Desgastada pela crise nos presídios e pela onda de ataques nas ruas, Roseana Sarney agora hesita em deixar o governo para disputar o Senado
Por: Felipe Frazão
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LAGOSTA, DÓLARES E CAVIAR - Em meio à crise, o governo Roseana Sarney encomendou lagosta. Criticado, substituiu o pedido por caviar. A governadora (ao lado do ministro José Eduardo Cardozo) entregou a administração dos presídios do estado ao amigo e sócio da família que, em 2002, a socorreu quando a PF encontrou 1,3 milhão de reais na sede da empresa de seu marido (Marlene Bergamo/Folhapress) |
Uma crise na área de segurança pública pode comprometer a eleição
de qualquer governante em ano eleitoral. Em 1992, o massacre no presídio
paulista do Carandiru, uma rebelião que terminou com 111 detentos
mortos, tornou-se marca indelével na trajetória do então governador Luiz
Antonio Fleury Filho, que hoje amarga o ostracismo político. Neste ano,
a grande questão no cenário eleitoral do Maranhão é se as mortes
bárbaras ocorridas dentro do Complexo Penitenciário de Pedrinhas – com
decapitações e esquartejamentos – e fora dele, com ônibus incendiados e
uma menina de seis anos queimada viva, terão impacto para destronar um
grupo político que governa o Estado há mais de meio século.
Os três candidatos de oposição à governadora Roseana Sarney (PMDB),
filha do senador e ex-presidente da República José Sarney (PMDB), são
ligados ao Judiciário e a bandeiras dos direitos humanos. O mais
conhecido deles é o ex-juiz e ex-deputado Flávio Dino (PCdoB),
atual presidente da Embratur, que tentou unificar os partidos de
oposição à gestão Roseana numa votação plebiscitária “anti-Sarney”.
Também deverão concorrer a deputada estadual Eliziane Gama (PPS) e o
advogado Luis Antonio Pedrosa (PSOL). Os dois presidem comissões de
Direitos Humanos no Maranhão – ela na Assembleia Legislativa, ele na
seção local da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
A família Sarney pretende lançar na disputa Luis Fernando Silva
(PMDB), atual secretário de Infraestrutura de Roseana. A governadora
conta com o apoio do PT, que indicou o vice-governador e tem secretarias
no primeiro escalão. Porém, no próprio PT a questão é controversa.
Desde 2010, parte do diretório estadual não aceita o acordo com a
família Sarney, mas a ordem vem de cima: a presidente Dilma Rousseff
exige a manutenção da aliança – com apoio dos Sarney, ela obteve 79% dos
votos no Maranhão na eleição passada. Quando a crise no sistema
prisional se amplificou, Dilma se apressou em socorrer os Sarney: enviou
o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, ao Maranhão. A incursão de
Cardozo, que apareceu nas imagens de TV ao lado de Roseana anunciando
uma parceria vaga entre os governos federal e estadual, ajudou a aplacar
a crise e tirar o Maranhão do noticiário nacional.
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Irmã de menina morta em ataque a ônibus recebe alta
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“O PT hoje é nosso parceiro, tanto nacionalmente como no Estado”,
afirma o líder do PMDB na Assembleia Legislativa, deputado estadual
Roberto Costa. “A possibilidade de reeditar a aliança é muito forte.”
Costa diz que a candidatura de Luis Fernando Silva terá ainda os apoios
de DEM, PTB, PSD, PV e uma série de legendas nanicas.
Trio – Por causa da intervenção da direção nacional
do PT na disputa em 2010, o comunista Flávio Dino afirma que não
mobilizará a estrutura do PCdoB pelo apoio dos petistas. “Tem que deixar
o PT decidir no tempo dele, já que a decisão é nacional mesmo. Se o PT
vier, vai ser muito bem-vindo”, diz ele. “É uma contradição absoluta um
partido que se autodenomina dos trabalhadores apoiar o último dos
coronéis brasileiros.”
Em sua conta, Dino soma o apoio dos partidos Solidariedade, PDT, PP,
Pros e o PTC, do prefeito de São Luís, Edivaldo Holanda, cuja
candidatura foi apadrinhada por ele. Em uma jogada que interfere na
disputa presidencial no Maranhão, Dino prometeu ao vice-prefeito de São
Luís, Roberto Rocha (PSB), a vaga na chapa para disputar o Senado.
Riqueza – Roseana afirmou em entrevista coletiva que
o Maranhão “vai muito bem” e que uma das explicações para a crise
violenta é que “o Estado está mais rico”. O governo maranhense comemorou
no ano passado ter ultrapassado, por 17 reais, o pior PIB per capita do
país, ostentado agora pelo Piauí (7.835 reais). Agora o Maranhão é o
segundo pior (7.852 reais). Roseana desgastou mais sua imagem ao vir à
tona a informação de que ela iniciou a compra de lagostas, uísque e
caviar para o buffet do Palácio dos Leões. Das janelas do prédio
histórico, a governadora assistiu a uma passeata que pedia “a devolução
do Maranhão” – seguida de um pedido de impeachment protocolado por
advogados que militam em ONGs de Direitos Humanos.
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MP abre investigação para apurar estupros em Pedrinhas
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“A violência é lamentável, mas há uma ligação direta entre o que
acontece dentro e fora da penitenciária com o sistema político
implantado, que está totalmente comprometido com o patrimonialismo”,
critica Dino.
De 2010 a 2013, os homicídios em São Luís e na Região Metropolitana
aumentaram 62% - de 499 para 807 casos, no ano passado. O crack invadiu o
interior do Estado (39 cidades declaram ter nível alto de problemas
pelo consumo da droga, segundo a Confederação Nacional dos Municípios). A
violência tira a tranquilidade do hábito nordestino de sentar na frente
de casa para prosear com os vizinhos à tarde.
O funcionalismo público, principalmente no setor da Segurança,
reclama da falta de estrutura e principalmente de pessoal. O governo
tenta concluir um concurso aberto em 2012 para 2.400 vagas de policiais
militares e civis. Em meio à onda de violência, a gestão Roseana passou a
exibir na TV uma propaganda em que apresenta como inovação uma central
de videomonitoramento instalada no segundo semestre de 2013, em São
Luís.
O sindicato dos agentes penitenciários (Sindspem) reclama aponta a
terceirização como o fator que fragilizou a segurança e permitiu a
barbárie no Complexo Penitenciário de Pedrinhas. O governo maranhense
contratou duas empresas para controlar os presídios, a VTI Tecnologia da
Informação e a Atlântica Segurança Técnica – que tem como representante
Luiz Carlos Cantanhede Fernandes, sócio do marido da governadora, Jorge
Murad, em outra empresa.
Leia ainda: A vitória da barbárie no Maranhão
O clã Sarney também enfrenta dificuldades em negociações com
parlamentares aliados. No ano passado, Roseana perdeu o ex-delegado e
deputado estadual Raimundo Cutrim, que se rebelou da base e migrou
direto para a oposição – no caso, o PCdoB. A insatisfação com o valor de
emendas parlamentares no “bloquinho”, um grupo minoritário de deputados
que não aderiram oficialmente à situação nem à situação, atrasou a
votação do Orçamento de 2014 na Assembleia Legislativa.
Até a crise chegar ao Palácio dos Leões, em janeiro,
o plano de Roseana era disputar uma cadeira no Senado, o que a obrigaria
a deixar o governo até o começo de abril, prazo exigido pela Lei
Eleitoral. Mas os planos estão parados. “Existe uma indefinição por
parte dela”, diz Roberto Costa, líder do seu partido na Assembleia.
Ainda é cedo para dimensionar o tamanho do desgaste provocado pela
selvageria de Pedrinhas no capital eleitoral dos Sarney. Mas já é
possível afirmar, segundo políticos maranhenses e assessores do Palácio
do Planalto, que o grupo enfrentará sua mais complicada eleição em
décadas de hegemonia.
Pré-candidatos à sucessão de Roseana Sarney (MA)
Flávio Dino (PCdoB)
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Um dos favoritos à disputa é o líder da oposição, Flávio Dino (PCdoB). Ele deixará a presidência da Embratur no fim de janeiro para se dedicar à campanha. Dino conta com apoio de cerca de trinta prefeitos em todo o Estado, em cidades como Caxias, Timon, Balsas, Santa Inês - todas administradas pelo PSB - e a capital, São Luís, cuja administração é integradas pelos comunistas. Dino diz que agora terá o apoio do "mundo institucional da política" para promover um "casamento com o sentimento de mudança da sociedade". Em 2010, ele perdeu para Roseana no primeiro turno: "Éramos só quatro carros fazendo campanha no meio da estrada". |
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