O governador do Maranhão afirma que o bolsonarismo não veio para ficar
no Brasil, é “chuva de verão”. Para Dino é preciso unir amplas forças em
torno de um programa mínimo para a disputa eleitoral de 2020.
Foto: Wanezza Soares |
Mesmo
citado como nome capaz superar os antagonismos e conflitos intestinos
no campo progressista, Flávio Dino desconversa e diz que ainda é cedo
para pensar em 2022. “Não tenho falado disso nem publicamente nem em
privado”, afirmou em entrevista à revista Carta Capital. Para ele é
preciso superar um claro problema da oposição: a dificuldade em
conquistar corações e mentes. A solução, segundo Dino, é ampliar as
alianças e criar novos consensos.
Leia a íntegra da entrevista:
CartaCapital: Por que o desgosto com Bolsonaro não ganhou as ruas?
Flávio Dino: Há
um ciclo de derrotas no campo progressista que é inédito. Ao menos para
mim. Eu tenho 51 anos, e desde que comecei a participar da vida
política, em 1983, houve mais vitórias do que derrotas. Esse sinal
histórico se inverteu de 2013 para cá. É um pouco o espírito do tempo. E
isso traz dificuldades. Há uma tendência da esquerda de achar que
perdemos sempre por nossos erros. Às vezes são acertos alheios. É
preciso entender que o outro campo também joga, também acerta. Eles
conseguiram, de fato, formar uma aliança mais ampla que a nossa. A
extrema-direita que hoje governa o País conseguiu, paradoxalmente, uma
aliança mais ampla que a nossa. Precisamos inverter isso em 2020.
Isoladamente, não se obtém vitórias eleitorais.
Acha que a esquerda conseguiu propor caminhos diferentes?
Tivemos
algumas iniciativas neste ano, eu destaco duas. O PT apresentou um
plano de empregos muito bom. Infelizmente, ele não foi adequadamente
debatido, difundido, divulgado. Mas é um plano de ótima qualidade.
Destaco também o projeto de reforma tributária justa, solidária e
sustentável que foi protocolado na Câmara com apoio dos governadores do
Nordeste.
Não é sintomático que a grande conquista da oposição tenha sido um acordo de “mal menor” no pacote anticrime?
Em
matéria de resistência, acho que tivemos mais êxitos do que se poderia
imaginar. Comparado com o cenário em janeiro, conseguimos evitar uma
série de danos expressivos no que se refere a direitos. O que acho mais
crítico é a mobilização social. Nós não conseguimos, ainda, garantir
mobilização suficiente inclusive para que a resistência e as propostas
sejam mais bem executadas.
O antipetismo vai definir as próximas eleições como em 2018?
Aquele
foi o ponto máximo desse ideário. O antipetismo seria por si só
redentor. E estamos vendo que não. Esse discurso perde força pelos
próprios resultados. Estamos indo para o quarto ano sem a esquerda no
poder. A escassez de resultados do campo político adversário ajuda a
racionalizar esse debate, compreender que todas as correntes políticas
erram e acertam, mas isso não pode sustentar essa satanização
ideológica.
A ascensão de Bolsonaro como líder afetivo do reacionarismo não embola o jogo?
Neste
momento, embola. Mas não é algo que se vá perpetuar. O Bolsonaro é uma
figura datada, temporária. E o bolsonarismo não é uma tendência que veio
para ficar no Brasil, é uma chuva de verão. Densa, mas vai passar logo,
porque cada vez fica mais claro que essa corrente política governa para
poucos, prioriza a violência e isola o Brasil no cenário
internacional.
Muita gente vê na sua eventual candidatura o antídoto ao antipetismo. O que acha dessa avaliação?
Antes
de qualquer debate sobre 2022, é preciso ter algumas premissas
fundamentais. Em primeiro lugar, que está muito longe. Em segundo, que é
preciso ter espírito de união e diálogo. E, em terceiro, muita
humildade e pé no chão. Sendo coerente com essas premissas, não tenho
tratado nem publicamente nem em privado desses assuntos. É preciso
esperar e ver o que vai acontecer com o País e o nosso campo político lá
para a frente. O fundamental é nos unirmos, termos aliança, amplitude,
humildade, capacidade de diálogo. Temos antes eleições municipais. Este é
o tema da hora.
Sobre 2020, o Datafolha mostrou que, no Rio, 60% dos eleitores não votariam em candidatos de Lula nem de Bolsonaro.
A
sociedade está muito estressada com anos e anos de conflito, e muito
esperançosa por um caminho que melhore sua vida. É isso que as pesquisas
têm mostrado. Não vejo esse automatismo. Que a rejeição a A e B
necessariamente fortalece C. E não descartaria essa polarização, ao
contrário. O antagonismo entre o bolsonarismo e o lulismo continua a ser
a força estruturante da política brasileira. Acredito que essa divisão
vai se manter. A disputa vai depender da capacidade de um polo ou de
outro de ampliar alianças. Quem crescer mais terá mais vitórias.
Essas alianças devem incluir o centro e a centro-direita?
Sim,
sem dúvidas. Basta olhar o exemplo da Argentina. Essa ampliação não
pode ser retórica, não pode ser uma coisa vazia. No caso do Maranhão, eu
venci as duas vezes em primeiro turno com uma aliança que, em 2018, foi
do PT ao DEM. A depender de cada cidade, uma aliança com o campo mais
ao centro não é ruim. Sempre foi positiva na história brasileira,
resultou em avanços. Eu defendo a ampliação. Não podemos abrir mão do
nosso programa, evidentemente. É preciso ter um programa básico, mínimo,
que sustente essas alianças. Sem perder a identidade, mas também sem
sectarizar. No nosso caso, os princípios fundamentais são: defesa da
democracia, do Brasil e dos mais pobres. Aqui, juntamos em torno desse
programa 16 partidos e estamos governando com todos. É possível, sim. E é
necessário fazer.
Não é preciso, antes, resolver os conflitos internos do campo progressista? Entre Ciro Gomes e o PT, por exemplo.
Ciro
e Lula representam duas forças políticas fundamentais ao Brasil. Isso
precisa ser superado. As eleições municipais são uma oportunidade para
fazer isso na prática. Para que a gente consiga, diminuindo esse fosso
que surgiu em 2018, um ambiente melhor até para que setores políticos
que não estão à esquerda possam se aproximar.
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