
*Por Roberto Veloso
Corria o ano de 1991 quando cheguei a Grajaú. Havia sido promovido da
1ª para a 2ª entrância do cargo de promotor de Justiça e precisava
entrar em exercício. Na viagem de ida e volta a São Luís pela BR 226
tive a experiência da puaca e da tabatinga. A ida foi na puaca, estava
seco, a volta na Tabatinga, havia chovido copiosamente na noite
anterior.
Para quem não conhece, puaca é o pó fino da estrada de barro daquela
região, tão minúsculo que entra por todos os orifícios do veículo. A
argila fica tão fina que chega a isolar os cabos da bateria. Tabatinga é
a puaca transformada em lama depois da chuva, é escorregadia ao máximo,
para trafegar é necessário um 4×4 para suportar os deslizamentos
constantes. Era assim, antes do asfalto, a aventura para se chegar ou
sair de Grajaú. No verão, a puaca, no inverno, a tabatinga.
Mas, em compensação a cidade era uma tranquilidade. A criminalidade
era baixíssima. Não havia menores de rua. A população economicamente
ativa era composta de proprietários rurais, comerciantes, funcionários
públicos e prestadores de serviço. A vida se desenvolvia de maneira
agradável e cordial.
Minha esposa, Monica, morava na Rua São Paulo do Norte. A homenagem
ao nome da rua se deve ao fato de, antes de se tornar vila em 1835, a
povoação onde hoje é a Cidade de Grajaú se chamava São Paulo do Norte.
A história nos mostra que em 1811, aos 29 de abril, o navegador e
alferes Antonio Francisco dos Reis fundou a cidade, à margem leste do
Rio Grajaú, no local chamado Fazenda Chapada, de propriedade de Manoel
Valetim Fernandes. Era conhecida como Porto da Chapada. O rio era
navegável, por ele a riqueza do município era transportada para o
restante do estado, em particular o couro de animais.
Em 1814, o povoamento foi completamente destruído e mortas 38 das 44
pessoas residentes. Os indígenas foram acusados do cometimento da
chacina praticada com requintes de crueldade, as pessoas foram
queimadas vivas dentro de suas residências. Os sobreviventes, em número
de seis, não estavam na localidade no momento da covarde matança.
Dois anos depois, foi refundado o povoado, dessa vez com o nome de
São Paulo do Norte, talvez com o vaticínio do progresso apresentado na
atualidade pela princesa do sertão maranhense. Segundo dados do IBGE, o
município possui cerca de 2.900 empresas, destes a maioria absoluta é de
micro e pequenos negócios, correspondendo a 95% do empresariado
grajauense.
O município sertanejo tem a vocação de produção de grãos, com ênfase
na soja, pecuária de corte e leite, extração de gipsita e produção de
gesso. Grajaú tem uma das maiores jazidas de gipsita do Brasil, o que
lhe assegura constantes investimentos e criação de empregos.
Grajaú, além da atividade econômica reconhecida, é também berço
cultural, tendo produzido inúmeros poetas, compositores e escritores,
por isso irá inaugurar a sede própria da sua academia de letras e artes.
A academia deve desempenhar um papel transformador na população, cujos
índices de escolaridade ainda deixam muito a desejar. Os acadêmicos que
integram o corpo de membros da casa de cultura devem desempenhar um
papel ativo na educação do povo.
A população está ansiosa pela prestação dos serviços a serem
fornecidos, em especial a utilização da biblioteca e do espaço destinado
a reuniões e solenidades. A inauguração de sua sede própria é um marco
na vida cultural da cidade e demonstra o potencial de produção literária
de seus integrantes.
*Roberto Veloso é ex-presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil – Ajufe
Nenhum comentário:
Postar um comentário