
Revista Fórum
Em ato realizado na tarde desta terça-feira (11) na vigília de apoiadores do ex-presidente Lula em Curitiba (PR),
representantes da coligação “O Povo Feliz de Novo” leram uma carta
redigida por Lula em que o ex-presidente dá o aval para que Fernando
Haddad, até então o candidato a vice da chapa, assuma o posto de
candidato à presidência, dada a impugnação da candidatura de Lula
imposta pela justiça eleitoral.
No texto, Lula reivindica sua inocência, explica as circunstâncias
que o fizeram tomar a decisão e afirma que Haddad será o seu
representante na corrida eleitoral. “Se querem calar nossa voz e
derrotar nosso projeto para o País, estão muito enganados. Nós
continuamos vivos, no coração e na memória do povo. E o nosso nome agora
é Haddad”, escreveu Lula.
Confira, abaixo, a íntegra da carta.
Vocês já devem saber que os tribunais proibiram minha candidatura
a presidente da República. Na verdade, proibiram o povo brasileiro de
votar livremente para mudar a triste realidade do país.
Nunca aceitei a injustiça nem vou aceitar. Há mais de 40 anos
ando junto com o povo, defendendo a igualdade e a transformação do
Brasil num país melhor e mais justo. E foi andando pelo nosso país que
vi de perto o sofrimento queimando na alma e a esperança brilhando de
novo nos olhos da nossa gente. Vi a indignação com as coisas muito
erradas que estão acontecendo e a vontade de melhorar de vida outra vez.
Foi para corrigir tantos erros e renovar a esperança no futuro
que decidi ser candidato a presidente. E apesar das mentiras e da
perseguição, o povo nos abraçou nas ruas e nos levou à liderança
disparada em todas as pesquisas.
Há mais de cinco meses estou preso injustamente. Não cometi
nenhum crime e fui condenado pela imprensa muito antes de ser julgado.
Continuo desafiando os procuradores da Lava Jato, o juiz Sérgio Moro e o
TRF-4 a apresentarem uma única prova contra mim, pois não se pode
condenar ninguém por crimes que não praticou, por dinheiro que não
desviou, por atos indeterminados.
Minha condenação é uma farsa judicial, uma vingança política,
sempre usando medidas de exceção contra mim. Eles não querem prender e
interditar apenas o cidadão Luiz Inácio Lula da Silva. Querem prender e
interditar o projeto de Brasil que a maioria aprovou em quatro eleições
consecutivas, e que só foi interrompido por um golpe contra uma
presidenta legitimamente eleita, que não cometeu crime de
responsabilidade, jogando o país no caos.
Vocês me conhecem e sabem que eu jamais desistiria de lutar.
Perdi minha companheira Marisa, amargurada com tudo o que aconteceu a
nossa família, mas não desisti, até em homenagem a sua memória.
Enfrentei as acusações com base na lei e no direito. Denunciei as
mentiras e os abusos de autoridade em todos os tribunais, inclusive no
Comitê de Direitos Humanos da ONU, que reconheceu meu direito de ser
candidato.
A comunidade jurídica, dentro e fora do país, indignou-se com as
aberrações cometidas por Sergio Moro e pelo Tribunal de Porto Alegre.
Lideranças de todo o mundo denunciaram o atentado à democracia em que
meu processo se transformou. A imprensa internacional mostrou ao mundo o
que a Globo tentou esconder.
E mesmo assim os tribunais brasileiros me negaram o direito que é
garantido pela Constituição a qualquer cidadão, desde que não se chame
Luiz Inácio Lula da Silva. Negaram a decisão da ONU, desrespeitando o
Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos que o Brasil assinou
soberanamente.
Por ação, omissão e protelação, o Judiciário brasileiro privou o
país de um processo eleitoral com a presença de todas as forças
políticas. Cassaram o direito do povo de votar livremente. Agora querem
me proibir de falar ao povo e até de aparecer na televisão. Me censuram,
como na época da ditadura.
Talvez nada disso tivesse acontecido se eu não liderasse todas as
pesquisas de intenção de votos. Talvez eu não estivesse preso se
aceitasse abrir mão da minha candidatura. Mas eu jamais trocaria a minha
dignidade pela minha liberdade, pelo compromisso que tenho com o povo
brasileiro.
Fui incluído artificialmente na Lei da Ficha Limpa para ser
arbitrariamente arrancado da disputa eleitoral, mas não deixarei que
façam disto pretexto para aprisionar o futuro do Brasil.
É diante dessas circunstâncias que tenho de tomar uma decisão, no
prazo que foi imposto de forma arbitrária. Estou indicando ao PT e à
Coligação “O Povo Feliz de Novo” a substituição da minha candidatura
pela do companheiro Fernando Haddad, que até este momento desempenhou
com extrema lealdade a posição de candidato a vice-presidente.
Fernando Haddad, ministro da Educação em meu governo, foi
responsável por uma das mais importantes transformações em nosso país.
Juntos, abrimos as portas da Universidade para quase 4 milhões de alunos
de escolas públicas, negros, indígenas, filhos de trabalhadores que
nunca tiveram antes esta oportunidade. Juntos criamos o Prouni, o novo
Fies, as cotas, o Fundeb, o Enem, o Plano Nacional de Educação, o
Pronatec e fizemos quatro vezes mais escolas técnicas do que fizeram
antes em cem anos. Criamos o futuro.
Haddad é o coordenador do nosso Plano de Governo para tirar o
país da crise, recebendo contribuições de milhares de pessoas e
discutindo cada ponto comigo. Ele será meu representante nessa batalha
para retomarmos o rumo do desenvolvimento e da justiça social.
Se querem calar nossa voz e derrotar nosso projeto para o País,
estão muito enganados. Nós continuamos vivos, no coração e na memória do
povo. E o nosso nome agora é Haddad.
Ao lado dele, como candidata a vice-presidente, teremos a
companheira Manuela D’Ávila, confirmando nossa aliança histórica com o
PCdoB, e que também conta com outras forças, como o PROS, setores do
PSB, lideranças de outros partidos e, principalmente, com os movimentos
sociais, trabalhadores da cidade e do campo, expoentes das forças
democráticas e populares.
A nossa lealdade, minha, do Haddad e da Manuela, é com o povo em
primeiro lugar. É com os sonhos de quem quer viver outra vez num país em
que todos tenham comida na mesa, em que haja emprego, salário digno e
proteção da lei para quem trabalha; em que as crianças tenham escola e
os jovens tenham futuro; em que as famílias possam comprar o carro, a
casa e continuar sonhando e realizando cada vez mais. Um país em que
todos tenham oportunidades e ninguém tenha privilégios.
Eu sei que um dia a verdadeira Justiça será feita e será
reconhecida minha inocência. E nesse dia eu estarei junto com o Haddad
para fazer o governo do povo e da esperança. Nós todos estaremos lá,
juntos, para fazer o Brasil feliz de novo.
Quero agradecer a solidariedade dos que me enviam mensagens e
cartas, fazem orações e atos públicos pela minha liberdade, que
protestam no mundo inteiro contra a perseguição e pela democracia, e
especialmente aos que me acompanham diariamente na vigília em frente ao
lugar onde estou.
Um homem pode ser injustamente preso, mas as suas ideias, não.
Nenhum opressor pode ser maior que o povo. Por isso, nossas ideias vão
chegar a todo mundo pela voz do povo, mais alta e mais forte que as
mentiras da Globo.
Por isso, quero pedir, de coração, a todos que votariam em mim,
que votem no companheiro Fernando Haddad para Presidente da República. E
peço que votem nos nossos candidatos a governador, deputado e senador
para construirmos um país mais democrático, com soberania, sem a
privatização das empresas públicas, com mais justiça social, mais
educação, cultura, ciência e tecnologia, com mais segurança, moradia e
saúde, com mais emprego, salario digno e reforma agrária.
Nós já somos milhões de Lulas e, de hoje em diante, Fernando Haddad será Lula para milhões de brasileiros.
Até breve, meus amigos e minhas amigas. Até a vitória!
Um abraço do companheiro de sempre,
Luiz Inácio Lula da Silva
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