19 novembro, 2017

Operação Pegadores começou forte, mas perdeu gás com tropeços e com a reação do governador Flávio Dino

Flávio Dino no Congresso do PCdoB, em Brasília: denúncia de pressões ao seu Governo
Flávio Dino no Congresso do PCdoB, em Brasília: denúncia de criação de factóides para desestabilizar o seu  Governo
Anunciada e realizada com força midiática suficiente para causar barulho considerável se os supostos malfeitos investigados tivessem a consistência que pareciam ter, a Operação Pegadores teria deixado um rastro de estragos de difícil reparação. Mas o que seria um catastrófico “day after” para o Governo-alvo, que parecia ter sido arremessado na direção do limbo moral, virou um surpreendente clima de contra-ataque. Parte do que foi apresentado pelo delegado Wedson Lopes – o caso da sorveteria, por exemplo -, e a declaração meio sem jeito da superintendente , foi categórico e documentalmente contestado, ao mesmo tempo em que o Governo cobrou a entrega da suposta lista de 400 fantasmas em cujas contas teriam ido paras a maior fatia dos R$ 18 milhões supostamente desviados no braço tocantino da Secretaria de Estado da Saúde, onde, segundo o relatório das investigações, a enfermeira Rosângela Curado e sua turma andaram metendo os pés pelas mãos, e por isso devem acertar contas com a Polícia e com a Justiça. O Palácio dos Leões não reagiu contra a operação em si, mas partiu com força para derrubar informações contidas no relatório lido pelo delegado.

Quando a bomba estourou, por volta das 8hs da manhã de quinta-feira, o QG da ex-governadora Roseana Sarney (PMDB) entrou em ação e enxergou na Operação Pegadores a oportunidade de ouro que esperava havia quase três anos: colar a pecha da corrupção no atual Governo. E o fez por todos os canais ao seu alcance, levando a prisão de Rosângela Curado e sua turma para o campo político. Mas, ao contrário do que era esperado por muitos, que apostaram na sua entrada em parafuso, o governador Flávio Dino (PCdoB) segurou a onda e programou a reação na base da razão, sem açodamento. Auxiliado pelos secretários de Estado de Saúde, Carlos Lula, de Articulação Política e Comunicação, Márcio Jerry, determinou a elaboração de uma nota na qual não contestou a ação, reconheceu sua licitude e manifestou disposição de colaborar para que tudo seja esclarecido, doa em quem doer.

Deflagrada na manhã de quinta-feira, a Operação Pegadores foi realizada com força plena e argumentos supostamente sólidos. Mas antes mesmo da entrevista coletiva da PF, no final da manhã, uma nota do Palácio dos Leões sinalizaria que o buraco seria mais embaixo. Na sexta-feira, o governador Flávio Dino comandou uma reação intensa e eficiente que, sem contestar a ação em si, colocou em xeque algumas das suas conclusões. Com documentos supostamente incontestáveis, porta-vozes formais e informais do Palácio dos Leões azedaram algumas das cerejas do bolo da investigação, caso, por exemplo, a tal sorveteria que teria sido usada como “lavanderia”, que deixara de existir em 2013, não podendo ter sido usada entre 2015 e 2017.   Antes, no início da manhã, contrariando o noticiário da TV Mirante na noite anterior, tratando o assunto como um escandaloso caso de corrupção no Governo Flávio Dino, dando a impressão de que o Palácio dos Leões estava encolhido na defensiva, o Bom Dia Brasil, da Rede Globo, praticamente desfez o que fizera. Ao tratar do assunto, o apresentador, Chico Pinheiro, comentou: “É uma luta desmontar esses esquemas que foram montados durante anos e anos de corrupção”. Um petardo direto contra o Governo Roseana Sarney, que teve também o poder de eliminar qualquer eventual culpa do Governo Flávio Dino no caso.

Logo em seguida, animado pela interpretação dada pelo apresentador global, o governador Flávio Dino disparou uma série de mensagens no twitter descartando qualquer bandalheira no seu Governo e cobrando da Polícia Federal a relação de 400 servidores irregulares que estariam drenando criminosamente parte dos recursos do Fundo Nacional de Saúde (FNS) enviados ao Governo do Maranhão. A tal lista é tida como a cereja do bolo da investigação, daí porque o governador acha que com ela em mãos poderá informar-se melhor sobre o que de fato estava acontecendo e poderá adotar providências no sentido de corrigir os eventuais malfeitos de Rosângela Curado e companhia.

O governador Flávio Dino entrou na guerra midiática jogando duro. “Jamais compactuamos com qualquer má aplicação de recursos públicos. Sempre tomamos todas as providências administrativas quando erros foram cometidos”, escreveu o governador Flávio Dino no twitter. E partiu para o ataque direto ao Grupo Sarney, que tentou lhe emplacar a pecha da corrupção ao seu Governo:  “Quanto à oligarquia Sarney-Murad, falta-lhe as condições mínimas para falar em moralidade”. E aprofundou a estocada: “Que cuidem dos seus problemas na Polícia e na Justiça. São Muitos”.

Com a série de twittadas, o governador Flávio Dino respondeu os ataques que recebera durante toda a quinta-feira dos seus adversários e, ao mesmo tempo, colocou a Polícia Federal contra a parede ao cobrar enfaticamente a lista dos 400 nomes que teriam sido contratados irregularmente, segundo revelaram as investigações. Esse rebate do governador será apenas mais momento do “bateu-levou”, que ainda vai produzir desdobramentos, porque nessa guerra tudo pode acontecer, menos o Grupo Sarney depor as armas em relação a Flávio Dino até outubro do ano que vem.

Em Tempo: O posicionamento do governador Flávio Dino em relação à Operação Pegadores ficou mais claro ainda no sábado, durante o Congresso do PCdoB. Ele acusou o Grupo Sarney de estar por traz de ações e operações que tentam desestabilizar o seu Governo, “o que foi intensificado com factóides que buscam ter impacto nacional”, acrescentando que “toda hora eles fabricam um negócio absurdo”. E levantou a suspeita de que órgãos federais podem ser usados para atingi-lo: “É possível o uso dos aparelhos federais contra o Governo”.

Repórter Tempo

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