Janot chegou a engatilhar a arma, ficou a menos de dois metros do ministro, mas não conseguiu efetuar o disparo
O
ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot revelou que planejou
assassinar o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes ,
em 2017. O episódio foi lembrado pelo próprio Janot em entrevistas
publicadas nesta quinta-feira pelos jornais “O Estado de S. Paulo”,
“Folha de S.Paulo” e pela revista “Veja”.
Segundo relato à “Veja”, Janot chegou a engatilhar a arma, ficou a menos
de dois metros do ministro, mas não conseguiu efetuar o disparo. O
motivo da ira foi um ataque de Gilmar à filha do então procurador-geral.
“Esse inspetor Javert da humanidade resolveu equilibrar o jogo
envolvendo a minha filha indevidamente. Tudo na vida tem limite. Naquele
dia, cheguei ao meu limite. Fui armado para o Supremo. Ia dar um tiro
na cara dele e depois me suicidaria. Estava movido pela ira. Não havia
escrito carta de despedida, não conseguia pensar em mais nada. Também
não disse a ninguém o que eu pretendia fazer”, conta o ex-PGR.
Janot também afirmou que tentou mudar a arma de mão quando não conseguiu
atirar com a destra. “Esse ministro costuma chegar atrasado às sessões.
Quando cheguei à antessala do plenário, para minha surpresa, ele já
estava lá. Não pensei duas vezes. Tirei a minha pistola da cintura,
engatilhei, mantive-a encostada à perna e fui para cima dele. Mas algo
estranho aconteceu. Quando procurei o gatilho, meu dedo indicador ficou
paralisado. Eu sou destro. Mudei de mão. Tentei posicionar a pistola na
mão esquerda, mas meu dedo paralisou de novo. Nesse momento, eu estava a
menos de dois metros dele. Não erro um tiro nessa distância. Pensei:
‘Isso é um sinal’. Acho que ele nem percebeu que esteve perto da morte”,
lembra.
O procurador disse que, depois de ter falhado no propósito de executar
seu adversário, chamou seu secretário executivo, disse que não estava
passando bem e foi embora. “Não sei o que aconteceria se tivesse matado
esse porta-voz da iniquidade. Apenas sei que, na sequência, me mataria”,
conclui.
Sem citar o nome do ministro, a cena também é relatada no livro “Nada
menos que tudo”, escrito pelos jornalistas Jailton de Carvalho e
Guilherme Evelin. A obra será lançada pela Editora Planeta.
Gilmar é um ferrenho crítico da Lava-Jato. Em sessões do STF, costumava
aproveitar seus votos para atacar também Janot. Diversas vezes já chamou
o procurador de bêbado e de irresponsável.
À revista Veja, Janot também afirmou que suspeita que o ex-presidente da
Câmara Eduardo Cunha, hoje preso, mandou invadir sua casa, em 2015. Na
ocasião, apenas um controle remoto do portão teria sido levado. “Era um
recado, uma ameaça. Pelo cheiro, suspeito que foi obra do Eduardo Cunha.
Não há evidência. É pelo cheiro mesmo”, declarou.
Janot afirmou ainda que o ex-presidente Michel Temer e o ex-deputado
Henrique Eduardo Alves pediram, em 2016, antes do impeachment de Dilma
Rousseff, que o então procurador-geral parasse qualquer investigação
contra Cunha, que, na época, presidia a Câmara: “Eles queriam que eu
praticasse um crime, o de prevaricação. Falei alguns palavrões
indizíveis antes de ir embora. A reunião foi testemunhada pelo Zé
Eduardo (José Eduardo Cardozo, então ministro da Justiça)”.
Fonte: O Globo
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