O
primeiro desafio que enfrento, quando me coloco à frente do computador para
escrever o artigo, que me compete, é a escolha do tema. Às vezes a inspiração
mergulha no silêncio e nada me ocorre. Outras vezes pululam na mente dezenas de
possibilidades.
Entre o
completo vazio interior e a voz estridente de uma pluralidade de assuntos, há
uma situação particularmente delicada. É quando dois temas, apenas dois
disputam atenção, como está ocorrendo neste momento.
Devo
tratar de Literatura, já que comemoramos recentemente o aniversário de fundação
da Academia Espírito-Santense de Letras, a mais importante instituição cultural
do Estado onde moro?
Ou
discorro sobre a Paz tendo em vista o perigo de uma guerra mundial, se os
Estados Unidos cometerem a insensatez de invadir a Síria?
Opto por
matéria de sabor local (academia de letras plantada no solo capixaba); ou
alargo a vista além-fronteiras para cuidar da Síria distante, encravada entre a
Jordânia, o Iraque, a Turquia e o Líbano?
Que tal
fundir as matérias e falar sobre a relação entre as Letras e a Paz?
A
Literatura, em alguns de seus mais gloriosos vôos, exaltou a Paz (Tolstói,
Hemingway, por exemplo). Entretanto outras vezes a Literatura, ainda que em
obras inexpressivas, pactuou com a Guerra.
Vejo a
Literatura a serviço da justiça e da verdade, opondo-se a tudo que nega esses
valores. O escritor engrandece seu ofício quando, através da pena, torna-se
profeta de um mundo novo, pacífico, solidário e justo.
A
academia é um espaço de convivência entre pessoas que vivem na dimensão do ser,
pessoas que buscam a construção da fraternidade. Multipliquem-se as academias
no território brasileiro e estaremos construindo uma rede de defensores do
diálogo, da compreensão, da fraternidade universal.
A ideia
de paz acolhida nas mentes e corações resulta de uma busca da inteligência e da
vontade. O grande desafio é: disseminar o sentido de paz em todo o organismo
social; educar para o florescimento, a manutenção e a defesa da paz; plasmar
uma cultura da paz radicada no inconsciente coletivo.
Esse
esforço educacional terá, necessariamente, diversos artífices, diversas
fronteiras de atuação. Papel fundamental cabe a aqueles que fazem da palavra
estrita ou falada seu instrumento de trabalho.
A luta a
favor da paz não é fácil. Interesses econômicos monumentais sustentam as
guerras. Na maior potência do mundo, alternam-se governos, mudam os atores que
tomam lugar no palco, mas a política belicista não é de todo eliminada.
João
Baptista Herkenhoff, magistrado aposentado (ES), professor, escritor,
palestrante, colaborador do Blog Barradocordanews. Autor, dentre outros livros, de: Encontro do Direito com a
Poesia (GZ Editora, Rio, 2012).
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