Por Lígia Teixeira
Beira o ridículo a tentativa maldosa de setores da imprensa maranhense
de tentar distorcer o debate a respeito do atraso político, econômico e
social do estado. Por essas, é preciso rememorar sempre para repor a
justiça dos fatos.
Cobra-se
um projeto das oposições para o Maranhão como se estivesse subentendido
que o atual grupo político que domina o estado possuísse algum projeto
que não fosse a perpetuação no poder às custas de um Maranhão que amarga
as últimas posições em todos os indicadores sociais.
Toda
liderança política que se prese, deve organizar forças e ações para que
o estado retorne a condição democrática primordial na alternância do
poder. E não se trata da alternância pela alternância.
A questão é que o Maranhão não pode dar um passo adiante enquanto o estado sequer tem condições de praticar a alternância.
Para
início de conversa, todo o debate que não se proponha a superar o
modelo de centralização política operada pelo grupo Sarney, se perde em
cantilena que, na prática, serve apenas para fortalecer quem está no
poder.
É
evidente que a crítica ao modelo de se fazer oposição é válida. A
oposição maranhense guarda em si ainda muitos aspectos de lógicas de
organização semelhantes à política tradicional.
A
questão é que certos atores políticos, mais preocupados em barganhar
espaços para sobreviver, insuflam um falso debate sobre a existência da
dicotomia Sarney/anti-Sarney, com o objetivo de camuflar o único debate
que interessa ao estado: superar a lógica política que para se manter em
evidência, perpetua a miséria.
Quem
acompanha debate político no Maranhão, percebe com facilidade que a
crítica de Flávio Dino – maior expoente da oposição maranhense – não se
dá a partir de uma luta antípoda contra Sarney.
Trata-se
de uma crítica ao modo de fazer política que predomina no Maranhão, que
se transpõe ao Sarney, sendo entendida como uma herança da lógica
oligárquica e provinciana que domina o estado há mais de 100 anos, desde
que o oligarca Benedito Leite formalizou a dependência do Maranhão aos
interesses de um estrato menor da sociedade.
Nas eleições de 2012, Flávio Dino deu um exemplo prático do projeto que ele lidera rumo à superação de lógica oligárquica.
Dino
se recusou a operar dentro da lógica de lideranças municipais que com a
força das prefeituras e de siglas partidárias, manobravam a população
usando na prática a estratégia do cabresto. Lideranças ligadas a
oposição tentaram convencer Dino a operar pela mesma lógica do grupo
Sarney, apoiando indiscriminadamente candidatos pelo interior do estado.
Em
vez disso, o líder comunista preferiu apoiar alternativas e nomes que
fortalecessem um debate político capaz de oferecer à população propostas
e escolhas mais amplas sobre os rumos do estado, ainda que isso
significasse que nem todos os candidatos apoiados por ele sairiam
vitoriosos.
É
evidente que para ganhar a eleição em 2014, Flavio Dino precisa operar
dentro de lógicas que ainda estejam filiadas à tradição política do
Maranhão, até porque o movimento da história mostra que as
transformações democráticas (mudança de mentalidades) não são
construídas do nada, ou da noite para o dia.
Portanto,
o debate não pode ser reduzido à falsa percepção de uma dicotomia entre
dois grupos que lutam pelo poder, mas girar em torno da realidade que
assombra o cotidiano dos mais pobres e que eles sabem interpretar melhor
do que ninguém: o Maranhão é o estado mais atrasado do Brasil.
Não
precisa ser um analista político sofisticado para saber que a miséria
se perpetua porque não há alternância no poder e sim a perpetuação de um
grupo que para permanecer nele, condena gerações à humilhação.
Esse
é, portanto, o único debate que deve nos interessar no momento: todo e
qualquer projeto para o Maranhão só poderá ser colocado em prática após a
superação do grupo que perpetua o atraso.
Lígia Teixeira, historiadora, é titular da
coluna ‘Falando com Franqueza’, publicada no blog Marrapá aos domingos, e
escreve para o Jornal Pequeno às sextas-feiras.
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