LEANDRO COLON E RUBENS VALENTE
FOLHA DE S. PAULO/DE BRASÍLIA
A gravação de
áudio do avião em que voava o ministro Teori Zavascki (Supremo Tribunal
Federal) indica, segundo peritos da Aeronáutica, que não houve relato de
problemas na aeronave antes da queda em Paraty.
Segundo a
Folha apurou, os registros da cabine do avião King Air teriam captado diálogos
do piloto Osmar Rodrigues com outros pilotos que voavam pela região.
Em uma
conversa, de acordo com informações obtidas pela reportagem, o piloto diz que
vai esperar a chuva diminuir antes de pousar. Pouco depois, a gravação teria
sido interrompida, segundo análises preliminares.
Na avaliação
de técnicos do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes
Aeronáuticos), o teor aponta, em caráter preliminar, que o piloto pode ter
perdido o controle da aeronave, levando-a ao choque com a água. O áudio não
explica exatamente o que ocorreu - a investigação depende também de outros
fatores para que a causa da queda seja esclarecida.
A Aeronáutica
confirmou na noite desta segunda (23) que os técnicos conseguiram acessar
material arquivado no gravador de voz da cabine do avião que se acidentou na
última quinta-feira (19), matando o ministro do STF Teori Zavascki.
O conteúdo da
gravação não foi divulgado –a Justiça Federal decretou sigilo sobre as
investigações.
O aparelho
sofreu danos pelo contato com a água do mar, mas eles não foram graves a ponto
de impedir o acesso aos dados. O equipamento grava os últimos 30 minutos de
conversa na cabine do avião.
Segundo a
Folha apurou, o registro de áudio foi feito durante todo este período.
O aparelho,
chamado de CVR, chegou a Brasília na manhã do último sábado (21) e está sob os
cuidados do Labdata (Laboratório de Análise e Leitura de Dados de Gravadores de
Voo), do Cenipa.
À tarde, a
Aeronáutica havia informado que os próximos passos do Labdata eram:
"secagem do aparelho, verificação da integridade dos dados, processo de
degravação dos dados e processo de transcrição".
Segundo a
Aeronáutica, o CVR possui "duas partes". "A primeira é o
gravador em si, que armazena os dados. Essa parte é altamente protegida. A
segunda é chamada 'base', que contém cabos e circuitos que fazem a ligação com
o armazenamento de dados. É essa segunda 'parte' que está molhada e precisa ser
recuperada", informou a nota.
O aeroporto
para o qual o avião se dirigia, na cidade de Paraty (RJ), não dispõe de torre
de controle. Se o gravador estava acionado durante o voo, em tese registrou
conversas na cabine e contatos do piloto com a torre de controle do Campo de
Marte, em São Paulo, de onde o avião partiu. A análise das supostas conversas
poderia dar pistas aos investigadores sobre as causas do acidente.
A investigação
do Cenipa é focada na identificação de causas da queda e possíveis
recomendações para redução de riscos e não tem prazo para acabar.
INQUÉRITO
O inquérito
tocado pela Polícia Federal sobre a queda do avião inclui investigações em
Sorocaba (SP), onde se localiza o hangar principal utilizado pelo avião King
Air que se acidentou, Paraty (RJ) e no aeroporto do Campo de Marte, em São Paulo,
onde foi apreendido equipamento de vídeo com imagens captadas sobre a chegada
do ministro do STF no dia do acidente.
Os policiais,
entre os quais um ex-piloto de avião comercial, são lotados na direção geral da
PF, em Brasília. O grupo básico é formado por seis investigadores, alguns dos
quais também trabalharam no inquérito que apurou a queda do jatinho que, em
2014, matou o então candidato à Presidência Eduardo Campos (PSB).
O objetivo do
inquérito sigiloso da PF é averiguar se alguma ação criminosa concorreu para a
queda do King Air.
Além das
investigações do Cenipa e da PF, a queda do King Air é apurada pela Polícia
Civil do Rio e pelo Ministério Público Federal.
A empresa
fabricante do King Air, a Textron Aviation Corporate, que controla a Beechcraft,
confirmou à Folha, por e-mail, que poderá auxiliar nas investigações no Brasil.
"A Textron Aviation trabalha em estreita colaboração com as autoridades
governamentais responsáveis pela investigação de acidentes e ofereceu
assistência investigativa às autoridades locais", informou a companhia.
Sobre detalhes do trabalho, a empresa afirmou que não faz comentários sobre
investigações em andamento.
Sediada em
Rhode Island (EUA), a Textrom fabrica aviões Beechcraft e Cessna e helicópteros
Bell, entre outros aparelhos.
O acidente que
matou Teori foi o segundo na região de Paraty envolvendo um King Air desde o
início de 2016. No dia 3 de janeiro do ano passado, um avião do mesmo modelo
pertencente à cadeia de supermercados Shibata também decolou do Campo de Marte,
a exemplo do caso do avião em que estava Teori, e se acidentou durante
procedimentos de descida no aeroporto de Paraty. As duas pessoas que estavam no
avião morreram.
O Cenipa ainda
não divulgou relatório sobre as causas do acidente de 2016.
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