EM OUTUBRO DE 
2013, DR. ANTONIO JALDO, FILHO DO SR. JALDO SANTOS, ENVIOU AO 
BARRADOCORDANEWS UMA JUSTA HOMENAGEM AO SEU QUERIDO E AMADO PAI. ANTONIO
 JALDO NOS DISSE NAQUELE MOMENTO "EU PRECISO FAZER ESSA HOMENAGEM AO MEU
 PAI E TENHO DE FAZER COM ELE AINDA AQUI CONOSCO". E CONSEGUIU COM ORGULHO. RELEMBRE.
A minha visão é psicanalítica, não tenho como escapar disso. Penso 
que o amor tem um traço, uma marca imperceptível da qual nunca vamos 
saber a respeito, mas que podemos identificar em alguém, em alguma coisa
 ou em um lugar. É algo que, sem saber, vemos no que amamos e é 
exatamente o que nos atrai, o que nos faz amar esse outro – esse alguém,
 esse algo ou lugar, que faz semblante – quer dizer, começa a ter a 
aparência daquilo que procuramos – daquilo que estamos sempre procurando
 e nunca encontrando. Como uma miragem, que identificamos. E meu pai fez
 isso. Quando chegou a Barra do Corda ele era um menino – um menino que 
se apaixonou. Ele teve uma paixão por Barra do Corda. 
Claro que 
ele foi levado pelos pais, mais podia ter saído em inúmeras 
oportunidades. Eu mesmo, que saí de lá com 15 anos, o chamei para 
conhecer outros lugares. Mas ele dizia “Não, Barra do Corda tem tudo o 
que eu quero. Tem as pessoas que eu gosto, tem as pessoas que gostam de 
mim. Vou fazer o que em outro lugar?” 
Tem pessoas que são de 
palavras, de letras, que escrevem. Já meu pai sempre foi um homem de 
ato. Ele fala pouco. Mas sei dele pelas suas atitudes. 
É um homem
 que tem o primário. Começou a vida fazendo cal para construção. No 
interior do interior. Depois foi morar na cidade, trabalhar como 
vendedor. Em seguida, fez sociedade com um concunhado e montou uma das 
primeiras farmácias da cidade. E, como vendia remédio, as pessoas 
provavelmente começaram a entender que ele podia receitar e tratá-las. E
 ele, muito audaciosamente, percebeu que aquilo tinha que ser feito, que
 ninguém mais faria. Então fez. Fazia pequenas cirurgias, arrancava 
dentes, receitava remédios – era procurado e ajudava. 
Eu já era 
adolescente quando chegou o primeiro médico. Lembro dele me falar “Olha,
 pega o carro, vai buscar o doutor Abreu, traz ele aqui que estou 
separando um material para ele”. A Fundação onde o doutor trabalharia 
não tinha quase nada. Assim ele entregou todo o material médico que 
tinha e, junto, entregou também a função. Nunca mais atendeu ninguém. O 
que entendo como uma postura ética. Havia chegado quem merecia aquele 
lugar por direito e ele se retirava dignamente. 
A música é outra 
de suas paixões. Apesar de não tocar absolutamente nada, lutou pela 
fundação de uma escola de música. Comprou os instrumentos e, junto com 
um grande amigo maestro, formou muitos alunos. Formou também os 
Populares do Ritmo, conjunto que proporcionou muitos momentos de lazer 
para Barra do Corda e cidades vizinhas. 
Também, com amigos ajudou a criar a Academia Barra-Cordense de Letras, tornando-se assim um de seus membros fundadores. 
Nunca
 se candidatou a nenhum cargo eletivo, apesar dos inúmeros pedidos da 
população, e de ser,  frequentemente, procurado por políticos como 
conselheiro e como homem de ação, que resolvia problemas públicos. 
Saneou ruas, tapou bueiros, arriscou-se na função de engenheiro. Foi 
Diretor- Presidente de Colégio e Juiz de Paz. 
Tomou a iniciativa 
de comprar um enorme grupo gerador, distribuiu postes de madeira pelas 
ruas e forneceu, durante muitos anos, a energia elétrica para a cidade. 
Também, colaborou ativamente na instalação e funcionamento da primeira 
Companhia Telefônica de Barra do Corda. 
As pessoas se perguntam 
por que tantas relações duram tão pouco, enquanto outras duram a vida 
toda. Não tenho resposta para isso, é um mistério. Mas acredito que não 
tem nada a ver com o saber, nem com o conhecimento. Tem mais a ver com a
 arte. Passa pela habilidade de manter uma fantasia viva por muito tempo
 – e é um esforço que tem que ser seu. Meu pai teve isso com todos os 
amores da vida dele. Ele sustentava seus amores, às vezes mesmo à 
revelia desses que amava. Tem isso com a mulher, com os filhos, e teve 
isso com a cidade, por mais que pudesse ser custoso para ele. Será que 
isso é que é fidelidade? Não a fidelidade ao outro – mas a fidelidade 
que comparece na relação com o outro, sendo uma fidelidade ao próprio 
desejo. 
Quando chegou à Barra do Corda,  absorveu a vida 
cotidiana da cidade com um amor enorme, pelo sofrimento e pela labuta 
das pessoas, como se fosse dali, apesar de ter vindo de outro lugar, com
 outros costumes. Mas ele tinha o ímpeto de fazer daquela a cidade dele.
 De forma que o diferente foi adotado, a ponto de ocupar lugares da lei,
 da saúde e se fazer um homem público. 
Hoje está com 87 anos e 
nunca ouvi ninguém dizer dele que fosse um forasteiro, nem acho que ele 
se via dessa forma. Foi acolhido e acolheu o que a princípio lhe era 
estranho. E seu nome paira pela cidade, deixando como legado o amor e a 
ética, que não é certamente a ética de levar vantagem em tudo,  mas é a 
de se satisfazer vendo a beleza e o crescimento da cidade. 
Incluir
 ou não o outro em nossa vida, não é uma escolha própria, na medida em 
que o sujeito se constitui através do outro. Se há alguma escolha, ela 
recai muito mais em quem é o objeto do nosso amor. O outro, quer se 
queira ou não, faz parte do sujeito. Agora, você pode, sim, incluir o 
outro não só como objeto de uso, no sentido de se aproveitar dele, para 
receber amor e prazer dele, mas como alguém através do qual e com o qual
 será possível efetuar trocas. Essa, em minha opinião, é uma lição que 
meu pai deixará. 
Por: Jaldo Nascimento Santos 
O Sr. Jaldo Pereira Santos, faleceu ontem, aos 87 anos, e deixa um grande legado de homem justo, colaborador e apaixonado por Barra do Corda.
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