02 dezembro, 2014

Vale a pena conferir! Conheça um pouco da profissional Dra. Débora Rocha


Quando optei por morar no interior do Maranhão, sabia dos meus prováveis ganhos e das minhas inevitáveis perdas:

Sobre os primeiros, com o decurso do tempo, aprendi, através de um convívio bem próximo, com meus pacientes mais pobres e mais carentes, a ser, mais humana e muito mais solidária; 

Aprendi que, a cultura da região na maioria das vezes, predomina, diante de nossos esforçados trabalhos cotidianos, mesmo quando têm como fontes , os mais conceituados mestres!

No entanto, se o profissional da área médica, se dispuser, não só, consultar como rotina, mas, também, ouvir seus pacientes, com mais atenção, "olhos nos olhos”, deixando-os à vontade e descontraídos, para contarem tudo o que sentem; sobre suas dores do corpo e da suas duras labutas, e só depois, tentar resolver seus problemas de saúde, dentro dos limites de nossas possibilidades, a conquista de suas confianças, acontecerá inevitavelmente. E com ela, se não a cura, advirá uma grande sensação de alívio, também para o médico, somada, à renovação da auto-estima, na sua própria potencialidade de ajudar a quem tanto precisa.

Aprendi, assim, em conta-gotas, no meu dia a dia, importância da união e dos vínculos afetivos familiares, como poderosos instrumentos invisíveis, de ânimos, quando a própria medicina, já não assinala esperanças... Não importa, por exemplo, se a avó matriarca, tinha 90 anos, ou se a perda é de uma jovem mãe de família, ou mesmo de uma criança, porque, quando alguém falece, a demonstrada dor da perda, parece sempre mais evidente! 

Aprendi, meu Deus, tanta coisa, como parte da crendice ou da sabedoria popular:

Aprendi que, quando faltam os recursos e os remédios convencionais, as ervas e até as superstições, curam;

Aprendi que, muitos alimentos, como o pato, o camarão e a carne de porco, são “reimosos”; (fazem mal)...

Mas, aprendi também, que, um simples abraço, dado por mim, em uma paciente desolada, tem um efeito muitas vezes mais calmante, do que anestesia...

Aprendi que meu sorriso na chegada, deixa meus pacientes tranquilos e mais desinibidos... 

Aprendi como médica na roça, que, não posso ser escrava do tempo, nem de certas convenções sociais, ou, profissionais.

Por isso, hoje, para mim, o tempo empregado para ajudar, é aquele que representa ouro; e não, o tempo que me assinale maior faturamento, ou, mais dados estatísticos de atendimentos...

Aprendi que, a simplicidade deles e seus totais despojamentos, tornaram-me, cada vez mais, cativa, no sentido de precisar melhor orientá-los; ainda que, transcenda ao “pão-nosso” do dia, dia, de consultar, de auscultar, de ouvir e de receitar...

Aprendi e até descobri, o quanto sou importante para eles, ao menos naquela oportunidade, em que, só contam comigo.
Portanto, se ao longo de meu indefinido apostolado, nestas “brenhas”, a ordem prioritária, tem vindo da minha própria formação cristã, procurando dar com um esforço inaudito, ao menos, a quem precisa, o melhor de mim, porque, como filhos de Deus, somos todos iguais, embora, com diferentes problemas, notadamente os de saúde, estou convencida de que, a minha obrigação maior, aqui, é tentar , se não curá-los, ao menos, amenizar suas dores do corpo e da miséria, certa das minhas enormes limitações; mas, sensibilizada, o suficiente, para descobrir em muitos olhos, independentes das idades cronológicas, aquele brilho interior com o nome de “esperança”! Aprendi com meu paciente Sr Antônio , que durante uma hemorragia digestiva alta, seus familiares no ápice de receio de perdê-lo queriam transferi-lo para a capital e ele mesmo debilitado, em um tom mais alto que todos disse; quem decide a minha vida é a Dra Debora, ali tive mais uma prova que a minha responsabilidade é enorme.

Aprendi, enfim, que, independente da cultura, da ciência, da tecnologia e própria sabedoria do ser humano, a humildade e a solidariedade, são essenciais para qualquer vida. 

Na verdade, nesta minha inusitada caminhada, perdas também sofri, é inegável! 

Com certeza, acabei me isolando, em parte.Longe dos cursos, das reuniões científicas, dos mestres, das juntas médicas, diante de um paciente mais comprometido e de difícil tratamento.Na vida, temos sempre que fazermos escolhas, e nas escolhas sempre haverá perdas e ganhos.

Assim, sem nenhuma ambição de glórias e de notoriedade, procuro, viver e exercer com dignidade e muito amora, meus espontâneos apostolados : como esposa, como mãe de família e como médica, residente e clinicando, no longínquo interior do Maranhão: sem ambições por glórias, mas, faturando no meu dia a dia, o ganho maior, representado pelo esforço de procurar fazer da melhor maneira como posso, minhas lições do dia a dia!...

Sou uma médica do interior (com muito orgulho) implorando para ser vista, ser ouvida, como muitos colegas, que abdicaram dos grandes centros para ajudar e resolver.

O que precisamos senhores administradores é que vivam o que vivemos, nos proporcione boas condições de trabalho e acima de tudo nos trate com respeito.

Afinal, “a vida é combate que os fracos abate, que os fortes, os bravos, só pode exaltar”. (Gonçalves Dias)

Debora de Melo Rocha da Costa

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