Falar de hábitos reprováveis não é nada muito
fácil. Ao contrário, é bastante complicado. Ninguém assume suas más condutas.
Todo mundo gosta de enaltecer as suas boas práticas.
Definitivamente, ninguém deve mesmo se regozijar de
erros, pois se já são considerados assim é porque têm a reprovação social. E
variam de época e de lugares. Seria inimaginável um cumprimento com beijo no
rosto de uma muçulmana em um homem, tão comum aqui no Ocidente.
Esses exemplos ficam no campo individual, mas
algumas condutas coletivas precisam ser tratadas com mais delicadeza ou
urbanidade.
Na disputa por espaço a gentileza passa longe.
Quando se vai entrar num ônibus, metrô ou trem, as pessoas agem com selvageria.
Quem é mais fraco é esmagado. Em muitos casos a culpa não fica bem definida.
Uns aproveitam do aperto para empurrar os demais; outros não têm condições de
evitar o esbarrão; e alguns reclamam achando que aquela vítima, que está
prensando, também é um aproveitador. A barbárie é tão sem limite que as pessoas
não conseguem descer, em função de disputa por lugares de pé.
Os espaços reservados aos deficientes em garagens e
em transporte público são desrespeitados permanentemente. Já virou até
brincadeira nas redes sociais que o melhor remédio para dormir é sentar num
espaço reservado, pois a maioria finge dormir para não ceder a uma pessoa que
teria direito.
Outra face desse problema se verifica quando o
lugar deve ser cedido a homem, pois a maioria das pessoas tem resistência,
devido a uma percepção enviesada de que se trata de um aproveitador, de um
esperto. O entendimento errôneo inverso também é verdadeiro.
Da mesma forma que os lugares sem demarcação devem
ser cedidos sem limitação a quem precisa, também as pessoas sem necessidades
especiais podem ocupar os lugares demarcados quando estiverem livres. Muita
gente fica de pé por entender que esses espaços nunca podem ser ocupados.
O forte do brasileiro definitivamente é a
transgressão. Por isso, o sinal amarelo de trânsito em qualquer lugar do mundo
significa diminuir a velocidade para parar, menos no Brasil. Amarelou, é hora
de avançar. Todo pedestre esperto já sabe que deve dar um pouco do seu tempo
para os espertinhos.
O metrô é o exemplo acabado dessa desobediência
civil. Já trocaram “n” vezes as setas para orientar que as pessoas permitam o
desembarque antes de entrar. A atual é uma seta no centro das portas com
indicação de saída. As que vão entrar devem ficar nas laterais para o
desembarque pelo centro. Quando alguns obedecem e deixam o centro livre, os
espertinhos ocupam aquele lugar, roubando o direito de quem vai descer e de
quem aguarda para entrar.
Isso já teve nome de jeitinho brasileiro, de
malandro do morro, de “bon vivant” e até garoto esperto. Romantizar erros fez e
faz parte da nossa cultura. E isso vai arraigando o mal de ser tolerante com as
transgressões e achar que elas podem ocorrer em todas as ocasiões.
O exemplo mais recente foi a invasão da tribuna da
Suprema Corte de Justiça do país pelo advogado de José Genoíno, devidamente
retirado por ordem do presidente Joaquim Barbosa, criticado por muitos e até
por colegas, por ter feito o que devia. Passou da hora de quebrar, ao menos, a
glamourização do erro.
Pedro Cardoso da Costa –
Interlagos/SP
Bacharel em direito
"NÃO
HÁ DEMOCRACIA ONDE O VOTO É OBRIGATÓRIO"
Pedro Cardoso da Costa é colaborador do Barradocordanews.com
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