Fernando Mellis, do R7
Em
menos de 60 dias, dois nomes que há muitos anos sempre se destacaram na
política nacional sairão de cena: José e Roseana Sarney. Pai e filha se
aposentam da vida pública após o fim de seus mandatos como senador e
governadora, respectivamente. Na análise de especialistas, a “decadência
da família Sarney” se deu pela baixa chance de os dois saírem
vitoriosos nas eleições deste ano.
Na política desde
1990, Roseana Sarney (PMDB) decidiu, aos 61 anos, seguir os caminhos do
pai e não ocupar mais cargos públicos. O mandato dela no governo do
Maranhão termina no dia 31 de dezembro. O cientista político David
Fleischer avalia que dificilmente ela tentará alguma eleição no futuro.
— Ela foi minha
aluna na UnB [Universidade de Brasília] nos anos 70. Foi uma aluna muito
inteligente, fazia análises excelentes, tirava notas muito boas. Mas
ela tem alguns problemas de saúde que podem ser um fator para ela não
voltar à política ativa. Além disso, ela tem alguns netos para cuidar já
também. Cuidar de neto é uma grande atividade.
Existe a
possibilidade de que a governadora renuncie ao cargo, faltando três
semanas para concluir o mandato. Apesar da crise de segurança vivida
pelo Estado, não há motivos claros para essa atitude. O governo do
Maranhão nega que isso deva acontecer.
Para o cientista
político Rogério Schmitt, a saída antecipada do cargo representaria um
gesto de derrota, já que o candidato apoiado pela família nas eleições
deste ano, Lobão Filho (PMDB), perdeu para Flávio Dino (PCdoB), da
oposição.
— Se a renúncia
acontecer, é um sinal de que ela não tem um bom relacionamento com o seu
sucessor. Não quer, digamos, sair na foto “passando a faixa” para ele.
A família Sarney
foi a principal força política no Maranhão durante décadas. A segunda
geração (Roseana) sai sem deixar herdeiros. Um dos sinais de
enfraquecimento dessa “dinastia”, segundo Schmitt, foi a derrota dela
nas urnas em 2006, quando Jackson Lago foi eleito governador. Por uma
decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), em 2009, os mandatos de
Lago e do vice foram cassados por abuso de poder econômico durante a
campanha. Segunda colocada, Roseana assumiu.
O pai, José Sarney
(PMDB-AP), de 84 anos, já foi presidente da República, prefeito de São
Luís, governador do Maranhão e está no Senado há 40 anos. Além da idade
avançada, outro fator pesou no anúncio da aposentadoria dele, segundo Fleischer.
— No Amapá, todas
as sondagens e pesquisas mostravam que ele tinha zero chance de
reeleição. Então, eu acho que essa retirada da vida pública é em função
dessas chances quase nulas de alguma permanência na vida política
nacional.
Pai e filha já
protagonizaram escândalos. Como, por exemplo, em 2002, quando Roseana e o
marido não conseguiram explicar a origem de cerca de R$ 1,3 milhão da
empresa que eram sócios, a Lunus, que não haviam sido declarados. José
Sarney também foi personagem de destaque no caso dos Atos Secretos no
Senado. Descobriu-se que parentes eram funcionários da Casa, além de
outras irregularidades envolvendo verbas e contratações.
Na quarta-feira (3), o carro de Sarney foi cercado por manifestantes
que se concentravam em uma das entradas da Câmara dos Deputados. Para
Schmitt, o episódio “foi uma coincidência”. Qualquer parlamentar
governista conhecido que passasse por lá naquele momento poderia ser o
alvo, de acordo com ele.
A família mantém
ainda um membro na Câmara dos Deputados. Zequinha Sarney (PV-MA), filho
do senador, foi reeleito deputado federal, mas Fleischer diz que não
deve ser um grande nome na Casa.
— Eu não sei se ele
vai ser um personagem muito importante e influente na Câmara dos
Deputados em 2015, até porque ele nunca foi antes. A grande importância
dele foi como ministro do Meio Ambiente. Os ambientalistas adoraram a
gestão porque ele assinava tudo o que pediam. Então, virou queridinho
dos ambientalistas.
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