Decorridos os dias em que a crise na segurança pública do Maranhão
esteve intensamente exposta nacional e internacionalmente, há uma
terrível e irresponsável tentativa de fingir que tudo voltou ao
“normal”. Mas a realidade aí está, continuamente produzindo mortes e
tragédias, nas ruas e nas cadeias maranhenses. Não foi somente Ana
Clara; infelizmente temos milhares de Anas Claras, todos os anos. Essa
triste realidade está bem retratada no relatório do Ministério Público
Estadual sobre a violência em nosso estado, divulgado pelo deputado
Othelino Neto em discurso na Assembléia Legislativa.
Em 2010, na Ilha de São Luís ocorreram
535 mortes violentas. No ano seguinte, este número subiu para 655 e, em
2012, para 687. No ano passado, foram 984. Ou seja, o número de
assassinatos na região metropolitana de nossa capital praticamente
dobrou durante o atual governo.
No cerne da mensagem cristã, está a
capacidade de amar aos outros como a si mesmo (e a Deus sobre todas as
coisas). Pois sigamos esse mandamento e, por um instante, nos coloquemos
em ligação profunda com a família de cada uma dessas vítimas da
violência. Esse sentimento de ligação permitirá um entendimento mais
profundo de que há milhares de pais, mães, filhos, esposos e esposas que
terão parte de suas vidas amputadas para sempre.
Isso é muito maior do que os discursos
de violência e ódio que, de modo espantoso, são reproduzidos por
políticos ilustres (supostos estadistas) tentando reduzir tudo à “briga
de bandidos”. Ao que segue a assertiva dos seus áulicos: “bandido bom é
bandido morto”. O curioso é que ninguém sabe se as vítimas nas ruas de
fato são “bandidos” e, mesmo que fossem, há no país uma Constituição e
leis a serem cumpridas.
O que se passa no Complexo Penitenciário
de Pedrinhas é a expressão concentrada dessa violência que está nas
ruas. A senadora Ana Rita, do PT, em relatório que apresentou ao Senado
nesta semana, sobre a situação de Pedrinhas, afirmou ter encontrado uma
realidade “deplorável, deprimente e degradante”. É a macabra sinergia
entre o que ocorre dentro e fora de Pedrinhas que explica o crescimento
da criminalidade no Maranhão.
Tenho insistido que para combater a
violência é preciso, além de realmente reconhecê-la como um grave
problema a ser enfrentado, estabelecer um pacto de cooperação entre
todos os agentes de Estado envolvidos em seu combate. Esse Pacto deve
ser conduzido com transparência e ampla participação da sociedade, e
possuir metas claras e objetivas, que possam ser acompanhadas por todos
os maranhenses.
Além disso, da parte do Governo do
Estado, é urgente ampliar, equipar e valorizar as instituições do
sistema de segurança, em todas as carreiras. O Maranhão tem o menor
índice de profissionais de segurança por habitante do país. Esse quadro
constitui terreno fértil para o desenvolvimento de práticas criminosas,
como o tráfico de drogas, roubos, homicídios.
Há diversas experiências positivas de
redução de crimes violentos, como o Programa Pacto Pela Vida, liderado
pelo governador de Pernambuco Eduardo Campos, que obteve grande êxito,
chegando mesmo a ser premiado pelo Banco Interamericano de
Desenvolvimento. Na Bahia, dirigida pelo governador Jacques Wagner, o
mesmo programa foi implantado mais recentemente. E também já se fez
sentir na vida dos baianos: houve redução de 7,6% nos crimes contra a
vida em 2013.
No Maranhão, é urgente agir. Funciona
melhor do que tentar esconder o sol com uma peneira, ou tentar impor o
silêncio em meio a propagandas fantasiosas, feitas apenas para
enriquecer e beneficiar os poderosos de sempre.
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