O delegado Rogério Galloro, diretor-geral da Polícia Federal em Brasília. Foto: Walterson Rosa/Estadão |
Trecho da entrevista de Rogério Galloro, diretor da Polícia Federa, a Andreza Matais
Como foi o episódio da prisão do ex-presidente Lula?
Foi um dos piores dias da minha vida. Quando eles (interlocutores de
Lula) pediram detalhes da logística da prisão, nos convenceram de que
havia interesse do ex-presidente de se entregar ainda na sexta (6 de
abril, prazo dado pelo juiz Sérgio Moro). Acabou o dia e ele não se
apresentou. Nós não queríamos atrito, nenhuma falha.
Chegou o sábado, Moro exigiu que a gente cumprisse logo o mandado. A
missa (improvisada no sindicato) não acabava mais. Deu uma hora (da
tarde) e eles disseram: ‘Ele vai almoçar e se entregar’.
O sr. perdeu a paciência em algum momento?
No sábado, nós fizemos contato com uma empresa de um galpão ao lado,
lá tinha 30 homens do COT (Comando de Operações Táticas) prontos para
invadir. Ele (Lula) iria sair em sigilo pelo fundo quando alguém, lá do
sindicato, foi para a sacada e gritou para multidão do lado de fora, que
correu para impedir a saída. Foi um susto. A multidão começou a
cercá-lo e eu vi que ali poderia acontecer uma desgraça. Ele retornou.
Qual era o risco?
Quando tem multidão, você não tem controle. Aquele foi o pior
momento, porque eu percebi que não tinha outro jeito. A pressão
aumentando. Quando deu 17h30, eu liguei para o negociador e disse:
‘Acabou! Se ele não sair em meia hora nós vamos entrar’. E dei a ordem
para entrar. Às 18h, ele saiu.
Houve alguma exigência?
Eles pediram para não haver muita exposição, que não humilhasse o
ex-presidente, nós usamos tudo descaracterizado. Ele estava quieto o
tempo todo, bastante concentrado.
Por que o ex-presidente está na superintendência da PF?
Isso não nos agrada. Nunca tivemos preso condenado numa
superintendência. É uma situação excepcional. O juiz Moro me ligou,
pediu nosso apoio, ele sabe que não temos interesse nisso. Mas, em prol
do bom relacionamento, nós cedemos.
Recentemente, Lula mandou chamar dirigentes do PT para discutir,
dentro da superintendência, a eleição presidencial. É um tratamento
diferenciado?
Não somos nós que organizamos isso (as regras para visitas), mas o
juiz da Vara de Execuções Penais. O Lula está lá de visita, de favor.
Nas nossas novas superintendências não vão ter mais custódia. No Paraná,
não vamos mexer agora. Só depois da Lava Jato.
O sr. conversou com o ex-presidente na prisão?
Eu estive na superintendência, mas não fui vê-lo. É um simbolismo
muito ruim. O segundo momento tenso para a PF envolveu a ordem de soltar
Lula dada pelo desembargador Rogério Favreto e a contraordem de Moro e
dos desembargadores Gebran Neto e Thompson Flores, do TRF-4. Eu estava
no Park Shopping, em Brasília, dei uma mordida no sanduíche, toca o
telefone. Avisei para a minha mulher: ‘Acabou o passeio’.
Em algum momento a PF pensou em soltar o ex-presidente?
Diante das divergências, decidimos fazer a nossa interpretação.
Concluímos que iríamos cumprir a decisão do plantonista do TRF-4. Falei
para o ministro Raul Jungmann (Segurança Pública): ‘Ministro, nós vamos
soltar’. Em seguida, a (procuradora-geral da República) Raquel Dodge me
ligou e disse que estava protocolando no STJ (Superior Tribunal de
Justiça) contra a soltura
‘E agora?’ Depois foi o (presidente do TRF-4) Thompson (Flores) quem
nos ligou. ‘Eu estou determinando, não soltem’. O telefonema dele veio
antes de expirar uma hora. Valeu o telefonema.
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