16 maio, 2012

Adeus a Dona Isaura, a Rainha da Punga





Por Álvaro Braga


            Faleceu na terça-feira 15, por volta de 9h da manhã, de morte natural, em sua casa, a senhora Isaura Medeiros, nascida em junho de 1930 em Codó – MA, às vésperas de completar 80 anos.

            Isaura, como era conhecida, era uma daquelas figuras que se tornaram lenda ainda em vida. Chegou em Barra do Corda com seu filho em 1973 e logo despertou a atenção dos brincantes da Punga de Barra do Corda, fundada por Othon Mororó Milhomem, por idéia de Ranulfo.

            Este repórter em 2007 perguntou à ela se havia conhecido Mororó. Ela respondeu:
            “Brinquei e dancei para o Mororó, que era um pai pra mim e pra muita gente. Naquele tempo me convidaram para brincar a Punga e eu fui dançar na beira de um campo que tinha onde hoje é o Caic, com a Coqueirão, a Zabelona que era a rainha e o João da Irinéia”.
            Quis o destino que Isaura fosse chamada pelo Criador dois dias depois do último dia da Punga, o dia 13 de maio de 2012, que também comemorava a data da libertação dos negros escravizados no cativeiro no Brasil.
            Cativeiro este que Isaura passou a maior parte de sua existência, pois apesar de ser festejada como Rainha da Punga, a sua precária condição econômica e de saúde a levou a morar no lixão, no lugar Abacaxi ao redor da cidade, em meio aos urubus, em grotesca tapera que nem merece este nome por eram apenas alguns paus cobertos de papelão.
            A humilhante situação de Isaura, desconhecida por grande parte da população atingiu a sensibilidade de um jovem chamado Reinaldo Andrade, que se emocionou ao ver o seu local de morada. Ele disse: - Meu Deus ela não pode mais ficar nesse lugar!
            E a retirou de lá, alojando-a numa casinha humilde, mas digna, que ele conseguiu para ela no final da rua Projetada, na Vila Nair. Todos os dias o Reinaldo mandava a filha deixar o café da manhã e refeições para ela.
            Isaura deixa um filho e muitas saudades pelo seu jeito sempre alegre de brincar e dançar as umbigadas da Punga ao som dos tambores “roncadores” que se calaram em respeito à sua Rainha.

Trecho do poema Navio Negreiro, de Castro Alves, que dedicamos à Isaura:
 
"Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...
Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,
Como um íris no pélago profundo!
Mas é infâmia demais!...
Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares!"

Do TB

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