10 março, 2013

Só há um projeto para o Maranhão; e os mais pobres sabem disso

Por Lígia Teixeira

Beira o ridículo a tentativa maldosa de setores da imprensa maranhense de tentar distorcer o debate a respeito do atraso político, econômico e social do estado. Por essas, é preciso rememorar sempre para repor a justiça dos fatos.

Cobra-se um projeto das oposições para o Maranhão como se estivesse subentendido que o atual grupo político que domina o estado possuísse algum projeto que não fosse a perpetuação no poder às custas de um Maranhão que amarga as últimas posições em todos os indicadores sociais.
Toda liderança política que se prese, deve organizar forças e ações para que o estado retorne a condição democrática primordial na alternância do poder. E não se trata da alternância pela alternância.

A questão é que o Maranhão não pode dar um passo adiante enquanto o estado sequer tem condições de praticar a alternância.

Para início de conversa, todo o debate que não se proponha a superar o modelo de centralização política operada pelo grupo Sarney, se perde em cantilena que, na prática, serve apenas para fortalecer quem está no poder.

É evidente que a crítica ao modelo de se fazer oposição é válida. A oposição maranhense guarda em si ainda muitos aspectos de lógicas de organização semelhantes à política tradicional.

A questão é que certos atores políticos, mais preocupados em barganhar espaços para sobreviver, insuflam um falso debate sobre a existência da dicotomia Sarney/anti-Sarney, com o objetivo de camuflar o único debate que interessa ao estado: superar a lógica política que para se manter em evidência, perpetua a miséria.

Quem acompanha debate político no Maranhão, percebe com facilidade que a crítica de Flávio Dino – maior expoente da oposição maranhense – não se dá a partir de uma luta antípoda contra Sarney.

Trata-se de uma crítica ao modo de fazer política que predomina no Maranhão, que se transpõe ao Sarney, sendo entendida como uma herança da lógica oligárquica e provinciana que domina o estado há mais de 100 anos, desde que o oligarca Benedito Leite formalizou a dependência do Maranhão aos interesses de um estrato menor da sociedade.

Nas eleições de 2012, Flávio Dino deu um exemplo prático do projeto que ele lidera rumo à superação de lógica oligárquica.

Dino se recusou a operar dentro da lógica de lideranças municipais que com a força das prefeituras e de siglas partidárias, manobravam a população usando na prática a estratégia do cabresto. Lideranças ligadas a oposição tentaram convencer Dino a operar pela mesma lógica do grupo Sarney, apoiando indiscriminadamente candidatos pelo interior do estado.

Em vez disso, o líder comunista preferiu apoiar alternativas e nomes que fortalecessem um debate político capaz de oferecer à população propostas e escolhas mais amplas sobre os rumos do estado, ainda que isso significasse que nem todos os candidatos apoiados por ele sairiam vitoriosos.
É evidente que para ganhar a eleição em 2014, Flavio Dino precisa operar dentro de lógicas que ainda estejam filiadas à tradição política do Maranhão, até porque o movimento da história mostra que as transformações democráticas (mudança de mentalidades) não são construídas do nada, ou da noite para o dia.

Portanto, o debate não pode ser reduzido à falsa percepção de uma dicotomia entre dois grupos que lutam pelo poder, mas girar em torno da realidade que assombra o cotidiano dos mais pobres e que eles sabem interpretar melhor do que ninguém: o Maranhão é o estado mais atrasado do Brasil.

Não precisa ser um analista político sofisticado para saber que a miséria se perpetua porque não há alternância no poder e sim a perpetuação de um grupo que para permanecer nele, condena gerações à humilhação.

Esse é, portanto, o único debate que deve nos interessar no momento: todo e qualquer projeto para o Maranhão só poderá ser colocado em prática após a superação do grupo que perpetua o atraso.

Lígia Teixeira, historiadora, é titular da coluna ‘Falando com Franqueza’, publicada no blog Marrapá aos domingos, e escreve para o Jornal Pequeno às sextas-feiras.

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