16 maio, 2011

A medicina fecha o cerco contra o AVC

Por Mônica Tarantino e Rachel Costa, da ISTOÉ:



Diogo Heidemann: AVC aos sete anos de idade

O menino Diogo Heidemann acordou no dia 18 de outubro de 2009 indisposto. Era domingo, dia de passeio, mas ele preferiu ficar em casa, localizada em Joinville, em Santa Catarina. Até então, para a mãe, a assistente de processamento de dados Inês, o problema do filho não passava de uma virose. Ela só se preocupou mesmo quando encontrou o garoto caído no chuveiro, minutos depois, com os braços e pernas paralisados e a boca torta. Desesperada e sem saber o que acontecia, correu com a criança para o hospital. O susto veio com o anúncio do neurologista: Diogo, então com 7 anos, acabara de sofrer um acidente vascular cerebral (AVC). “Para mim ele estava daquele jeito porque tinha batido com a cabeça no chão durante o banho”, conta Inês. “Eu não sabia que derrame acontecia também com criança.” Felizmente, o menino recebeu pronto atendimento. Três dias depois, já estava em casa, andando e falando normalmente.

Um caso como o de Diogo chama a atenção. Como é possível um garoto de 7 anos, saudável, ter sido vítima de um problema que, pelo senso comum, atinge somente os mais velhos? Dados recentes obtidos em todo o mundo demonstram que, infelizmente, esta ideia está ultrapassada. O AVC, conhecido popularmente como derrame, também começa a acometer populações mais jovens. Só no Brasil, em nove anos, apenas entre homens de 15 a 34 anos, foi registrado um aumento de 64% nas internações por causa do AVC. Entre as mulheres na mesma faixa etária, o crescimento foi de 41%.

O fenômeno intriga os especialistas. Acredita-se que parte do aumento no número de casos entre os mais jovens seja resultado de hábitos pouco saudáveis, que elevam o risco (sedentarismo e alto nível de colesterol total, por exemplo, são fatores de risco para o problema). Mas também se discute até que ponto os métodos mais eficazes de registro de casos disponíveis atualmente contribuem para a elevação oficial dos números.

Seja qual for o motivo, a constatação preocupa. A doença é a que mais mata em vários países – entre eles, o Brasil – e é a principal causa de incapacitação no mundo. Denominam-se AVC dois tipos de interrupção da irrigação sanguínea no cérebro: a causada por rompimento de um vaso (AVC hemorrágico) ou por seu bloqueio por um coágulo ou placa de gordura (AVC isquêmico). Em ambas as situações, os neurônios da região atingida morrem, resultando na perda da função correspondente à área. Se ocorrer na que controla a fala, por exemplo, o indivíduo pode até perder essa capacidade.

Tamanha gravidade está levando a medicina a fazer um esforço sem precedentes para barrar seu avanço. E tem obtido boas vitórias. As primeiras estão ocorrendo ainda na fase de prevenção e diagnóstico. Hoje se sabe muito mais sobre o que pode levar a um AVC. É consenso que as duas principais causas são a hipertensão arterial e o depósito de gordura nas artérias. “Esse é mais um motivo, entre tantos, para manter a pressão arterial e o colesterol nos níveis adequados e não fumar”, aconselha o renomado neurocirurgião Marcos Stavále, de São Paulo, autor do livro “Bases da Terapia Intensiva Neurológica”, lançado este mês. Também já é de conhecimento entre os médicos que outro fator importante são os aneurismas, bolsas de sangue que se formam na parede externa dos vasos sanguíneos e que rompem, causando hemorragia. Eles provocam um terço dos AVCs. Essa informação faz especialistas como Stavále defenderem a realização de pelo menos um exame de ressonância magnética do cérebro entre os 40 e 50 anos.

Ainda na área da prevenção, há avanços na esfera dos remédios. Recentemente, ganhou importância o uso do dabigatran, medicamento anticoagulante que pode substituir a varfarina (o mais usado) na prevenção em pacientes com fibrilação atrial – uma arritmia nos batimentos cardíacos responsável por muitos dos derrames mais graves. “Ele vai revolucionar a prevenção nesses casos”, considera a neurologista Sheila Martins, do Hospital das Clínicas de Porto Alegre. A principal vantagem é a simplificação no monitoramento do paciente, uma vez que o dabigatran dispensa a realização frequente de exames laboratoriais, coisa obrigatória no caso da varfarina. “Tenho pacientes usando e os resultados são bons”, diz o neurologista Robson Fantinato, do Hospital do Coração, em São Paulo.

Essas são medidas preventivas que podem ser tomadas hoje. E há opções em estudo para o futuro. Cientistas do Instituto Karolinska, na Suécia, por exemplo, descobriram um anticorpo que evita o depósito de gordura nos vasos sanguíneos. Portanto, quem fabrica a substância em abundância possui chances mais reduzidas de ter um AVC. Quem, ao contrário, tiver problemas na sua fabricação, apresenta risco mais elevado. Os pesquisadores criaram, então, um teste que mede a quantidade desses anticorpos no sangue. “Ele poderá ser usado para identificar os indivíduos que possuem mais riscos”, disse à ISTOÉ Johan Frostegard, líder do trabalho. Leia mais aqui

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