Quando surge um problema na vida de um cidadão, a primeira coisa que ele
tenta é resolver. Quando esse problema surge na esfera da administração
pública, a autoridade busca logo uma desculpa e as justificativas, que
explicam, mas não justificam.
Neste momento a discussão quase exclusiva gira em torno da falta de água
e, por consequência, de energia, que não é somente por falta d’água que têm
seus constantes apagões.
Nas crises aparecem sempre os “especialistas” a dizer sempre o que
deveria ter sido feito, mas que não disseram a tempo de evitar os problemas.
Eles se juntam às autoridades responsáveis para atribuir a culpa às vítimas,
assim como na violência, na péssima qualidade do ensino e em todas as
deficiências dos serviços públicos.
O cidadão é culpado porque lava a calçada, o carro; porque lava a roupa
e a louça aos poucos e não de uma vez. Só faltam dizer que ele bebe água acima
do recomendado pela Organização Mundial da Saúde. Esse descuido até deve ser
real e lógico. O problema é que nunca disseram uma vírgula antes para a pessoa
adquirir hábito de maneira natural e cotidiana.
O fornecimento de água, assim como o de energia se dá por contrato de
adesão entre empresa fornecedora e o cliente. Como todo negócio de compra e
venda, sem crise, o vendedor quer vender o máximo e o consumidor é incentivado
a consumir o quanto mais.
Ninguém diz que nenhuma crise começa como a explosão de uma bolha. Ela
vai se constituindo vagarosamente. A imprensa e seus especialistas deveriam
afirmar isso com clareza ululante e quais as medidas deveriam ser tomadas para
não faltar água. É importante que se saiba que a água deve ser adequadamente
utilizada, mas cada um deve consumir conforme a sua necessidade, que é
diferente de uma pessoa para outra.
É fundamental saber que não há nenhuma definição do que seria abuso. E
essa culpabilidade recai sempre sobre os pobres, entrevistados constantemente
sobre como economizam água. Entretanto, os maiores desperdícios ocorrem nos
órgãos públicos. Em nenhum existe algum mecanismo de reúso da água. Agora
mesmo, em qualquer repartição coletiva que se vá não tem mictórios para evitar
o desperdício com descarga de vários litros toda hora que se fizer xixi.
Em vazamentos são desperdiçados mais de 30% da água tratada na capital
paulista, que ainda é uma das cidades que menos desperdiçam no Brasil. Outra
crítica recorrente é dirigida às ligações clandestinas. Há uma diferenciação
que não é apontada: apenas por ser irregular formalmente não significa água
jogada fora. A população pode estar consumindo de forma adequada, mas não paga
pelo consumo.
Racionamento passou a ser chamado de diminuição de pressão. Isso
significa que a água não chegará aos consumidores, uma tentativa infantil de
tentar camuflar uma realidade constatada dia a dia pelos consumidores. Isso
significa falta d’água, independente do nome que derem.
Outra distorção perpetrada pelos meios de comunicação é o destaque dado
aos altos índices de aprovação popular ao racionamento. Não fazem nem uma
analogia ao pedido de Paulo Maluf para que as mulheres fossem “apenas”
estupradas e não assassinadas. Precisaria ser de outro planeta - não humano -
para escolher ficar sem uma gota a ter um pouco de água.
Caso tivessem um mínimo de decência, as autoridades deveriam pedir
desculpas sinceras à população, além de renunciarem aos cargos quando deixassem
se instalar uma crise como a atual falta de água e de energia, uma prática
recorrente nos países desenvolvidos e nos asiáticos, em especial. Não ficarem
brincando como o ministro das Minas e Energia de que Deus é brasileiro.
Esqueceu de dizer que parece que o Capeta também é filho nato.
Pedro Cardoso da Costa – Interlagos/SP
Bacharel em direito
"NÃO HÁ DEMOCRACIA COM VOTO OBRIGATÓRIO"
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