Neste país alguns conceitos sobre qualquer coisa se
tornam imutáveis e absolutos. Agora, a moda está sendo a definição do prazo que
as pessoas deveriam ter protestado contra a realização da Copa.
Essa defesa vem de pessoas diversas, mas existe um
grupo maior que se julga superior aos demais, por seus membros se sentirem os
intérpretes corretos, os analistas precisos e os donos de intelectos
desmedidos. Tem um desprezo profundo contra quem pensa diferente sobre qualquer
coisa. Essa turma já está passando dos limites do bom senso sobre o que
defendem.
Essas pessoas têm algumas características
diferenciadas da massa. Algumas estão no governo, na maioria em cargos
comissionados, sempre escolhidos pelos requisitos de amizade, parentesco e
outros meios similares. Esse é o grupo de ferro. Quem pensa semelhante está
certo, é adequado, é valioso; quem discorda é retrógrado, equivocado e
despeitado. São os proprietários da virtude.
Para eles a “grande mídia” deve ser depreciada e
até hostilizada, porque está sempre coordenando os golpes, definindo as ações,
os gostos e escolhas dos alienados. Tudo que se veicula na grande mídia não
presta, mas nunca apresentaram a parte boa da mídia.
Esse pessoal agora está a favor da realização da
Copa, com um argumento que se aproxima do ridículo. No limite da desfaçatez,
defende até que “o que tinha de ser roubado, já foi”. E que o momento dos
protestos deveria ter sido na hora da escolha do Brasil como país-sede. Não
entende que a realização da Copa em si é um pretexto para as manifestações
contra todos os desmandos e abusos, de todos os tempos, que a competição
mundial somente ajudou a escancará-los.
Nem levam em consideração que ninguém foi
consultado sobre escolha alguma. Essa opção passou longe dos mortais. Com a
execução das obras escancaram-se os gastos astronômicos, como a diferença entre
estádios e essas pocilgas de hospitais públicos, por exemplo. E o processo de
reação de massa para assustar autoridades só ocorreu há um ano. Tanto que no
início, o desprezo pelas manifestações foi dilacerante. Geraldo Alckmin e
Arnaldo Jabor foram os exemplos mais acabados desse descaso.
Parte da imprensa “ruim” - ainda falta a
apresentação da boa – está indecisa entre apoiar abertamente o ufanismo
tradicional pela Copa, com medo do crescimento e da reação nos protestos.
E, além disso, há outra característica a ser
destacada dessa gente que é o exercício intenso da cidadania somente expresso
por escritos e verbalmente, já que são incapazes de erguerem a bunda do sofá
para qualquer coisa. Com a modernização, eles são o próprio conceito do que
seria uma cidadania meramente virtual.
Não assumem a própria incapacidade de protestar sob
qualquer hipótese, por mais justo que o motivo. Seguem a linha dos
comentaristas de economia e de futebol de que tudo deveria ter sido feito lá no
passado. São tão donos de si que esquecem o básico, e aí está o recado
principal, de que cabe exclusivamente a quem protesta definir o momento, onde e
como protestar.
Pedro Cardoso da Costa –
Interlagos/SP
Bacharel em
direito
"NÃO
HÁ DEMOCRACIA ONDE O VOTO É OBRIGATÓRIO"
Nenhum comentário:
Postar um comentário