A taxa de homicídios na região
metropolitana de São Luís teve alta de 62% desde 2010, após Roseana
Sarney voltar ao poder no Maranhão. Anteontem, a governadora atribuiu a
violência ao fato de o Estado estar “mais rico”. Apesar do crescimento
da economia, porém, o Maranhão segue com o segundo pior PIB per capita e
o segundo pior IDH regional do País (veja quadro abaixo).
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Governadora diz que riqueza causa violência. |
Um dos problemas que estão piorando a
segurança é que o Estado está mais rico, o que aumenta o número de
habitantes — afirmou Roseana depois de reunir-se com o ministro da
Justiça, José Eduardo Cardozo na quinta-feira (9). A frase foi publicada
pelo jornal “O Globo”.
Roseana reassumiu o governo do Maranhão
em 17 de abril de 2009, após a Justiça cassar o mandato de Jackson Lago
(PDT), acusado de crime eleitoral. Antes, a filha de José Sarney já
havia governado o Estado de 1995 a 2002.
Em 2010, primeiro ano completo da
governadora de volta ao poder, a região metropolitana de São Luís
registrou 499 homicídios, segundo dados da Secretaria de Estado da
Segurança Pública. No ano passado, a violência na região fez 807
vítimas.
Para a pesquisadora do Núcleo de Estudos
da Violência da USP e professora da UFABC (Universidade Federal do ABC)
Camila Dias, a relação entre violência e riqueza do Estado feito pela
governadora é “absurda” e pode ser considerada um “escárnio” à população
maranhense.
— Um Estado dominado há décadas pela
mesma família, com problemas gravíssimos, e ela dá uma explicação
dessas. É um escárnio àquela população tão empobrecida e tão sofrida. O
que produz a violência é a extrema desigualdade. Há uma porção muito
pequena de pessoas muito ricas e uma parcela gigantesca de pessoas
pobres, sem acesso a direitos, sem acesso a bens básicos para uma vida
digna.
O Atlas do Desenvolvimento Humano no
Brasil 2013, divulgado pelo Pnud (Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento), aponta que o Maranhão tem o segundo pior IDH do País,
atrás apenas de Alagoas. O índice, calculado com base em dados de 2010,
leva em conta a expectativa de vida, a escolaridade e a renda da
população. A taxa do Maranhão é semelhante à obtida em 2012 pela Síria,
país que vive em guerra civil.
De acordo com o relatório de contas
regionais divulgado pelo IBGE em novembro passado, a economia do
Maranhão realmente ganhou relevância desde a primeira ver que Roseana
assumiu o governo, em 1995. Na época, o Estado contribuía com 0,9% do
PIB nacional. A proporção subiu para 1,3% em 2011.
Desde 1995, Roseana só deixou de ter
influência no governo maranhense durante o curto período em que Lago
permaneceu no poder. Além dela e do pedetista, o único a governar o
Estado foi José Reinaldo Carneiro Tavares, vice que herdou o cargo de
Roseana em 2002 e conseguiu se reeleger.
Mas, mesmo com o avanço, o Estado segue
entre os mais pobres do País. O PIB per capita do Maranhão só perde para
o do Piauí. No ano passado, a revista britânica “The Economist”
comparou a taxa do Estado à do Reino de Tonga, pequena ilha da Oceania.
Na mesma publicação, Tocantins (estado vizinho ao Maranhão) foi
comparado à emergente África do Sul e o Distrito Federal, a Portugal.
A pesquisadora Camila Dias afirma que o
crescimento econômico do Maranhão não aconteceu de maneira uniforme,
para atingir todas as camadas da sociedade.
— O desenvolvimento econômico de uma
região provoca, às vezes, um aumento da violência porque esse
desenvolvimento é extremamente desigual. O Maranhão é um Estado que tem
os piores índices sociais em relação a quase todos os indicadores de
qualidade de vida.
De acordo com o Altas do Desenvolvimento
Humano no Brasil 2013, mais da metade da riqueza do Maranhão
concentra-se nas mãos dos 10% mais ricos. Os dados, de 2010, apontam que
39% dos moradores do Estado vivem na pobreza. E uma em cada cinco
pessoas com 15 anos ou mais não sabem ler e escrever.
Violência cresce mais que população
Diferentemente da afirmação de Roseana, a
projeção populacional do IBGE não considera uma aumento vertiginoso do
moradores do Maranhão por causa da maior relevância da economia
regional. O instituto estima que a população da capital tenha subido de
1.014.837, segundo o Censo 2010, para 1.053.922, em 2013. Uma alta de
2,4%, bem inferior ao avanço de 62% da criminalidade.
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