico, Joãosinho prognosticou: o país só poderia se
libertar por meio da “grande energia do nosso povo, quando ele tiver
consciência de sua força e de seu valor”. Que Joãosinho siga nos inspirando na
passarela da vida. E sigamos desafiando com nossa alegria os que querem a volta
da tristeza de todos para manter os privilégios de poucos.
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