07 dezembro, 2016

Crônica do Professor Luiz Carlos - A morte



Assisti recentemente, acredito que pela 10ª vez, o filme A cura (2005). O filme é sobre a história de Erik (Brad Renfro) que é alvo de preconceito por parte de seus colegas de escola. Motivo? Ser vizinho de um garoto com AIDS.  Apesar de todos os problemas oriundos dessa situação, ele acaba se aproximando de seu vizinho Dexter (Joseph Mazzello), que tem apenas 11 anos de idade, e contraiu AIDS através de uma transfusão de sangue. Com a amizade cada vez intensa, um dia, eles veem em uma revista que um médico de Nova Orleans descobriu a cura para esta doença tão difícil. E eles vão atrás do tal médico para ter o menino Dexter novamente saudável. A priori, o filme parece ser bobo. Dimensões da existência humana, como amizade, lealdade, proteção, sinceridade, sensibilidade são pontos fascinantes do filme.

            Este filme me fez chorar muito, principalmente com um sapato.

            Retornando para a realidade. A morte causa dor, perplexidade, desengano, revolta, aceitação, incerteza, reviravolta.

            A morte acrescenta algo de novo no limiar da existência humana? Talvez não acrescente nada!   A morte, por si só, é uma realidade cruel. Morrer parece ser ridículo.

Você finalmente conseguiu marcar a viagem tão desejada, combinou de almoçar com a esposa, o livro que levou anos para ficar pronto e agendou o lançamento, está fazendo o curso dos sonhos, foi nomeado recentemente e aguarda ansioso para receber o primeiro salário, uma agenda completa para a próxima semana, fazer aquela ligação amanhã, tomar o sorvete após o dia de trabalho, esperar o lançamento do filme predileto, lendo o livro que envolve do inicio ao fim  e, de repente, abruptamente, no crepúsculo de um dia chuvoso, morre. Como assim?  A caixa de e-mails ficou lotada, o livro envolvente ficou na melhor parte, a visita prometida naquela noite não seria realizado, o telefonema decisivo não seria mais ouvido, a inspiração para escrever uma nova poesia. Como assim? 

A ideia da morte soa como um absurdo.

Tantos anos dedicados aos estudos, caminhadas e exercícios físicos intensos, sacrifícios financeiros realizados em prol daquela viagem de turismo, madrugadas sem dormir para estudar e passar no concurso ou vestibular, exames de proficiência para o mestrado/doutorado, a data do noivado com a pessoa dos sonhos e tantas outras situações. 

Repentinamente, de uma hora pra outra, tudo isso termina numa colisão na rodovia, num infarto fulminante, num aneurisma, numa artéria entupida, numa bala perdida, num latrocínio irracional, numa metástase, numa doença misteriosa, numa depressão avalassadora.

Morrer. Continua provocando tantos arrepios e medos. Mas não seria apena um clichê?

Sair da festa da existência de fininho, sem nenhuma despedida, sem ter conquistado a garota dos sonhos, sem ouvir novamente a música preferida, sem reatar a antiga amizade, sem pedir aquele perdão exaustivamente ensaiado, sem dizer as palavras mágicas para quem tanto amou. Sem tantas outras coisas! Em casa, no varal, ainda está pendurada a camisa vermelha predileta. A toalha meio umedecida ainda está no encosto da cadeira na cozinha. Na escrivaninha da biblioteca está a lista de compromissos da semana, ainda rabiscado, incompleto. Nas gavetas alguns segredos que nunca serão revelados. Os outros ficarão com a incumbência de apagar as pegadas que você deixou durante uma vida que terminou. 

Parece ser hilário! Justamente com você, que sempre insistiu em afirmar: eu cuido das minhas coisas.

Talvez você não tenha tempo de tomar café, não concluirá a caminhada matinal, ou palavras não serão concluídas. O que dizer mais? Que você não bebe, não fuma que faz exercícios regularmente? A morte é a única certeza.


Realmente, a morte parece ser um grande absurdo!

Prof. MS. Luiz Carlos

NR: Temos o imenso prazer em ter o nobre Professor Luiz Carlos Rodrigues da Silva como colaborador no blog Barradocordanews!

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