20 março, 2011

Coluna do Luiz Carlos: A COMPLEXA E TÊNUE RELAÇÃO ENTRE ADESISMO E OPÇÃO CONSCIENTE

Hodiernamente, prolifera a onda adesista. As pessoas aderem com extrema superficialidade e apressadamente a idéias, a sistemas políticos, a expressões culturais, a credos religiosos, a campanhas ufanistas, a slogans como, em tempo de copa do mundo, rumo ao hexa. São ingenuamente mimetistas. Absorvem os modelos ambientais, adaptam-se de forma alienada a padrões sociais. O adesismo leva as pessoas a ser o que os outros são a fazer como os outros fazem. O adesista volta-se para interesses rasteiros. Exercita o movimento de translação antropológico em torno de vantagens. Amanhece nas filas intermináveis que hipotecam apoio aos insaciáveis mercadores pós-modernos. O adesismo condiciona e tange a multidão como ovelhas ao matadouro.

A onda adesista é fomentada pela publicidade inteligente e radicalmente sedutora, patrocinada pelos que detêm o poder e a riqueza. Parâmetros e interesses dos setores dominantes são inoculados no inconsciente popular. E as pessoas incorporam e assumem comportamentos atitudinais como se fossem diákrisis de sua própria vontade. Observem o espírito ufanista presente na mídia, nas bandeiras, nas escolas e tantos outros serviços à população fechados por causa da copa do mundo. Na campanha pelo movimento em prol do Projeto Ficha Limpa não vimos tal ufanismo. O adesismo subordina o ser humano a interesses que lhe são estranhos. Aliena pessoas e dissemina sutilmente o espírito servilista. E, por incrível que pareça, vítimas instrumentalizadas chegam a agradecer a seus alienadores. E faz-se “voluntariamente” servo. É a “servidão voluntária” de que fala o livro de La Boétie Discurso da Servidão Voluntária.

Mas, se o adesismo desfigura o ser humano, a opção consciente confere-lhe dignidade e consistência. Provoca um surto antropogenético. Quem decide por alguém ou por alguma coisa move-se por razões fundamentadas. Optar é exercer a liberdade. Quem opta escolhe metas. Ao optar, o ser humano assume a sua condição de ser humano. Opção, então, é ação eminentemente responsável. Optar é o agir típico da personalidade autônoma. Quem opta tem a capacidade de concordar e discordar. Ao optar, o ser humano define-se e revela a grandiosidade da sua identidade. A opção emancipa o ser humano. Na opção, o ser humano determina-se a si mesmo, e por si mesmo. Na opção, o ser humano é pólo. A opção personaliza.

O adesismo é uma eficiente metodologia pós-moderna empregada para dominar pacificamente a sociedade. Sistemas políticos e econômicos, movimentos sociais e místicos utilizam meias-verdades e versões distorcidas para capturar pessoas e obter adesão complacente da população. Existe, sem dúvida, adesão consciente legítima. Assim, aderir à construção de uma sociedade justa e fraterna é salutar. Todavia, o adesismo acrítico ou vantagista pode provocar procedimentos nocivos à sociedade. Aderir a sociedades injustas é cumplicidade.

O ser humano faz-se e refaz-se por meio de opções refletidas e desfaz-se mediante adesões maciças. A opção cria ruptura benéfica no adesismo alienante. E, com isso, as vítimas aliciadas pelo sistema dominante rebelam-se e descativam-se. O futuro de uma nova humanidade não reside no adesismo repetitivo, mas na força da opção criadora e transformadora. O adesismo consolida e perpetua o mundo injusto que aí está. A opção audaciosa e inovadora poderá germinar outro mundo. Mundo onde a originalidade de cada ser humano seja respeitada, e não estereotipada.

Luiz Carlos Rodrigues da Silva. Filósofo e Historiador. Membro da Academia Barra-Cordense de Letra e da Arcádia Barra-Cordense.

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